30 de setembro de 2017

Com aumento de pedidos de brasileiros, Portugal atrasa vistos


Patrícia de Melo Moreira/AFP
Estudantes em comemoração na Universidade de Évora
Estudantes em comemoração na Universidade de Évora
A quantidade de brasileiros querendo estudar em Portugal disparou em 2017, e os serviços consulares já têm dificuldade para dar conta dos pedidos de visto.
Estudantes relatam espera de mais de dois meses para a obtenção dos documentos, o que fez com que muitos deles perdessem as primeiras semanas de aulas do ano letivo português, que começa em setembro. Em alguns casos, o problema persiste até agora.
Yohana Pereira Ramos, 22, passou por isso. Estudante de administração em Curitiba, optou por um intercâmbio no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, no norte de Portugal. Seu visto levou 60 dias para ficar pronto, e ela acabou não podendo assistir às três primeiras semanas de aula.
"Acho que perdi bastante, pelo que os professores falaram. Um menino da minha sala vai tirar cópia das matérias e me passar", lamenta.
No Consulado-Geral de Portugal em São Paulo, a quantidade de pedidos de vistos feitos por estudantes bateu todos os recordes em 2017.
Até 25 de agosto, foram cerca de 4.100 solicitações, mais do que o total de 2016.
O consulado ainda não disponibilizou o comparativo atualizado com os anos anteriores, mas os números registrados até maio já davam a dimensão do crescimento.
Apenas no consulado paulista, nos primeiros cinco meses de 2017, o volume de pedidos para estudos de até um ano foi 148% maior do que no mesmo período de 2016.
Em comunicado oficial, o consulado reconhece a demora, mas diz estar trabalhando com as universidades para dar celeridade aos casos.
"Por conta do número extraordinário de pedidos e do fato das cartas de aceitação só nos serem enviadas após um processo de seleção —que depende internamente das universidades—, fazendo com que centenas de pedidos deem entrada num espaço de tempo muito reduzido, não tem sido possível responder com a agilidade que desejaríamos", diz o texto.
Nas redes sociais dos consulados, há diversos relatos de quem perdeu aulas, dinheiro e passagens de avião.
Para não exceder o limite de faltas, alguns estudantes têm optado por viajar para Portugal como turistas. Eles assistem a algumas semanas de aula e voltam para o Brasil para buscar o visto.
Essa é uma opção que encarece bastante o intercâmbio, já que agosto e setembro são meses de alta temporada na Europa, quando as passagens aéreas são mais caras.
Embora o recorde de pedidos tenha ocorrido em 2017, brasileiros também relatam atrasos ocorridos em 2016.
Aprovado para um mestrado, Samuel Figueira Cardoso, 23, esperou por três meses até seu visto ficar pronto no ano passado. A demora fez com que ele perdesse o semestre -e, ainda mais grave, a bolsa de estudos por pouco não lhe escapou.
"A minha coordenadora foi muito boa. Se não intercedesse por mim junto aos outros professores, eu teria perdido a bolsa, que é financiada pela União Europeia", conta Cardoso, que estuda na Universidade do Porto.
A demora na emissão dos vistos já é motivo de preocupação para alguns setores do Parlamento português.
Em julho, diante do aumento dos relatos de atrasos, as deputadas Carla Cruz e Paula Santos (Partido Comunista Português) enviaram um ofício ao governo afirmando que "esta situação tem consequências muito nefastas para os cidadãos afetados, mas também para as universidades portuguesas".
COBIÇADO
Com uma população envelhecida e vagas ociosas nos cursos superiores, Portugal tem investido com muito sucesso na atração de alunos estrangeiros, inclusive com alguns programas de estudos ministrados em inglês.
A facilidade de ter os diplomas válidos em toda a União Europeia, além do baixo custo de vida e de taxas acadêmicas relativamente mais baratas do que em outros países europeus, são os principais fatores de atração.
Os brasileiros têm, além do idioma em comum, um incentivo adicional: mais de 20 universidades portuguesas já aceitam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para o acesso à graduação.
Com isso, os estudantes internacionais, sobretudo os brasileiros, já respondem por fatia significativa dos inscritos em muitos cursos. 

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