16 de setembro de 2015

Brasil na lanterna de habilidades digitais

16 de setembro de 2015
Pesquisa da OCDE analisou estudantes do Ensino Básico de 31 nações

Fonte: O Globo (RJ)



Um relatório divulgado ontem, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE), com dados de 31 países, revelou que os estudantes brasileiros de 15 anos ficaram na antepenúltima posição em habilidade digital. Na frente apenas dos Emirados Árabes e da Colômbia, os Alunos do Brasil estão entre os piores no uso de sites e compreensão de leitura on- line, segundo a pesquisa, que leva em consideração dados de 2012 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos ( em inglês: Programme for International Student Assessment - Pisa).

O documento “Estudantes, computadores e aprendizado: Fazendo a conexão” mostra ainda que países que investiram pesado em tecnologia não têm registrado melhora perceptível no desempenho dos Alunos nos exames tradicionais de leitura, matemática ou ciências do Pisa. Assim, a OCDE indica que fazer com que as crianças tenham nível básico de proficiência em leitura e matemática é mais eficaz para garantir o desenvolvimento de aprendizado do que encher as Escolas com equipamentos de alta tecnologia.

Doutora em Informática e Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul ( UFRGS), onde coordena o laboratório de estudos cognitivos, Léa Fagundes critica o modelo de avaliação de aprendizagem e diz que é necessário repensar o modelo vigente.

— Como avaliar a aprendizagem e o desenvolvimento dos Alunos quando todos devem dar respostas únicas, idênticas para uma mesma questão? — questiona. — O estudo registra o baixo nível de desempenho de Alunos brasileiros que usam a tecnologia digital na Escola, mas nem todos têm acesso a computadores.

A pesquisa afirma que o uso frequente de computadores em Escolas está, inclusive, mais associado a baixos resultados. No geral, Alunos que usam computador na Escola de maneira moderada tendem a ter desempenho um pouco melhor que os estudantes que usam raramente. Mas os estudantes que utilizam aparelhos tecnológicos com muita frequência no ambiente Escolar se saem muito pior que os demais. No teste utilizado como base para a pesquisa, foi exigido que os Alunos usassem o teclado e o mouse para navegar em textos na internet, além de manejar ferramentas interativas como hiperlinks para ter acesso às informações, confeccionar gráficos e manusear a calculadora do computador. O número de cliques e telas a que os estudantes recorriam antes de concluir as tarefas também foi levado em consideração.

TECNOLOGIA PEDAGÓGICA
No Brasil, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ( FNDE), o Ministério da Educação fez, através de diferentes programas, diversos investimentos em tecnologias pedagógicas. Em laboratório de informática, por exemplo, foram investidos R$ 962 milhões em 109 mil unidades desde 2004. Também foram comprados mais de 54 mil projetores em um custo total de cerca de R$ 83 milhões, desde 2011. Desde 2012, mais de 288 mil tablets educacionais foram comprados, com um custo de R$ 96 milhões, e quase 200 mil notebooks, desde 2009, foram adquiridos, por cerca de R$ 169 milhões.

Para sustentar a hipótese de que só fornecer aparatos tecnológicos não é suficiente para desenvolver habilidades, a pesquisa cita o exemplo de Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong ( China), Japão, Canadá e Xangai ( China), países com melhor colocação no ranking e desempenho em habilidades digitais próximo aos resultados de leitura tradicional. De acordo com a pesquisa, isso “sugere que habilidades essenciais para a navegação on- line podem ser ensinadas e aprendidas com técnicas de leitura analógica.”

Para o Professor da Universidade Federal da Bahia ( UFBA) e líder do Grupo de Pesquisa de Educação, Comunicação e Tecnologia da instituição, Nelson Pretto, o uso de tecnologia nas Escolas não surte o efeito esperado porque não vem acompanhado de mudanças estruturais.

— Não adianta livro didático, televisão, computador ou caneta dentro da sala de aula se não houver uma modificação radical na concepção de Educação, o que influencia em currículos, tempo de aula, formação dos Professores, não vai fazer diferença. Estamos vivendo em um mundo com o sistema de outro — afirma.

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