15 de setembro de 2015

Antonio Gois: Limites e possibilidades

15 de setembro de 2015
"Novo estudo do Inep mostra o quanto a pobreza impacta o aprendizado, mesmo nas melhores condições possíveis", afirma Antônio Gois

Fonte: O Globo (RJ)



O que aconteceria se todas as escolas públicas brasileiras tivessem um porte apropriado ao número de alunos que atendem, professores com formação adequada e baixa rotatividade docente? A resposta não é fácil, mas um estudo feito pelo Inep (instituto de pesquisas e avaliação do MEC) dá pistas. O trabalho foi feito sob a coordenação do diretor de estatísticas educacionais, Carlos Eduardo Moreno, a partir de novos indicadores criados pelo instituto. A pesquisa comparou o Ideb (principal indicador do MEC da qualidade do ensino) médio de escolas de acordo com o perfil dos alunos que recebem e com algumas características dos professores e de suas condições de trabalho.
Um dos itens considerados foi a complexidade da gestão. A tese é que estabelecimentos que atendem um menor número de alunos, num turno único, e que se dedicam apenas a um nível de ensino são mais fáceis de serem administrados do que colégios grandes, com estudantes de várias idades, e que funcionam em dois ou três turnos. Em seguida foram analisadas características dos professores. Se o profissional dá aula numa disciplina para a qual tem formação específica, atua numa escola com baixa rotatividade docente, e pode se dedicar integralmente a ela, em tese, tem melhores condições de trabalho e está mais preparado para ensinar.
Como era de se esperar, quanto melhores as condições da escola e dos professores, melhores os resultados no Ideb. Chama a atenção, porém, que colégios que atendem os alunos mais pobres, mesmo nas melhores situações, ficam ainda distantes daqueles que atendem os mais ricos, mesmo quando estes estudam em estabelecimentos com piores condições.
No pior cenário possível — de alunos de menor nível socioeconômico estudando em escolas de gestão complexa, professores com alta rotatividade e formação inadequada —, o Ideb registrado para o 9º ano do ensino fundamental é de apenas 3,3, numa escala de zero a 10. Em escolas com alunos igualmente pobres, porém estudando nas melhores condições possíveis, a média passa para 4. Esse 0,7 ponto pode parecer pouco, mas é um salto nada desprezível. O problema é que ele é insuficiente para alcançar a média de escolas que atendem os alunos de famílias mais ricas e escolarizadas, que, mesmo quando estudando nas piores condições observadas, apresentam Ideb de 5,3. No melhor cenário escolar, o Ideb das escolas que atendem esse público de maior renda chega a 6.
Fica mais uma vez evidente, a partir dos dados, que é uma miragem esperar que escolas que atendem os alunos mais pobres consigam, na média geral, igualar o desempenho das que trabalham com jovens de famílias mais ricas. Isso é ainda mais óbvio no contexto brasileiro, onde os estabelecimentos em que estudam esses mais pobres são, em geral, também piores em termos de infraestrutura. Para os autores, o estudo reforça a tese de que a eficácia do professor, além de ser influenciada pelo perfil dos alunos, é afetada também pelas condições das escolas em que trabalha. O modelo, no entanto, não abrange outras variáveis que impactam no aprendizado. É o caso de currículo, materiais didáticos, qualidade da formação docente, uso do tempo de aula e gestão do diretor, entre outros. É aí em que há muito a avançar, especialmente a partir da experiência de escolas que se destacam não por operar milagres, mas por apresentarem resultados melhores do que outras nas mesmas condições.

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