8 de dezembro de 2014

Aumenta número de jovens fora do ensino médio, Paulo Saldaña








07 Dezembro 2014 | 23:59

Pouco mais da metade dos jovens brasileiros – 54,3% – conseguiram concluir o ensino médio até 19 anos em 2013; Os resultados indicam que as metas desenhadas pelo Todos Pela Educação para 2013 não foram alcançadas

O número de jovens com idade entre 15 e 17 anos fora da escola aumentou em 2013. São 1,6 milhão de jovens fora das salas de aula sem ter concluído o ensino médio, o que representa 15,7% do total dos jovens dessa faixa etária.
Em 2012, esse porcentual era de 15,2%, maior do que o do ano anterior. Esse indicador está estagnado desde 2008.
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Os dados foram levantados pelo Movimento Todos Pela Educação (TPE) a partir das informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013.
Pouco mais da metade dos jovens brasileiros – 54,3% – conseguiram concluir o ensino médio até 19 anos em 2013. O índice mostra uma pequena melhora em relação ao ano anterior (53%), mas a tendência é de estagnação. No ensino fundamental, a taxa de conclusão na idade adequada, até 16 anos, foi de 71,7%. Em 2012, era de 69,4%.
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Os resultados indicam que as metas desenhadas pelo Todos Pela Educação para 2013 não foram alcançadas nem no ensino fundamental, em que se esperava 84% de conclusão, nem no médio, estipulada em 63,7%.
Os índices calculados pelo TPE são metas intermediárias de um objetivo final que estipula que todos os jovens de 19 anos tenha concluído o ensino médio até 2022. Para a coordenadora geral do movimento, Alejandra Meraz Velasco, os dados mostram uma estagnação da educação básica, refletida no ensino médio. “O indicador de conclusão é o produto de todo sistema. As crianças estão tendo mais acesso à educação, mas isso não têm significado que consigam ir até o fim”. Alejandra cita o problema da falta de atratividade do ensino médio para o jovem como um dos motivos do mau resultado, mas ressalta que só combater isso não basta. “Os anos inciais e o ensino médio têm tido atenção, com o pacto pela Alfabetização e com os debates para reformulação do médio que estão em curso. Os anos finais do fundamental é que estão em um limbo”.
O Plano Nacional de Educação estipula que, em dez anos, a taxa líquida de matrículas no ensino médio seja de 85%. A taxa líquida representa o porcentual de jovens com idade certa na etapa escolar – no caso do ensino médio, na faixa de 15 a 17 anos. Esse índice teve leve variação negativa no país: passou de 54,4% em 2012 para 54,3% em 2013.
O porcentual de jovens entre 15 e 17 anos ainda no fundamental diminuiu, passando de 23,6% para 19,6% – refletindo melhora no fluxo do fundamental, mesmo que em ritmo lento. A variação também foi positiva no grupo que, com essa idade, já concluiu o médio, está na faculdade ou no curso pré-vestibular.
Abismo. Alejandra chama atenção para as diferenças de sucesso entre as divisões de renda e cor de pele. Enquanto 83,3% dos jovens mais ricos do país concluem o ensino médio na idade certa, apenas 32,4% conseguem fazer isso entre os mais pobres. “Temos um abismo educacional entre pobres e ricos.”
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No recorte por cor/raça, a conclusão na idade certa é conseguida por 65,2% dos brancos, enquanto entre os pretos esse índice é de 45% e entre os pardos, de 46,3%.



