27 de maio de 2017

ENTREVISTA - DIRETORA DE HARVARD, Katherine Merseth


Especialista propõe atualização de professor a partir de casos reais

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O que define um bom professor? Para a diretora do Programa de Educação de Professores da Universidade de Harvard (EUA), Katherine Merseth, o segredo é conhecer bem os alunos a ponto de estabelecer uma relação com eles e, ao mesmo tempo, agir com rigor em sala de aula.
Merseth esteve no Instituto Singularidades, em São Paulo, para comandar uma formação continuada de professores -treinamento para quem já dá aula.
A metodologia da especialista tem como base studos de caso. Nesse processo de formação, ela pede que os professores levem situações reais enfrentadas nas escolas.
Depois, o grupo, com ajuda dela, estuda possíveis soluções. No Brasil, Merseth conversou com a Folha.
Folha - O governo acabou de lançar a base nacional curricular que, em áreas como ciências, propõe um ensino mais experimental. Os professores aqui, no entanto, ainda são treinados para dar aulas de maneira expositiva…
Katherine Merseth - Primeiro, acho que ter base nacional curricular é algo bom. Pode nos ajudar a desenhar uma educação para um mundo que ainda não conhecemos. O problema é se tivermos um grande currículo e não tivermos a menor ideia de como ensinar o conteúdo desse currículo.
Mas e agora?
Agora precisamos mudar os currículos das licenciaturas para treinar professores que estão se formando e, também, precisamos trabalhar com os docentes que já estão nas escolas. São, portanto, dois grupos diferentes de treinamento.
É possível usar casos reais da sala de aula para que os professores examinem como ensinar um conteúdo de maneira experimental.
Aqui [no Instituto Singularidades] estamos trabalhando com base em estudos de caso. Os cerca de 40 professores da turma trazem questões reais da sala de aula para o debate e perguntam aos outros docentes: o que você faria? É um bom jeito de praticar.
Por exemplo?
Se dois alunos começarem a brigar fisicamente em uma aula, o que você faria? Quando um comportamento agressivo pode ser aceito. Eu não tenho uma resposta…
Por isso é um bom caso. Há diferentes respostas que virão dos próprios professore,s dependendo do contexto.
Tem gente que acha que ensinar é fácil, que estar com crianças na escola é como ser uma “babá”, mas é esse tipo de complexidade que os professores enfrentam diariamente nas escolas.
Como podemos avaliar o trabalho dos professores?
Não concordo com avaliação de professores com base no desempenho acadêmico dos alunos. Precisamos olhar os professores em múltiplos aspectos, assim como precisamos olhar os alunos ao avaliá-los. A criança está saudável? Consegue expressar sentimentos, por exemplo, de raiva? Está traumatizada?
A fronteira está nas relações: eu conheço meu aluno, sei onde mora, conheço sua família? A fronteira está também no rigor. Não se trata se abraçar o aluno e não se importar se ele não conseguir ler ou, ao contrário, de dizer “não me importo como você se sente, trabalhe”. O segredo do bom professor está na combinação dos dois fatores: rigor e relação com o aluno.
O que acha da proposta de colocar os melhores professores nas piores escolas?
Não é uma má ideia. Alunos ricos têm insumos fora da escola, famílias que incentivam, aulas de piano à tarde. As crianças pobres precisam que os insumos estejam na escola. Essa proposta não é popular porque os pais das crianças mais ricas vão argumentar que querem os melhores professores -e esses pais têm voz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário