7 de dezembro de 2017

Brasil tem maior número de mortes violentas no mundo, diz entidade




Mais de 12% dos mortos do planeta estão no País, que também tem 

terceiro maior número de assassinatos de mulheres 






Jamil Chade, O Estado de S.Paulo
07 Dezembro 2017 | 09h45
GENEBRA - O Brasil tem o maior número de mortes violentas registradas no mundo. O alerta faz parte de um novo informe publicado nesta quinta-feira pela
entidade Small Arms Survey, considerada como referência mundial para
a questão de violência armada. Em termos absolutos, a entidade aponta
que a situação no Brasil supera a violência na Índia, Síria, Nigéria e
Venezuela. 

Brasil tem maior número de mortes violentas no mundo, diz entidade
Hoje, mais de 20% dos homicídios são cometidos com essas armas.  Foto: REUTERS/Ralph D. Freso
Gergely Hideg, autor do estudo, indica que seus cálculos chegaram a
conclusão de que 70,2 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas no
Brasil em 2016. "O número é superior ao que as autoridades afirmam",
disse o pesquisador, cuja instituição é financiada pelo governo da Suíça e
seus dados usados como base em programas da ONU. Segundo ele, o
número inclui as estatísticas oficiais de homicídios, mas também as
mortes violentas não intencionais e mortes em intervenções legais. 
O tamanho da população certamente tem um impacto nesses números.
 Mas, por si, só não explica a dimensão da violência. De uma forma geral,
Hideg aponta para três fatores que estariam levando ao cenário de mortes: a falta do estado de direito para uma parcela da população, a cultura da violência e
 o crime organizado. 
Em termos de homicídios, o estudo aponta para 58 mil mortes no Brasil
em 2015. Não há dados disponíveis sobre 2016. "Em cidades como o Rio
de Janeiro, a violência de gangues, o uso excessivo de força pelo estado,
um sistema de Justiça criminal corrupto, a militarização de certas áreas e
o acúmulo social de violência - onde violência gera mais violência - é o
que marca as taxas extremamente elevadas de homicídios", diz o estudo. 
"Traficantes de drogas, grupos de extermínio e milícias que promovem a
extorsão de residentes de áreas inseguras, junto com a polícia e outros
funcionários públicos que oferecem proteção a esses grupos, são centrais
para a maioria dos crimes violentos que ocorrem no Rio", constata. 
Com armas de fogo, a violência aumentou no Brasil entre 2015 e 2016.
Hoje, mais de 20% dos homicídios são cometidos com essas armas. 
Outra constatação do levantamento é de que o Brasil tem o terceiro maior número de mortes de mulheres no mundo. De acordo com o estudo, 84% das vítimas de mortes violentas são homens no planeta.  Mas meninas e mulheres somaram
ainda assim 87 mil mortes.  
Em termos absolutos, foram 10,7 mil mortes de mulheres na Índia, 6,4
mil na Nigéria, 5,7 mil no Brasil e 4,4 mil no Paquistão. 

Média

A entidade estima que, em 2016, 560 mil pessoas foram mortas pelo
mundo de forma violenta. Isso representa um assassinato a cada minuto.
Sozinho, porém, o Brasil representa mais de 12% dessas vítimas. 
A taxa de 7,5 por cada 100 mil habitantes no mundo é um pouco mais
baixa que os registros de 2014 e 2015. Mas, desse total, 385 mil foram
homicídios intencionais, número que registrou a primeira alta desde
 2004. Entre 2015 e 2016, a taxa subiu de 5,11 homicídios para cada 100
mil habitantes para 5,15. 
O informe também constata que a maioria das mortes violentas não
ocorre em países em guerra. Em 2016, mortes resultantes de conflitos
representaram apenas 18% do total de mortes violentas no mundo.
Dos 23 países mais perigosos do mundo, apenas nove sofrem com
guerras. 
Em campos de batalha, o número de mortes foi de 99 mil em 2016, abaixo dos 119 mil em 2015.
Se o Brasil lidera o ranking mundial em termos absolutos, é a Síria que
tem o maior número de mortes por habitantes. Ela é seguida por
 El Salvador, Venezuela, Honduras e Afeganistão. 
Nesse caso, a taxa no Brasil subiu entre 2015 para 2016. Ela era de cerca
 de 26 para cada 100 mil pessoas e passou para cerca de 30. Por esse
critério, o País é o 16o mais violento do mundo, ainda assim superando
países como Guatemala, Colômbia e República Centro Africana. 
Se essa realidade não mudar, a entidade estima que, até 2030, 610 mil pessoas serão alvos de mortes violentas no mundo a cada ano. 
O estudo ainda estima que 1,35 milhão de vidas poderiam ser salvas até
2030 se governos reconhecessem a dimensão do problema. Só em
termos de homicídios. 825 mil deles poderiam ser evitados com medidas
de controle e prevenção. A América Latina seria a região do mundo que
 mais se beneficiaria de uma mudança do comportamento de governos,
com 489 mil vidas salvas até 2030. 

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