10 de fevereiro de 2017

Como criar escolas não extrativistas: o exemplo de Xangai

claudia costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.


Philippe Lopez - 11.jan.2011/AFP
Jovens chineses durante aula na escola Jing'an, em Xangai (China). *** TO GO WITH Lifestyle-China-education-OECD-test,FEATURE by D'Arcy Doran In this picture taken on January 11, 2011 students attend class at the Jing'an Education College Affiliated School in Shanghai. Students at Jing'an Education College Affiliated School were among the 500 Shanghai students who outperformed the rest of the world in reading, science and mathematics in an Organisation for Economic Cooperation and Development study released in December 2010. AFP PHOTO / Philippe Lopez
Jovens chineses durante aula na escola Jing'an, em Xangai (China)


Numa reunião sobre educação, um jovem professor se levantou e disse: "Há escolas que são meramente extrativistas". Ante a perplexidade geral, ele esclareceu que se tratava de unidades que sugavam o que os docentes traziam de sua formação inicial na universidade, mas não agregavam nada que os fizessem aprimorar o seu trabalho.
Ao ouvi-lo, pensei em uma escola que visitei em Xangai. Vi lá professores dando aulas, mas também debatendo em grupos. Quando quis saber o que faziam, foi-me explicado que preparavam em conjunto planos de aulas, mostravam-nos aos colegas que não participaram da reunião e depois os convidavam para assistir às suas aulas. Quando perguntei se todos permitiam que outros professores assistissem, eles estranharam minha pergunta. Todos, por que não? É a melhor maneira de se aperfeiçoar como mestre.
Cada professor tem também um programa de estudo — dentro da escola. Normalmente coletivo, o estudo desdobra-se numa série de textos a serem lidos e palestras que um professor faz aos demais. Além disso, a escola constitui um espaço de pesquisa aplicada, com a ajuda da universidade.
No caso dessa escola, a Universidade Normal de Xangai é responsável por coordenar pesquisas aplicadas, envolvendo os professores e a direção. Essas pesquisas dizem respeito a problemas concretos sentidos pelos docentes em sua prática cotidiana. Perguntei por exemplos de pesquisas e a diretora citou dois deles: dificuldades com disciplina no sétimo ano e como promover a criatividade no ensino de cada matéria.
Realmente, essa escola não tem nada de "extrativista". Ela investe na formação de seus professores, de forma não paternalista, fazendo-os se sentir como parte integrante de uma coletividade que aprende e pode, assim, tornar todos melhores profissionais. Não por acaso, Xangai se saiu como um dos melhores sistemas de educação no Pisa.
A realidade brasileira é bem diferente e não cabe uma transposição mecânica do que fazem outros países, mas certamente poderíamos nos desafiar a pensar a escola como um espaço de construção coletiva e de formação de seus próprios professores. Reservar o tempo de atividade extraclasse para formação, pesquisa aplicada, com ajuda da universidade e planejamento conjunto, centrado no trabalho a ser feito em sala de aula, é um bom caminho.
Finalmente, caberia aos secretários e diretores criar condições para que isso ocorra, ampliando o espaço interno de trabalho coletivo dos professores e equipando-o com computadores, mesas individuais e de reunião, material de pesquisa, inclusive digital. Sem isso, as escolas certamente serão percebidas como extrativistas... 

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