21 de fevereiro de 2017

Verdades, mentiras e fofocas. Hélio Schwartsman



SÃO PAULO - Por que acreditamos em "fake news", as notícias falsas que circulam na internet? O que os estudos no campo da psicologia da mentira ensinam é que a vantagem inicial é dos enganadores. Isso porque humanos tendemos a aceitar como corretas as informações que chegam até nós. O nome dessa predisposição é "viés de verdade".
Existem algumas explicações para seu surgimento. Em primeiro lugar, assumir como verdadeiro aquilo que nos é contado é, em termos heurísticos, o melhor chute que podemos dar, já que na vida diária recebemos mais informações corretas do que falsas de parentes, amigos etc.
No mais, o dano social de acreditar falsamente que alguém é um mentiroso ou de exigir que todos provem tudo o que falam tende a ser maior do que o de acreditar eventualmente numa falsidade. Muito ceticismo não é bom para a vida social.
É claro que esse é só o início do jogo. Se alguém mente para nós repetidas vezes, começamos não só a desconfiar desse indivíduo como também a espalhar que ele é um embusteiro. A fofoca, e o prejuízo que ela causa à reputação, opera como contrapeso ao viés de verdade. É um controle "a posteriori", mas funciona bem, especialmente em grupos pequenos, onde todos se conhecem.
O problema é que hoje vivemos numa comunidade virtual de bilhões de pessoas, a internet, que permite que garotos na Macedônia criem notícias falsas sobre as eleições americanas e as espalhem sem temer dano reputacional. Para piorar, sistemas populares de distribuição de notícias, como o Google e o Facebook, se valem de algoritmos que consideram apenas a taxa de leitura, sem ligar para a veracidade dos dados.
O que precisaríamos fazer seria introduzir na rede um análogo da fofoca, que distinga entre fontes confiáveis e mentirosas. Não é fácil, já que estamos falando de um ambiente cujos pontos altos são justamente a plena liberdade e o quase anonimato. 

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