7 de dezembro de 2016

PISA 2015: Brasil tem desempenho ruim no Pisa, inclusive na rede particular





RIO E BRASÍLIA- Em um questionário aplicado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), quatro em cada dez adolescentes brasileiros manifestaram o sonho de exercer uma carreira ligada à ciência, seja no campo das engenharias, medicina ou tecnologia da informação. Entretanto, a mesma pesquisa, que analisou o desempenho de alunos de 15 anos em 70 países e economias, mostra que o aprendizado nacional nessa área é precário. A maioria dos estudantes não detém conhecimentos básicos para, segundo os padrões do Pisa, “exercer plenamente a sua cidadania”. Divulgados nesta terça, os resultados informam que o rendimento dos brasileiros em ciências está entre os piores do mundo, com média de 401 pontos, à frente apenas de República Dominicana, Argélia, Kosovo, República da Macedônia, Tunísia, Líbano e Peru. Links Pisa 2016
— O desempenho em ciências não é descolado do todo — critica Débora Foguel, professora do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e integrante da Academia Brasileira de Ciências. — A verdade é que o Brasil, com respeito à educação, vai mal em tudo. Estamos muito aquém do que deveríamos.
O Pisa é um exame trienal que avalia o aprendizado nas disciplinas de ciências, leitura e matemática nas 35 nações que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e em outros 35 países e economias. A cada edição, o programa dá ênfase a uma das disciplinas. Em 2015, foi a vez de ciências, que passou a integrar a avaliação em 2006. Em 2009, foi verificada no Brasil uma melhora nessa área, de 394 para 405 pontos. Desde então o país ficou estagnado, com ligeira queda: 402 pontos, em 2012, e 401, em 2015. Nas outras duas disciplinas, o país também vai de mal a pior. Em leitura, o rendimento caiu de 410, em 2012, para 407 pontos, ficando na 59ª colocação do ranking mundial. Já a nota de matemática foi de 391 para 377, deixando o Brasil na 65ª posição.
— Apesar de termos multiplicado por três o orçamento em 13 anos, o desempenho ficou estagnado ou até retrocedeu. É uma tragédia — disse o ministro da Educação, Mendonça Filho, antes de destacar medidas para melhorar o ensino: — Nossas ações serão prioritárias para alfabetização, porque os alunos chegam ao ensino médio com acúmulo de deficiências. Também queremos redesenhar a política de formação de professores, envolvendo estados e municípios como protagonistas. E estamos concluindo a Base Nacional Comum Curricular, que vai possibilitar aos estados e municípios ter foco no conteúdo, além da reforma do ensino médio.
Mas o dado que mais chama atenção sobre a situação calamitosa do ensino no Brasil é o dos níveis de conhecimento. O Pisa estipula uma escala com sete níveis para classificar o saber dos alunos. No mais alto, com nota acima de 708 pontos, os alunos são capazes de “recorrer a uma série de ideias e conceitos interligados da física, das ciências da vida, da Terra e do espaço, bem como usar conhecimentos de conteúdo, procedimentais e epistemológicos para formular hipóteses”. Apenas 0,02% dos brasileiros alcançaram esse nível na área de ciências, contra média de 1,06% dos 70 países pesquisados.
A grande maioria dos alunos (81,96%) teve nota menor que 483 pontos, alcançando, no máximo, o nível 2 de aprendizado. E 56,6% dos adolescentes do país sequer chegaram ao nível 2, considerado pela OCDE como o mínimo de proficiência “necessária para o indivíduo se envolver em questões científicas como cidadão crítico e informado. Espera-se que todos atinjam esse nível ao abandonar os estudos obrigatórios”. Em leitura e matemática, a maior parte dos alunos também não alcançou o nível 2.
NOTAS RUINS ATÉ EM ESCOLAS PARTICULARES
Países asiáticos como Cingapura, Japão e China estão entre os melhores no Pisa. No Brasil, 23.141 alunos de 841 escolas realizaram as provas da pesquisa. Na área de ciências, 32,37% deles ficaram no nível 1a (um abaixo do nível 2), no qual eles “conseguem usar conhecimento de conteúdo e procedimental básico ou cotidiano para reconhecer ou identificar explicações de fenômenos científicos simples”. Além disso, 4,38% dos brasileiros tiraram nota abaixo de 261, o nível mínimo.
O resultado variou bastante entre as redes pública e privada. Na particular, a nota média em ciências foi de 487 pontos, contra média de 394 pontos da rede estadual. Os estudantes de colégios federais tiveram o melhor desempenho, com nota média de 517 pontos. Mas mesmo na rede privada, o desempenho do estudante brasileiro não é dos melhores. A média de 477 pontos se iguala à da Hungria, que ocupa a 35ª posição no ranking.
Para Débora Foguel, o resultado ruim dos estudantes brasileiros em ciências pode ser explicado por uma série de fatores, como a formação de professores e a deficiência na infraestrutura. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, de 186.441 escolas de educação básica (ensino fundamental e médio) no país, só 21.278 têm laboratório de ciências.
— Fazer ciências é como aprender a andar de bicicleta: não adianta passar um ano explicando a mecânica da bicicleta, porque o aluno só vai aprender fazendo — exemplifica.
Essa é a mesma opinião da secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro:
— O ensino praticamente não trabalha com práticas investigativas e conhecimento aplicado. É um aprendizado muito tradicional, baseado no que está nos livros.

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