8 de agosto de 2015

HÉLIO SCHWARTSMAN , Darwinismo escolar


são paulo - O bonito na teoria da evolução é que ela constitui uma lei universal. Não sabemos se há vida em outros planetas, mas, se houver, e ela for constituída por unidades que buscam perpetuar-se, estão sujeitas a variação e competem por recursos, então as regras descobertas por Darwin se aplicarão.
Nem precisamos ir a outros planetas para constatá-lo. O fenômeno está aqui mesmo no Enem. O que mais salta aos olhos no ranking das notas é o poder da seleção. As melhores escolas (ou, ao menos, as mais bem pontuadas) são as que, de algum modo, podem selecionar bons alunos.
Isso fica escancarado no setor público, onde a diferença entre as instituições que promovem vestibulinhos, como as escolas técnicas ou as federais, e a rede comum, aberta a qualquer aluno, é importante. A nota média das dez escolas técnicas de melhor desempenho no Estado de São Paulo fica 75 pontos (3/4 de desvio padrão) acima da média das dez instituições estaduais regulares mais bem posicionadas.
Entre as privadas, o mecanismo é só um pouco mais sutil: a mensalidade. A renda dos pais é o fator que permite prever com maior precisão o desempenho escolar do aluno. Um modo eficaz para uma escola subir no ranking é simplesmente elevar o valor da mensalidade.
O Enem mimetiza outro fenômeno da biologia, a corrida armamentista evolutiva. Como a seleção é o elemento-chave e pode resultar em prêmio –escolas mais bem colocadas saem valorizadas–, algumas instituições começaram a usar artifícios para atrair os melhores estudantes ou mesmo a criar unidades compostas exclusivamente por geninhos. Para ajudar a desfazer essa ilusão, o MEC passou este ano a revelar também a taxa de permanência dos alunos, acusando assim os colégios que "importam" muitos estudantes no terceiro ano.
Nas próximas edições, podemos esperar novas estratégias de escolas para aparecer bem no ranking.

Folha de S.Paulo, 8/8/2015

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