30 de setembro de 2017

Gestão escolar democrática ainda é desafio na rede pública brasileira


Bruna, 12, é uma das alunas mais ativas na tarefa de arrecadar livros para a escola municipal Hélio Walter Bevilacqua, onde estuda, em São José dos Campos, interior paulista. As novas aquisições comemoram a volta da antiga sala de leitura, que havia sido extinta para dar lugar a uma classe. A retomada do espaço aconteceu após a reclamação dos alunos, apoiada pelos pais, que foi ouvida pela coordenação.
"Foi uma decisão do conselho participativo de classe, que acontece bimestralmente. Todos os alunos falaram da importância do espaço para eles e, coletivamente, conseguimos reativar a sala", diz Vanessa Gabriela Fernandes, diretora da escola com 640 alunos do 1° ao 9° anos.
"Gosto de participar", diz Bruna, aluna desde a inauguração da escola, há quatro anos, e integrante do grêmio. "A gente incentiva. Se todos os pais colaborarem, a educação dos nossos filhos irá longe", diz a mãe dela, Marisa Menegati, 42.
Herman Tacasey
Projeções de analistas para cenários em 2016 com Dilma ou Temer no Poder
Esse envolvimento não é tão comum nas escolas públicas do país. "A gestão escolar democrática está na lei, mas acontece muito pouco. A relação com famílias, estudantes e comunidade em geral, ainda é burocrática", avalia Natacha Costa, diretora do Cidade Escola Aprendiz.
Fundada há 20 anos a partir de uma experiência com estudantes em atividades fora da sala de aula, a organização criou a metodologia "bairro-escola", que aproxima instituições de ensino e comunidade. "Para garantir um processo de aprendizado com resultados, é preciso reconhecer com clareza quem é seu estudante", diz Costa.
É o que os funcionários do Centro de Educação Infantil Maria Menezes Cristino, em Sobral, Ceará, tentam desde a abertura da escola, há um ano. Em reconhecimento à dificuldade dos pais, o centro abre os portões mais cedo do que o estipulado pela rede municipal para receber seus 315 alunos. "Foi uma decisão tomada com os pais para facilitar a vida deles com horários de trabalho, os funcionários concordaram", relata Andreia Ferreira, diretora.
Os pais passaram a frequentar a escola não só para discutir o desempenho dos filhos: fazem aulas de dança e artesanato oferecidas lá. "A gestão, para ser bem-sucedida, precisa de vínculo com a comunidade", diz Ferreira.
Estabelecer essa conexão é uma das tarefas mais difíceis do sistema escolar, analisa Elie Guimarães Ghanem Junior, professor e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo). "Um dos maiores desafios é tornar o sistema escolar compatível com as necessidades da população."
Hierarquia e burocracia são apontados como inibidores da participação comunitária. "Só a integração ajuda a escola a elaborar projetos educacionais que considerem a comunidade", diz Ghanem.
RESPEITO À CULTURA
Um exemplo bem-sucedido de gestão democrática vem do Alto Rio Negro, cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Comunidades indígenas conseguiram construir em conjunto com escolas municipais um projeto pedagógico. "Ele partiu da demanda da própria comunidade. Os professores passaram a ser implementadores de ideias decididas coletivamente", explica André Baniwa, liderança local.
São mais de 60 colégios municipais pensados segundo esse modelo, discutido todo ano por membros da comunidade. "A escola é um espaço neutro, que possibilita que a gente experimente coisas novas dentro das nossas comunidades, respeitando nossa cultura e ajudando no desenvolvimento de todos", relata André Baniwa.
-
3 das 100 melhores escolas do Enem no país são públicas
77 dos 100 melhores colégios públicos, nos primeiros anos do fundamental, são do Ceará 

Nenhum comentário:

Postar um comentário