Enquanto protegia os estudantes no meio de um tiroteio no Complexo da Maré, uma professora foi baleada de raspão nesta segunda. Não é o primeiro caso. Este mês, outra professora foi baleada em Quintino e em abril foi a vez de uma auxiliar de creche no Jacaré. Em março, uma aluna de uma escola em Acari foi morta. É fato: ensinar e aprender no Rio se tornaram atividades de alto risco.

O incidente desta segunda ocorreu num dos Espaços de Desenvolvimento Infantil, que foram amplamente divulgados como “um novo conceito de educação”. Mas de que adiantam o espaço físico, a brinquedoteca, os materiais e livros, os professores preparados... num cenário de guerra?

Em 2016, o Rio de Janeiro teve somente 43 dias com funcionamento normal de todas as escolas. Nos demais, houve sempre pelo menos um colégio com aulas suspensas, por ficar em área conflagrada. Foram 115 mil estudantes com alguma suspensão do ritmo de estudo. Desde o início deste ano, o problema se agravou.

A violência crescente vem causando enorme prejuízos à aprendizagem. Crianças com medo não têm a mente livre para raciocinar, não conseguem se concentrar. Com tantas interrupções, o ensino se torna um eterno recomeçar, gerando atraso na escola e desmotivação dos estudantes.

Nos trabalhos escolares, há desenhos com cenas sangrentas e pistolas que ferem bebês. O medo marca a linguagem de crianças que ainda estão aprendendo a ler, num momento em que deveriam estudar, conviver e se divertir.

O próprio Secretário de Educação do município, César Benjamin, afirmou numa rede social que tragédias como a de uma estudante assassinada “não são um fato isolado” e que no dia em que escreveu o post, por exemplo, “a violência provocou o fechamento de 25 escolas”, deixando mais de 6 mil alunos sem aulas – situação que, segundo ele, “tem se repetido todos os dias”. A cena do professor tocando violão para distrair e acalmar as crianças durante um longo tiroteio rodou o país e emocionou a todos. Professores virando heróis. Até quando?

Na educação do Rio de Janeiro, já não temos mais um desafio didático-pedagógico, mas sim social e de segurança pública. Quantos seguirão na profissão docente mesmo que isso lhes custe a vida, lhes roube a paz, ou lhes negue o sonho de um trabalho em condições diferentes? Complicado equilibrar tudo o que está em jogo, ainda mais porque em muitos casos, se não for o professor, não haverá quem olhe por estas crianças.