Dirigente das Nações Unidas comparou o Brasil à Coréia do Sul em debate sobre juventude e as desigualdades sociais
Encontro da ONU e Fiocruz sobre juventude - Foto: Flávia Villela/Agência Brasil
Encontro da ONU e Fiocruz sobre juventude – Foto: Flávia Villela/Agência Brasil
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) promoveram um debate sobre o tema Racismo e Injustiça Social na sede da Fiocruz nesta segunda-feira (15), data em que é comemorado o Dia Internacional da Juventude. O evento reuniu jovens de diversos estratos sociais, indígenas, quilombolas, caiçaras, LGBT e refugiados. Segundo os debatedores, o principal caminho para superar os preconceitos e a discriminação é a educação de qualidade.
O coordenador residente do Sistema ONU no Brasil, Wilfried Lemke, destacou o exemplo da Coreia do Sul, que já foi um dos países mais pobres do mundo depois da Segunda Guerra Mundial, e hoje é uma potência econômica graças à educação: “A única resposta para esse êxito é educação, nada mais. O mesmo vale para este país e para a juventude. Precisamos dos melhores professores para isso, precisamos de professores bem pagos, não apenas no Brasil, como também no mundo”.
Para o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o processo educativo de jovens só será efetivo com a garantia dos cuidados desde a gestação e da primeira infância e com inclusão social. “Toda a capacidade de maturação neurológica e de processos de socialização se dá durante esse período e da mesma forma a capacidade de absorver educação e de interagir como cidadãos não se torna plena sem estrutura social de inserir essas crianças de uma forma inclusiva na sociedade.”
A dificuldade para acessar direitos e serviços de qualidade por ser negro e pobre foi tema de quase todas as falas dos jovens presentes. A secretária de Promoção da Igualdade Racial, Luislinda Valois, destacou que, além da violência, responsável pela morte de um jovem negro a cada 23 minutos no país, a falta de oportunidades é outro grande obstáculo para os negros no país.
“Apenas 11% dos jovens negros estão nas universidades, o mercado de trabalho é seletivo e cruel. Estamos sempre com a vassoura e o pano de chão, mas não queremos somente isso, queremos as canetas para decidirmos o destino do Brasil. Não queremos mais a situação do prato feito, queremos fazer nosso próprio prato”, disse a secretária. “Ser negro no Brasil é tarefa extremamente árdua, por isso é importante ampliar o debate e as ações de políticas públicas. E vocês jovens precisam ocupar espaços de poder, estudar bastante”, acrescentou.
Após ler um poema da feminista negra Roni Morrison, o presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), Daniel Souza, falou sobre os jovens “que estão nas bordas de um poder racista, machista, envelhecido, que não sabe lidar com o jovem nos espaços de poder.” Souza defendeu mais participação dos jovens nas tomadas de decisão. “Ao falar de desenvolvimento, precisamos nos perguntar qual modelo de desenvolvimento queremos e não há nenhuma mudança sem consulta popular. Precisamos de desenvolvimento com participação social e justiça socioambiental.”
Os representantes das ONU falaram pouco e ouviram muito, mas nos breves discursos elogiaram a luta dos movimentos sociais brasileiros e ressaltaram a importância do protagonismo jovem para melhorar o Brasil. O enviado especial do secretário-geral da ONU para Juventude, Ahmad Alhendawi, disse aos presentes: “Vocês não são apenas o futuro deste país, vocês são o presente, e a prosperidade e paz do Brasil dependem da criatividade de vocês e capacidade de ir adiante”.
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