7 de janeiro de 2016

Os estudantes de São Paulo: Lições de um movimento

EDITORIAL


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As imagens falaram por si mesmas. Encerrados 55 dias de protesto, os estudantes que estavam na escola Fernão Dias Paes, no bairro Pinheiros (zona oeste de São Paulo), promoveram um mutirão de limpeza antes de devolver o edifício à administração estadual.
Apresentaram um "termo de entrega", lido num jogral, pelo qual se comprometiam a reparar eventuais danos ao patrimônio público, citando como exemplos uma mesa e alguns espelhos quebrados.
Ao longo de toda a mobilização, houve registro de atividades culturais, festas e debates, assim como dos sinais, expressos em cartazes onde se especificavam as tarefas cotidianas, da organização com que se empreendeu o protesto.
Num movimento que, ao atingir seu auge, envolveu 196 escolas da rede pública em todo o Estado, naturalmente ocorreriam danos. O governo Geraldo Alckmin (PSDB) aponta 81 incidentes desse tipo.
Sem minimizar tais eventos, que teriam resultado em prejuízo de R$ 1 milhão, é inegável que, de modo geral, o protesto se desenvolveu de forma pacífica, ordenada e feliz.
Pode-se certamente discordar, como esta Folha o fez diversas vezes, dos objetivos do movimento. A reorganização intentada pelo governo estadual –num contexto em que, de 1998 a 2014, o sistema perdeu 2 milhões de alunos– faz sentido por razões econômicas e pedagógicas, embora a elas os estudantes não tenham dado atenção.
É melhor o desempenho das escolas onde se concentram alunos de uma única faixa etária. Além de aumentar em 52% o número de instituições desse tipo, o plano governamental previa utilizar quase 3.000 salas de aula hoje ociosas.
Decidido sem suficiente diálogo, porém, o projeto enfrentou reação ampla e surpreendente.
Surpresa sobretudo positiva. O movimento contou com a simpatia de parte expressiva da opinião pública; expôs as deficiências do sistema. No colégio Fernão Dias, por exemplo, viu-se um laboratório de química aparentemente há anos sem uso.
Os alunos expressaram comprometimento para com seu local de estudo. Aprenderam a se organizar e a ter voz ativa na sociedade; cresceram. Saem vitoriosos, e com eles a cultura democrática do país.
A lição de política foi boa. O que falta? Tudo aquilo que protestos, por si sós, são incapazes de prover. Faltam recursos públicos e qualidade de ensino. Faltam aulas de química –e de economia também. 

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