17 de fevereiro de 2017

Claudia Costin: No debate sobre desescolarização e diversidade, deve-se valorizar a escola


Karime Xavier / Folhapress
PIRACAIA / SÃO PAULO / BRASIL -03 /02/17 - 10:00h - Desescolarização- Famílias que optam por não matricular os filhos na escola e também não ensinam em casa os conteúdos da escola. No sítio Amalaya, em Piracaia, duas famílias vivem lá, no total com quatro crianças de cinco a 10 anos de idade. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***COTIDIANO ***NAO ESTA AUTORIZADO MOSTRAR O ROSTO DAS CRIANCAS***
Em sítio em Piracaia, famílias criam filhos sem escolas, ensino domiciliar ou rotina pré estabelecida
Há poucos dias, saiu na Folha uma reportagem sobre pais de classe média que decidiram tirar seus filhos da escola, em busca de um novo estilo de vida, de um espaço para vivenciar outros valores e como uma saída para o estresse que a vida escolar provoca nos alunos.
A escola é, para muitas crianças e adolescentes, fonte de sofrimento. Isso pode ser causado por uma relação conflituosa com colegas que resulta em exclusão do grupo, por alguns professores que os rotulam ou por conteúdos de difícil aprendizado que os desafiam e que podem lhes trazer a percepção de que são intelectualmente limitados.
Mas também é a escola que proporciona aprendizados extremamente ricos: transcender os muros do ambiente familiar e conviver com outras crianças, aprender a transitar num ambiente letrado, descobrir que se podem superar dificuldades e entender conteúdos inicialmente obscuros. Isso, no entanto, não ocorre sem dor.
Para o escritor americano Howard Fast, não há crescimento sem a dor da aprendizagem. Sim, a vida escolar combina dores e alegrias e aprender no convívio social traz sofrimento. Da mesma maneira, aprender a raciocinar matematicamente ou cientificamente e construir soluções para problemas complexos demanda persistência e resiliência, competências que a escola deve desenvolver.
A reportagem esclarece que as crianças são reunidas num espaço coletivo para que a desescolarização funcione. Isso ocorre também em situações de "homeschooling", em que, na maior parte dos casos, preveem-se encontros semanais dos alunos.
Mas há algo que se perde neste caso, como o aprendizado da diversidade, de viver num ambiente em que colegas vêm de outros meios sociais ou de famílias com outras visões de mundo, assim como a possibilidade de aprender algo que transcenda o repertório restrito dos pais e que permita a aquisição de hábitos para a vida em sociedade, como esperar a sua vez, respeitar a opinião do colega, aprender a organizar horários e tarefas.
É certamente possível se pensar em motivos para que crianças e jovens necessitem estar longe da escola por algum período, e soluções, inclusive legais, devem ser construídas para essas situações, mas é importante saber que sempre haverá perdas.
Importante será também constatar que escolas segregadas, como as reservadas para apenas uma classe social ou que excluem crianças com deficiência ou desafios familiares, trazem igualmente perdas para a aprendizagem. Perde-se a chance de viver na diversidade e de melhor compreender o mundo em que se está inserido.
Afinal é neste mundo que as novas gerações vão viver! 

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