23 de abril de 2017

A base do ensino

EDITORIAL


Há muito esta Folha defende que se esgotou o tempo para teorias inócuas, experimentação sem propósito e condescendência pedagógica no ensino público.
Com o Brasil amargando sucessivos desempenhos vexatórios em leitura, ciências e matemática na prova internacional Pisa, parece evidente que a educação nacional estacionou num patamar muito baixo de qualidade.
Um passo necessário se dá agora com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pelo menos o ensino fundamental, do primeiro ao nono ano, contará em breve com um conjunto definido de objetivos de aprendizado; em mais alguns meses, será a vez do ensino médio.
Apesar de certos desvios pelo caminho, a BNCC traça um bom roteiro para o que é mais urgente: retornar ao básico (sem trocadilho). E o fundamento, em educação, jamais se firmará sem o domínio de escrita e leitura, de operações triviais da matemática e de noções gerais de ciências.
Contar com um itinerário permite que professores, alunos, pais e dirigentes saibam aonde se almeja chegar. Para não desperdiçar mais tempo, recomenda-se aprender com a experiência de países bem-sucedidos nessa empreitada.
Assim, parece mais prudente voltar-se para Portugal do que, por exemplo, para a Finlândia. Essa talvez seja a lição principal a extrair da entrevista com Nuno Crato, matemático e ex-ministro da Educação luso, publicada neste jornal.
A Finlândia vinha obtendo resultados primorosos e, com a excelência alcançada, lançou-se numa reformulação audaz do ensino, com menor peso para disciplinas tradicionais. Tardará um pouco saber que resultados serão colhidos; de imediato, porém, houve algum recuo nas notas do Pisa.
Portugal está em muitos sentidos mais próximo da realidade do Brasil. Não só pela língua, que decerto facilitará o intercâmbio de experiências, mas também por sua posição na Europa —periférica, como a do Brasil no mundo.
Lá como cá, faltava retornar ao chão. Crato conta que seu país passou a dar prioridade para português e matemática e aumentou o rigor na seleção de professores. E vieram resultados estimulantes.
Em 2015, o desempenho de alunos portugueses no Pisa melhorou e ficou à frente, por exemplo, de Estados Unidos e Espanha.
Não se trata de menosprezar história e geografia, nem sociologia ou filosofia. Mas Crato chama a atenção para o óbvio: o aluno que lê mal não progredirá nessas matérias —menos ainda se as aulas a que assiste se nortearem pelo princípio de que se deve estudar apenas aquilo de que se gosta.
Não, há coisas que todo estudante precisa aprender e saber. Esse é o sentido da base curricular.

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