16 de abril de 2018

Filosofia e sociologia obrigatórias derrubam notas em matemática

Segundo pesquisa, exigência no ensino médio prejudica desempenho de alunos

Foto mostra um aluno em pé ensinando colega, sentado, em sala de aula do ensino médio em escola de Jaboatão dos Guararapes, em PE
Alunos do ensino médio fazem atividade em escola de Jaboatão dos Guararapes, em PE - Leo Caldas - 31.ago.2015/Folhapress
Érica Fraga
SÃO PAULO
A inclusão de filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias no ensino médio em 2009 prejudicou a aprendizagem de matemática dos jovens brasileiros, principalmente os de baixa renda. A conclusão é dos pesquisadores Thais Waideman Niquito e Adolfo Sachsida, em estudo inédito que será publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Segundo eles, a mudança levou as notas de jovens residentes em municípios com muito baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que engloba aspectos de renda, escolaridade e saúde, a cair 11,8%, 8,8% e 7,7% em redação, matemática e linguagens (que inclui português, língua estrangeira e outras), respectivamente.
Esses declínios foram verificados nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2012, três anos após a aprovação de lei que estabeleceu que filosofia e sociologia deveriam ser ensinadas ao longo de todo o ensino médio obrigatoriamente. 
Desde 2006, a legislação previa a inclusão das duas disciplinas no currículo, mas não necessariamente nos três anos do ciclo.
Foram avaliados os resultados de jovens de 16 a 25 anos em vários recortes e cruzamentos de dados, como renda, porte do município, região e tipo de escola.
Os pesquisadores analisaram as notas de dois grupos de participantes do Enem de 2012: os que concluíram o ensino médio a partir de 2009 —e portanto foram afetados pela nova lei— e os que haviam se formado três anos antes do início da obrigatoriedade de inclusão das duas disciplinas.

TENDÊNCIA

Os dados do Enem de 2009, tanto dos que se formaram nos três anos imediatamente anteriores quanto daqueles que haviam terminado a escola há mais tempo, também foram considerados.
O objetivo era identificar se havia uma tendência de desempenho dependendo da distância entre a data da conclusão do ensino médio e da realização do exame. Os resultados indicaram que havia, de fato, um padrão que se alterou após a nova lei.
A mudança não gerou apenas efeitos negativos. Em alguns casos, as notas de português e ciências humanas, por exemplo, melhoraram. Houve também situações em que a medida não afetou, nem para melhor nem para pior, a aprendizagem nas demais disciplinas. Mas chamou a atenção dos pesquisadores o fato de que, na maioria dos cenários avaliados, o desempenho em matemática caiu.
No país como um todo, independentemente do tipo de escola e do nível de renda, as notas em ciências exatas tiveram queda de 1,1%. Entre os jovens residentes em municípios com IDH muito alto, a piora foi de 0,9%.
Embora em menor frequência do que em matemática, as notas também tenderam a piorar em redação, principalmente entre os jovens de baixa renda.
“Os resultados preocupam porque o nível de capital humano no Brasil é baixo. Não podemos nos dar ao luxo de piorar o que já é ruim”, diz Niquito, pesquisadora visitante do Ipea e professora da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina).
A hipótese levantada pelos pesquisadores é que, dada a limitação de carga horária do ensino médio, a inserção obrigatória de qualquer nova disciplina “se reflete em redução no espaço dedicado ao ensino das demais”.

REFORÇO

Niquito acredita que, em áreas como português e história, a redução de carga horária pode ter sido compensada pelo reforço de habilidades como capacidade de interpretar textos em consequência da inclusão de novas disciplinas de humanas.
“A pergunta é até que ponto esse ganho justifica sacrificar disciplinas como matemática?”, diz a pesquisadora. Sachsida conta que a grande carga de tarefas escolares de suas filhas foi um incentivo para que ele quisesse pesquisar o tema. 
“São muitas disciplinas. A impressão é que o que não dá tempo de ver em sala de aula vem como tarefa para casa”, diz. “Mas e aquela criança que não tem pai e mãe para estudar com ela em casa?”
A maior limitação desse tipo de apoio entre famílias de baixa renda ajudaria a explicar, segundo os autores, por que as crianças menos favorecidas foram as mais afetadas pela alteração.
Para melhor aferir o impacto da mudança, os pesquisadores também exploraram o fato de que a adoção de filosofia e sociologia em todas as séries do ensino médio tem ocorrido de forma gradual.
Eles compararam os resultados no Enem das escolas de acordo com o ritmo de inclusão das duas disciplinas em seus currículos. Entre 2010 e 2015, o percentual de escolas que ofereciam filosofia e sociologia em todas as turmas passou de 49% para 79%.

