18 de dezembro de 2017

Com recessão, número de jovens "nem-nem" volta a crescer

17 de dezembro de 2017
Para Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do Todos Pela educação, a política educacional atual do País afasta os jovens da escola, principalmente no Ensino Médio. A escola não prepara nem para a Educação Superior nem para o mercado de trabalho

Fonte: O Globo (RJ)


DAIANE.COSTA@OGLOBO.COM.BR
Na faixa etária de 16 a 29 anos, 25,8% não estudam nem trabalham O desemprego causado pela recessão fez o percentual de jovens entre 16 e 29 anos que não estuda nem exerce qualquer atividade remunerada, os chamados “nem-nem”, aumentar de 22,7% em 2014, quando eram 10,2 milhões, para 25,8% no ano passado (11,7 milhões), do total da população nessa faixa etária. Esse é o primeiro aumento depois de três anos de estabilidade nesse grupo, de acordo com os dados divulgados ontem pelo IBGE, por meio da Síntese de Indicadores Sociais.
— São jovens que têm um teto no projeto de vida, pois, com baixa escolarização, não conseguem se colocar na sociedade e, quando ingressam no mercado, acabam em subempregos — avalia Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à educação.
Segundo Luanda Botelho, analista da coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, o crescimento desse grupo entre 2014 e 2016 é resultado do aumento da desocupação de jovens dessa idade, pois não houve diminuição da frequência escolar. No ano passado, 6,4 milhões do total de 11,6 milhões de trabalhadores desempregados no país tinham entre 16 e 29 anos. Com isso, a taxa de desemprego dessa faixa etária foi a mais elevada entre as demais: ficou em 21,1%. Dois anos antes, estava em 12,8%. 45% SEM educação BÁSICA O aumento dos “nem-nem” foi generalizado pelo país. Jovens entre 18 e 24 anos com menor nível de instrução, pretos ou pardos e mulheres são mais comuns nesse grupo.
Para especialistas, não basta a economia voltar a crescer com força e o mercado de trabalho reagir para reverter esse quadro. Eles acreditam que os “nemnem” refletem, sobretudo, a falta de políticas públicas voltadas à formação global dos jovens dessa faixa etária e um Ensino médio de baixa qualidade.
Gabriel Corrêa, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela educação, diz que a política educacional atual do país afasta os jovens da escola:
— Principalmente no Ensino médio, a escola não prepara nem para o Ensino superior nem para o mercado de trabalho. Então, o jovem não vê sentido em continuar estudando e vai fazer outra coisa da vida. A qualidade do Ensino é muito importante para mantê-lo na escola.
Apesar de mais da metade (6,8 milhões) dos “nem-nem” ter entre 18 e 24 anos, ou seja, idade para ter concluído o Ensino médio, 45% ou 5,3 milhões não tinham completado a educação básica (que engloba os Ensinos infantil, fundamental e médio) em 2016.
Morador de Teresina (PI), Fernando Correia da Silva, de 18 anos, abandonou a escola pública, onde cursava o 1º ano do Ensino médio, por causa de uma confusão com um colega que o ameaçou de morte com uma faca, em fevereiro deste ano:
— Eu não posso estudar e só consigo trabalhar quando consigo um bico de servente de pedreiro. Minha família cobra que eu trabalhe para ajudar com as contas de casa.
Para Ana Cherubina Scofano, mentora de carreiras e professora da FGV-Rio, o depoimento do jovem piauiense é um reflexo fiel de uma dura realidade:
— Quando falamos de jovens fora da escola e sem trabalho, a maior parte é de baixa renda e tem quase nenhum incentivo dos pais para progredir nos estudos e focar na carreira. Para completar, as escolas não são mais um ambiente seguro. Vivemos uma crise educacional muito grande.
MULHERES SÃO MAIORIA
Enquanto 19% dos homens (4,3 milhões) de 16 a 29 anos não estavam ocupados nem estudavam em 2016, entre as mulheres essa proporção era de 32,7% (7,4 milhões). Apesar da incidência maior de “nem-nem” entre elas, diferentemente deles, elas trabalham, só que em atividades não remuneradas.
Entre as mulheres de 16 a 29 anos que não estudavam nem estavam ocupadas, 92,1% responderam ao IBGE realizar tarefas domésticas e cuidados a moradores do domicílio ou parentes. Quando questionados sobre a principal justificativa para não terem tomado providência para conseguir um emprego, 34,6% das mulheres responderam “ter que cuidar dos afazeres domésticos, do filho ou de outro parente”, enquanto apenas 1,4% dos homens apontaram tal motivo como sendo o principal por não terem procurado ocupação.

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