23 de novembro de 2017

Harvard é investigada por preterir asiáticos em favor de negros e latinos


O Departamento de Justiça dos EUA investiga a Universidade Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo, por preterir estudantes de origem asiática em sua seleção em favor de negros e latinos.
Em ofícios enviados à universidade nesta semana e revelados pelo "Wall Street Journal", o órgão cita a Lei dos Direitos Civis, que proíbe "discriminação com base em raça, cor e origem em programas e atividades que recebam financiamento federal", e pede os documentos de seleção.
Jessica Rinaldi - 16.nov.2012/Reuters
Camisetas da Universidade Harvard são vendidas em seu campus em Cambridge, na região de Boston
Camisetas da Universidade Harvard são vendidas em seu campus em Cambridge, na região de Boston
Hoje, quase 40 mil estudantes disputam a cada semestre uma vaga na universidade, que seleciona 2.000.
Na turma mais recente, metade dos alunos escolhidos era branca, e a outra metade, formada por asiáticos (22%), negros (14%), latinos (11%) e indígenas (1,9%).
Mas, segundo uma associação de estudantes, o total de alunos de origem asiática seria maior se não fossem práticas de equilíbrio racial adotadas por Harvard.
A Students for Fair Admissions (SFA, estudantes pela admissão justa) já moveu ações judiciais contra três universidades, alegando que estudantes asiáticos com excepcional desempenho acadêmico estão sendo preteridos por causa de sua etnia.
É sobre esses casos que o Departamento de Justiça se debruça desde agosto.
No caso de Harvard, o total de concorrentes asiáticos teria dobrado nos últimos 20 anos, mas o percentual selecionado se manteve igual.
A universidade não confirma essa informação. Estatísticas mostram que tanto o percentual de estudantes asiáticos quanto o de negros e latinos aumentaram no período, embora em proporções diferentes. Vinte anos atrás, 16% dos alunos de Harvard eram de origem asiática, 9% eram negros, 8,5% eram latinos e 0,8% eram indígenas.
DIVERSIDADE
A lei americana hoje veta cotas raciais. Mas algumas instituições adotam ações afirmativas: Harvard, por exemplo, já disse que está comprometida em formar "turmas diversificadas" e que seus estudantes precisam ter a capacidade de "trabalhar com pessoas de diferentes formações, experiências de vida e perspectivas".
"Já basta. As universidades americanas devem julgar os alunos com base em seu caráter e conteúdo, e não pela cor de sua pele", diz Edward Blum, presidente da SFA.
Segundo ele, Harvard passou a adotar a seleção "holística" de estudantes, com critérios que vão além do desempenho acadêmico, na década de 1920, quando o número de estudantes judeus estava em ascensão. Para Blum, o processo aplicado hoje, que limita a entrada de asiáticos, segue os mesmos princípios.
A Universidade Harvard afirma que seu processo de seleção é "coerente com as normas legais estabelecidas pela Suprema Corte" e nega haver discriminação.
Outras organizações alegam que a investigação aberta pelo governo de Donald Trump é um ataque a políticas afirmativas. "[Dizer que isso prejudica asiáticos] é uma mentira absoluta", disse a advogada Kristen Clarke, do Comitê de Advogados pelos Direitos Civis. Para ela, os dados não demonstram discriminação, e esse tipo de seleção permite construir um ambiente acadêmico diversificado, que "prepara os alunos como cidadãos globais".
Não se sabe se outras universidades estão sob investigação. Oficialmente, o Departamento de Justiça informou à Folha que não comenta investigações em andamento, mas que "encara com seriedade qualquer potencial violação aos direitos civis e constitucionais do indivíduo".
Em nota, Harvard afirma que está disposta a colaborar com a investigação, mas que tem a "obrigação de proteger a confidencialidade" de seus estudantes e, por isso, vem buscando "a melhor forma" de fornecer os documentos. 

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