DISCIPLINA

Com a reforma do ensino médio, a tendência de aumento da cobertura de filosofia e sociologia no ensino médio poderá mudar. Por outro lado, as duas disciplinas —e outras, como artes e educação física— não devem ser abolidas da parte do currículo que será comum aos estudantes desse ciclo.
Isso foi abordado nas discussões iniciais sobre a reforma, que foi aprovada em 2017 e aguarda a aprovação de uma base curricular para entrar em vigor.
No entanto, o projeto enviado recentemente pelo governo ao CNE (Conselho Nacional de Educação) as manteve na parte do currículo, equivalente a 60% do tempo total, comum a todos.
Sociologia e filosofia, por exemplo, permanecem no núcleo obrigatório de humanas, embora não necessariamente em todos os anos, já que os 40% restantes do ensino médio serão destinados a escolhas individuais de formação —humanas, saúde, exatas ou profissionalizante.
“A reforma vai na direção correta ao permitir que os currículos sejam calibrados de acordo com a área em que o aluno quer se aprofundar”, opina Ana Inoue, assessora de educação do Itaú BBA.
Ela diz que, embora não possa afirmar que a inclusão de sociologia e filosofia tenha prejudicado a aprendizagem em outras disciplinas, torná-las obrigatórias nos três anos foi um equívoco.
A expectativa é que a base curricular comum do ensino médio —que será elaborada neste ano— ajude a sanar esse problema.
Para Thais Waideman Niquito, uma das autoras da pesquisa do Ipea, apesar da importância da reforma e da base, a adoção dos currículos em cada região deve levar em conta especificidades de diferentes grupos, segundo as condições de vida: “Nossa pesquisa mostra que não se pode pensar política educacional de forma centralizada. O contexto do aluno deve ser considerado”.

12 de abril de 2018

Letting Students Re-Take Tests: A Classroom Dilemma Over Goals for Schools*


by larrycuban
Why do U.S. voters, with and without children, tax themselves to provide public schools and compel children and youth to attend for a decade or more?
Although reasons have changed over time, Americans  consistently wanted schools to prepare students for the demands of being a participating citizen in the community, entering the workplace with skills and knowledge, and exhibiting the character traits that family and neighbors value highly. Sure, there are other goals that have risen and fallen in ranking but these three sum up public aspirations over the past two centuries of schooling. Preparation for the workplace--and its proxy doing well on standardized tests here and abroad--has dominated public debate as the highest priority for schooling (this week is the 35th anniversary of A Nation at Risk report).
What is often overlooked in debates over goals is that it is the classroom teacher who has the job of translating abstract goals into daily lessons. And that journey from desired goals to adopted policies to classroom practice too often goes unnoticed. Especially when teachers have to wrestle with those goals and policies in setting classroom rules for their students.
Consider the simple decision of whether a teacher should permit (or not) students to re-take a test if the student does poorly. Actually, it ain't simple. It is a dilemma.
One horn of that dilemma is that teachers prize the value of students taking the test seriously and preparing for it because deadlines and tests are common in the adult world. Schools and teachers are expected to prepare students for the "real" world.
The other horn of the dilemma is that teachers prize mastery of content and skills and caring. Teachers know that students vary in their ability to grasp knowledge and perform skills. They also know that time is the variable and re-taking quizzes and tests--call it "formative assessment"--gives students opportunities to demonstrate mastery. Then there is the value of compassion for students who are not yet adults. They need more time to master the content and skills and should not be penalized for a low test score. Thus re-taking the test recognizes that everyone can have a bad day or freeze on an exam. Sympathy for a child or teenager when a teacher remembers what it is like to be young expresses caring and respect, yet even another value embedded in teacher decisions aimed at student learning.
These prized values come into play in this classroom dilemma over the question a teacher asks of herself: Should I permit students who have low or failing grades on a test re-take the same or a similar test to raise their grades? It is a dilemma that goes straight back to which goals of schooling are most important in this particular classroom decision.
Consider what middle school teacher Baptiste Delvalle does with his students:
Here’s how I explain it to my students. If you’re asked to meet a deadline in a future job, and you’re late or have poor-quality work, you might get fired. If you’re in a relationship and don’t show up to the dates, you might get dumped. If you cross the road without looking, and a car comes zooming by, you don’t get a second chance. I prefer that they get a bad grade and learn to give it their best shot on the first try, rather than to hear years from now that they’re still struggling.
Delvalle is persuasive in casting a classroom test as an object lesson in succeeding as an adult where second chances in life are rare. It is an argument for being responsible for your actions the first time, not later.
Lisa Westman, a veteran of 15 years in classrooms, sees it differently.
In addition to the daily assessments we give them now, students will take many tests over the course of their lives, such as a driver’s exam, the SAT, the LSAT, and the MCAT, to name a few. All of these examples allow retakes. The way school prepares students for real life is by ensuring they learn the content and skills necessary to live a full, productive life. Part of real life is determining next steps when life doesn’t go as planned.
Westman argues for permitting re-taking tests as a way for students to achieve mastery of content and skills since most formal written, oral, or real-life tests in life can be re-taken until they are passed.
Lurking in the background of this back-and-forth on the worth of students being permitted to re-take tests are the workplace conditions inherent to the age-graded school that heavily influence teacher decision-making such as having 25-35 students in a class, covering so much content and skills every week, and scanning homework assignments daily--what some writers call "the grammar of schooling." Making time to create different tests for those students and squeezing in students before, during, and after school to re-take tests spends scarce teacher time to plan lessons, listen to students, and actually teach.
While neither teacher makes distinctions between quizzes and tests that show students what they still need to master--"formative assessments" and final exams that make a difference in a grade student receives on a report card--"summative assessments," they express the conflicting values embedded in translating lofty goals for schooling into classroom lessons.
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I thank Joanne Jacobs for a post on this subject that got me to think and write about this issue.



larrycuban | April 12, 2018 at 1:00 am | Categories: dilemmas of teachinghow teachers teach | URL: https://wp.me/pBm7c-6UD
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