21 de janeiro de 2016

Aumenta o número de crianças fora da escola no Estado do Rio


Jovem de 18 anos está há uma década fora da escola
Jovem de 18 anos está há uma década fora da escola Foto: Bruno Alfano
Bruno Alfano

A caixinha de chocolate nas mãos é ferramenta antiga de trabalho. Aos 18 anos, o menino, que pediu para não ser identificado, tem um década de experiência como ambulante. Aos 8 anos, foi trabalhar para ajudar a família. Aos 14, quando a mãe morreu, largou de vez a escola em Caxias, onde morava, para sobreviver nas ruas da Zona Sul do Rio. Destino trágico, mas não raro. Dados da ONG Todos Pela Educação apontam que o número de jovens e crianças (de 4 a 17 anos) fora das salas de aula no Estado do Rio aumentou de 157 mil, em 2013, para 176 mil no ano seguinte.
O estado perdeu alunos no ensino fundamental e no ensino médio. A superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, explica que os desafios dessas etapas escolares vão além dos bancos escolares.
— Para atrair o aluno do ensino fundamental que está fora da escola, é preciso articular uma política pública que não se limite só a educação. Tem que envolver pastas como a Saúde, a Assistência Social, o Trabalho, o Transporte — enumera Alejandra.
Já o ensino médio tem, segundo a especialista, os mesmos problemas da etapa anterior, com um agravante:
— A gente tem que reformular o currículo para esses estudantes. O jovem até ingressa na rede, mas já no primeiro ano abandona a escola. O currículo tem que informar ao jovem o impacto que tem ele ao abandonar o ensino médio — explicou.
Enquanto isso, debaixo de uma marquise de Laranjeiras, irmão e irmã dormem até que a Guarda Municipal recolhe a menina, menor de idade, para um abrigo. A escola, para eles, ficou num passado distante.
‘Tentei voltar, mas não dá. Preciso trabalhar’
— Não moro na rua. Só durmo aqui às vezes. Tenho a minha casa lá em Barro Vermelho, Duque de Caxias. Eu e minha irmã vendemos doce na Zona Sul. Paçoca e bananinha. Mas aí a gente acaba dormindo por aqui para economizar na passagem. Uns cinco dias na semana. Agora vou ter que ir pegar ela no Conselho Tutelar. A gente tem que trabalhar mais tarde. Estudei só até a 3ª série, depois me envolvi com gente errada, fui preso seis meses e agora estou na rua. Tentei voltar, mas não dá. Preciso trabalhar. Minha irmã saiu da escola também. Não quer estudar. Minha mãe vive na rua, no Humaitá. Vai pouco lá em casa. Meu pai sumiu quando eu era criança. Se meteu com cachaça — conta.
País melhora, mas está longe de meta da lei
Os dados divulgados ontem mostram que a educação avançou no país, mas não alcançou metas definidas no Plano Nacional de Educação (PNE), que tem força de lei.
O percentual de matriculados nas escolas passou de 89,5% em 2005 para 93,6% em 2014. Há, no entanto, um gargalo: o país não vai alcançar, neste ano, a universalização do atendimento para crianças e adolescentes (entre 4 e 17 anos), como havia sido definido em emenda constitucional de 2009. Há ainda 2,7 milhões de jovens sem estudar — eram 5 milhões em 2005, uma queda de 44,9%. As informações foram coletadas a partir de estatísticas do IBGE.
O maior salto no país aconteceu na faixa etária de 4 e 5 anos: 72,5% em 2005 para 89,1% em 2014. No estado do Rio, o índice é de 90%.
— Na educação infantil, muitos estados ainda têm taxa de atendimento muito pequenas. O desafio nessa etapa escolar é mesmo de expansão. O Rio tem uma boa taxa, mas o desejável era a universalização — avalia a especialista do Todos Pela Educação.
Busca pelos estudantes
As secretarias municipais e estaduais de Educação têm programas de busca ativa para trazer as crianças para a escola. De acordo com Helena Boneny, que comanda a pasta na prefeitura do Rio, o Aluno Presente localizou 13.402 jovens e crianças que estavam fora das salas e conseguiu matricular 10.998.
— Esse é um programa robusto que envolve as secretarias de Educação, de Saúde e de Desenvolvimento Social — afirmou Helena Bomeny.
Já o estado informou que criou o programa visitadores, em 2014, para buscar os alunos que faltam muito e que acabam deixando as salas de aula. “Os grupos de visitadores são formados, voluntariamente, por professores, pais, responsáveis ou integrantes da comunidade local. A visita à residência do aluno infrequente é programada a partir da ausência injustificada deste estudante, quando as faltas ocorrem dentro do bimestre letivo”, explicou em nota.


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