17 de agosto de 2017

Avanço educacional no Brasil citado pela OCDE não convence


érica fraga
É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.

John Vizcaino - 30.set.2015/Reuters
Teacher Father Juan Humberto Cruz poses for pictures with 4th grade students at Semillas de Esperanza (Seeds of Hope) school in Soacha, near Bogota, Colombia, June 11, 2015. Nearly three years after Taliban gunmen shot Pakistani schoolgirl Malala Yousafzai, the teenage activist last week urged world leaders gathered in New York to help millions more children go to school. World Teachers' Day falls on 5 October, a Unesco initiative highlighting the work of educators struggling to teach children amid intimidation in Pakistan, conflict in Syria or poverty in Vietnam. Even so, there have been some improvements: the number of children not attending primary school has plummeted to an estimated 57 million worldwide in 2015, the U.N. says, down from 100 million 15 years ago. Reuters photographers have documented learning around the world, from well-resourced schools to pupils crammed into corridors in the Philippines, on boats in Brazil or in crowded classrooms in Burundi. REUTERS/John Vizcaino PICTURE 9 OF 47 FOR WIDER IMAGE STORY "SCHOOLS AROUND THE WORLD"SEARCH "EDUCATORS SCHOOLS" FOR ALL IMAGES ORG XMIT: PXP09
Estudantes em escola na Colômbia; país tem conseguido progressos mais rápidos no Pisa que o Brasil
Há alguns dias, queria pesquisar sobre reforma educacional e entrei na página do Pisa, exame internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
De cara, vi uma chamada para um vídeo justamente com o título: "How Does Pisa Shape Education Reform?".
Olhei a legenda e me surpreendi ao ler que os dois exemplos de países que foram capazes de "melhorar seu desempenho no teste e fazer seus sistemas educacionais mais inclusivos" citados eram Alemanha e Brasil.
Acostumada a escrever e ler exaustivamente sobre o fiasco da aprendizagem brasileira, achei interessante que justo nosso país pudesse ser mencionado como uma história positiva.
O espírito do vídeo, bem curto, é ressaltar que, ao revelar o que diferentes países têm atingido em termos de educação, o Pisa os estimula a ir atrás dos bons exemplos.
O exame é aplicado a cada três anos tanto em países membros da OCDE (os desenvolvidos e alguns emergentes como México e Chile) quanto em nações parceiras (caso do Brasil) e busca avaliar a aprendizagem de alunos de 15 anos em matemática, leitura e ciências.
No caso da Alemanha, o vídeo destaca que a primeira edição do Pisa, em 2000, mostrou um desempenho fraco e desigual —considerando os estudantes mais e menos favorecidos— do país em leitura na comparação com a média da OCDE.
Apontando em seguida que, em resposta, políticas especificas para mudar o quadro foram adotadas: escolas em tempo integral viraram norma; obrigações foram estipuladas; professores receberam incentivos para investir em seu desenvolvimento.
Resultado: o sistema se tornou mais igualitário e a Alemanha avançou de um patamar abaixo da média da OCDE em leitura para um nível superior a esse recorte.
"A meio mundo de distância", diz então o vídeo, o Brasil foi o país com a nota mais baixa na edição do Pisa de 2003.
Em seguida, menciona que mais da metade dos alunos brasileiros teve desempenho inferior ou igual à marca considerada como o mais baixo nível de proficiência em matemática, disciplina que foi o foco do exame naquele ano.
Acrescenta, então, que o país estipulou a meta de atingir a média da OCDE em 2021. Mas não menciona politicas especificas adotadas.
Apenas diz que, desde então, os alunos brasileiros com pior desempenho avançaram o equivalente a um ano letivo de aprendizagem, mesmo em um contexto de forte inclusão educacional.
O vídeo afirma ainda que o Brasil ainda precisa avançar muito, mas que se baseia em parâmetros internacionais.
O que eu tinha na memória sobre nossa trajetória no Pisa era que avançamos muito pouco em leitura e ciências e que demos um salto em matemática —de um patamar catastrófico para outro péssimo—, mas que parte desse progresso foi devolvido nos últimos três anos.
Depois de ver o vídeo, deu vontade olhar os dados. Eu pensava: o Brasil é um dos países com desempenho mais baixo, mas já foi o pior! E, realmente, em 2003, entre os 40 países testados, a nota brasileira em matemática ficou em último lugar, atrás da obtida pelos alunos da Tunísia.
E em 2015? Bem, há dois anos, cinco países tiveram desempenho mais baixo que o do Brasil na disciplina. Mas a amostra se expandiu significativamente desde 2003. Em 2015, 73 nações foram testadas e, entre as cinco piores que o Brasil, apenas a Tunísia havia participado da edição de 2003.
Ou seja, nesses 12 anos, alguns poucos países ou territórios com desempenho mais sofrível que o nosso entraram na lista, e o Brasil só conseguiu ultrapassar a Tunísia.
Mas tinha outra questão mencionada pelo vídeo da OCDE: os alunos brasileiros com pior desempenho conseguiram progredir.
A organização separa as notas dos alunos em sete níveis de proficiência, que vão de "abaixo de 1" (o pior possível) a 6.
Entre 2003 e 2015, o percentual de estudantes do Brasil no patamar mais catastrófico diminuiu de 53,3% para 43,7%.
Trata-se de uma redução importante principalmente por ser reflexo de uma melhora no nível de aprendizagem dos alunos com menor nível socioeconômico.
Mas é inevitável perguntar: dada a gravidade do nosso problema, será que não deveríamos estar avançando ainda mais rapidamente?
O nível 2 de proficiência é considerado o mínimo necessário para o exercício da cidadania e espantosos 70,3% dos alunos brasileiros ainda estão abaixo desse patamar em matemática.
Desde 2003, o país conseguiu uma redução de 4,9 pontos percentuais nessa taxa, menos do que as quedas atingidas por Peru (-8,4) e Indonésia (-7) em apenas três anos, entre 2012 e 2015 (partindo de níveis parecidos com o nosso).
Restava um ponto também relevante. O Brasil conseguiu pequenos avanços em um contexto de forte inclusão educacional, que poderia ter levado a pioras nos nossos resultados.
Fato, mas não somos os únicos. A Colômbia, por exemplo, tem conseguido progressos mais rápidos que os nossos —partindo de patamares próximos— também em meio a grande expansão da cobertura escolar.
Os resultados do país vizinho estão longe de ser uma maravilha. Mas, em 2015, a Colômbia nos ultrapassou em leitura, ciências e matemática. Também conseguiu reduzir a taxa de baixíssima proficiência um pouco mais do que o Brasil.
Talvez um propósito do vídeo da OCDE seja ressaltar que tanto nações desenvolvidas quanto as menos ricas podem progredir. Só não me convenci de que o Brasil era um bom exemplo do segundo grupo. r

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