23 de setembro de 2016

Só 1 em 10 alunos está satisfeito, e maioria pede tecnologia nas aulas



A maioria dos jovens reconhece a importância da educação e gosta da escola onde estuda, mas não está feliz com as aulas que têm. É o que mostra uma pesquisa com 132 mil estudantes de 13 a 21 anos de todas regiões do Brasil.
O objetivo do projeto "Nossa Escola em (re)construção", desenvolvido pelo Porvir/Instituto Inspirare, foi entender como os estudantes veem a escola. Mas, principalmente, como seria, para eles, uma escola ideal.
A maioria dos participantes do estudo (86%) vem de escolas públicas, sobretudo de São Paulo. Há também a opinião de quem está em unidades privadas.
Só 1 em cada 10 jovens está satisfeito com as aulas e os materiais pedagógicos. Entre as atividades oferecidas pelas escolas, as artísticas são as preferidas. Mas 69% indicam que não há atividades e oficinas culturais na escola.
Em uma escala de 1 a 5, 69% dos jovens avaliam a escola com notas abaixo de 3. Para Anna Penido, do Instituto Inspirare, os resultados mostram um descontentamento com o modelo de escola no país.
"Os jovens são bastante críticos exatamente com relação ao que é mais essencial do modelo atual de escola, como as aulas e materiais pedagógicos", diz. "Não são jovens rebeldes, que propõem revoluções irresponsáveis. Eles confiam no professor como uma referência, mas não querem a escola que está aí".
ESCOLA DOS SONHOS
Um quarto dos jovens afirma que, em uma escola dos sonhos, o ideal seria ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras. Essa flexibilização faz parte do novo projeto de ensino médio que deve ser anunciado nesta quinta-feira pelo governo federal.
Mesmo quando estimulados a pensar em como seria uma escola "inovadora", por exemplo, a opção de "não ter divisão de série e cada aluno poder aprender no seu ritmo" aparece com apenas 10% das preferências.
A pesquisa trazia perguntas iguais para quatro modelos de escolas: inovadora; onde se aprende mais; que respeita a individualidade; e que deixa os alunos mais felizes.
Quando questionados sobre qual deve ser o foco de uma escola dos sonhos, a resposta era bem parecida nesses quatro modelos. Preparação para o Enem e vestibulares e para o mercado de trabalho sempre aparecem com os maiores percentuais.
O jeito de aprender e os recursos, entretanto, deveriam ser outros. Atividades práticas e resolução de problemas, aprendizado com tecnologia, aulas por projetos e rodas de conversa têm a preferência.
Na escola dos sonhos, os jovens querem uma infraestrutura diferente. Uma unidade que possa usar tecnologia fora do laboratório de informática (51% das preferências), com bastante área verde (44%) e quadras e equipamentos esportivos (42%). Para essa pergunta, os jovens poderiam assinalar três coisas que não podem faltar.
ESCUTA
As respostas mostram que a presença dos jovens nas instâncias de participação ainda é baixa. Os dados apontam que 72% não participam de decisões da escola.
Estudante da Etec Zona Sul, na capital paulista, Miguel Soares, 17, diz que não há transparência com relação ao que escola faz, além de pouco incentivo para a participação. "Desde cedo aprendemos na escola que, quando alguém vai falar na direção, é coisa negativa. Essa relação dificulta até uma aproximação", diz.
Avener Prado/Folhapress
Miguel Soares, 17 anos, estudante
Miguel Soares, 17, estudante da Etec Zona Sul, em São Paulo
Soares respondeu à pesquisa e também participou de um grupo de 25 estudantes de todo o país que ajudou a desenvolver o questionário da pesquisa. Ele se identifica como transgênero e prefere ser chamado de Miguel –o que não ocorre em sua escola. Na pesquisa, 3% dos participantes não se identificam com os gêneros masculino e feminino.
O professor e pesquisador em educação Pedro Demo, da UnB (Universidade de Brasília), ressalta o diagnóstico que baseou a realização da pesquisa: apesar de serem o objetivo da educação, os alunos quase nunca são ouvidos.
"Uma razão é que a escola não é feita para o aluno aprender, mas para o professor dar aula. O que temos é repasse de conteúdo, o estudante escuta e tira nota", diz. "Ele não é protagonista".
O movimento de ocupações de escolas em São Paulo no ano passado acelerou a realização da pesquisa. "Falta a cultura de ouvir os alunos, parece que há receio de os jovens demandarem algo que as redes não sabem entregar."

Nenhum comentário:

Postar um comentário