15 de agosto de 2016

Horizonte preocupante, ANTONIO GOIS



Estudo identifica que, no atual ritmo, demoraremos mais de 50 anos para que alunos mais pobres alcancem desempenho de países desenvolvidos

Quando o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi lançado em 2007, o MEC estabeleceu como meta até 2021 alcançar o nível de qualidade do ensino verificado em nações desenvolvidas. O desafio continua de pé, e foi inclusive incorporado ao atual Plano Nacional de Educação. Desde então, os ganhos mais expressivos verificados nas avaliações nacionais ocorreram no 5º ano do ensino fundamental. Um inédito estudo dos pesquisadores José Francisco Soares (UFMG e ex-presidente do Inep) e Victor Maia Senna Delgado (Ufop) revela, porém, que essa melhoria não está ocorrendo no ritmo necessário. E com um agravante: o avanço observado ocorreu de forma muito desigual. Os estudantes de famílias de pais mais pobres e menos escolarizados terão muitas dificuldades de aprender o que precisam para uma inserção produtiva.
Para chegar a essas conclusões, os autores, usando a distância do desempenho dos estudantes brasileiros no PISA em relação aos estudantes de um grupo de países da OCDE, definiram uma meta para o desempenho dos estudantes brasileiros na Prova Brasil. Em seguida calcularam quanto tempo cada grupo de estudantes brasileiros levaria para atingir esse patamar, caso as melhorias continuassem no ritmo observado entre 2005 e 2013.
No 5º ano do ensino fundamental, os autores concluem que, no atual ritmo, levaríamos mais de 20 anos para nos igualar ao desempenho dos países desenvolvidos. No 9º ano, o quadro é muito mais grave: a distância que nos separa dos países mais ricos supera os 50 anos para todos os grupos analisados.
Na análise feita pelos autores, mais uma vez fica evidente a desigualdade de nosso sistema educacional. No 5º ano, por exemplo, um aluno negro levaria 33 anos e um branco 18 para igualar o desempenho de estudantes de países desenvolvidos em leitura. Na mesma prova, um estudante do Nordeste precisaria de 54 anos, enquanto um do Sul levaria 13.
Os autores chamam a atenção para um dado ainda mais preocupante: para alguns grupos, essa distância é tão grande que chega a ser impossível estimar quando alcançaríamos esses resultados. Para os alunos de mais alto nível socioeconômico, seriam necessários mais 14 anos em matemática e 18 em leitura para atingirmos os patamares desejados. Para alunos de mais baixo nível socioeconômico (ou seja, cujos níveis de escolaridade e renda dos pais são os menores), o tempo estimado para atingirmos esse objetivo é maior do que 50 anos, tanto para leitura como em matemática.
Soares e Delgado destacam que essa distância é tão grande que, no atual cenário, o mais realista é admitir que isso nunca ocorrerá para esse grupo mais vulnerável, e que nossa desigualdade em termos de desempenho de aprendizado não vai se alterar, e em alguns casos tende até a se aprofundar. Como dizem os autores no texto: “O sistema educacional brasileiro deve encontrar outras formas de atender aos estudantes de nível socioeconômico mais baixo, que trazem poucos conhecimentos escolares de casa e, portanto, dependem completamente da escola para adquirir os conhecimentos e habilidades de que precisam para a vida. Se não houver mudança no sistema, esses alunos continuarão a ser excluídos do sistema pelo seu baixo aprendizado”.


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