RIO — Ao ver a situação financeira ficar apertada em casa, o fotógrafo Sérgio Domingos, na época com 14 anos, precisou buscar um emprego. Ele morava em Duque de Caxias com a mãe e a irmã de 11 anos e a única renda da família era o salário mínimo recebido pela mãe como caixa de supermercado. Domingos cursava o 1º ano do ensino médio numa escola estadual pela manhã e passou a trabalhar como garçom à noite. Aos poucos, a escola perdeu para o cansaço, e a sala de aula ficou para trás.
— Não me sentia estimulado para seguir com os estudos. Chegava na escola e faltava luz, água e professor. Às vezes, tinha que repor as aulas aos sábados. Acabei desistindo — conta ele, que se prepara, aos 21 anos, para pegar o certificado de conclusão do ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos, no próximo dia 18.
Sérgio não está sozinho. Em 2013, pouco mais da metade dos jovens brasileiros (54,3%) concluiu o ensino médio até os 19 anos, idade considerada adequada para o término da educação básica. O levantamento feito pelo movimento Todos Pela Educação, organização não governamental que congrega representantes de diferentes setores da sociedade, com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, mostra que o país tem avançado lentamente e acende o alerta para o risco de estagnação. No ensino fundamental, a situação é melhor: a conclusão até os 16 anos foi alcançada por 71,7% dos jovens.
A pesquisa diz respeito ao monitoramento de um conjunto de metas para a educação definidas pela entidade, e que deveriam ser alcançadas até 2022, quando será celebrado o bicentenário da independência do país. Entre elas, a previsão de que, em 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos tenham completado o ensino fundamental e 90% ou mais dos jovens de 19 anos tenham concluído o ensino médio.
META SÓ ATINGIDA NOS TRÊS PRIMEIROS
Se não houver aceleração no ritmo dos avanços, as marcas dificilmente serão alcançadas. Os objetivos intermediários definidos para 2013 eram de 63,7% para o ensino médio (9,4 pontos percentuais acima da marca alcançada), e 84% para o fundamental (12,3 pontos percentuais acima do índice atingido). A observação do avanço histórico revela que o Brasil atingiu a meta para o ensino médio em 2007, ano que marca o início do monitoramento, e nos dois anos seguintes. Mas, a partir de 2010, houve um crescimento tímido nos indicadores, que se descolaram gradualmente das metas intermediárias.
— A taxa de conclusão do ensino fundamental vem apresentando crescimento, embora em velocidade menor do que a necessária para alcançar a meta. Já a trajetória da taxa de conclusão do ensino médio é preocupante, apresenta uma tendência de estagnação — avalia a coordenadora geral do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco. — O investimento e a melhora da qualidade do ensino médio são urgentes, mas devemos ter clareza de que o crescimento dos indicadores dependerá da melhoria da educação básica.
Ao analisar a situação evidenciada pela pesquisa, o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, classifica que o Brasil está “patinando” nos últimos anos, em função da maneira como as políticas em torno da educação vêm sendo executadas.
— A opção foi tentar resolver primeiro o mais fácil e depois o mais complicado. O mais fácil era criar mecanismos de gestão e ampliar as avaliações em larga escala — exemplifica. — Por isso, o pouco que foi feito até 2009 fez diferença. Agora é preciso entrar na agenda estrutural do Plano Nacional de Educação, aumentar investimentos e aprimorar processos pedagógicos.
Segundo ele, a grande maioria das escolas depende de mais participação financeira do governo federal para melhorar a formação dos profissionais, garantir um plano de carreira e incrementar as condições de infraestrutura e equipamentos — investimento importante no ensino médio.
— O aluno quer uma escola em que se sinta bem: atrativa, com bons espaços e tecnologia.
Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), José Francisco Soares reconhece que há um longo caminho pela frente, mas diz que os dados mostram que “a educação está se movimentando”.
— É claro que, tendo o Brasil começado a se preocupar com a educação muito tardiamente, ainda estamos longe do ideal. Mas o que é bom que estamos caminhando — diz. — Além disso, a Todos Pela Educação tem o seu modo de pensar, mas as metas que o governo considera são a dos Plano Nacional de Educação e estamos vendo melhorias, o que não nos impede de ver o tamanho do caminho a trilhar — afirma, destacando programas como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
O Plano Nacional de Educação, aprovado em junho deste ano, estabelece as estratégias de educação para o Brasil pelos próximos dez anos em 20 metas. Entre as quais, a de universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85% nesta faixa etária. E universalizar o ensino fundamental de nove anos para a população de 6 a 14 anos.
LEVANTAMENTO EVIDENCIA ABISMOS SOCIAIS
O estudo do Todos Pela Educação também traz à tona as disparidades raciais e socioeconômicas do Brasil. A taxa de jovens declarados brancos que concluíram o ensino médio aos 19 anos é de 65,2%. Entre os negros, o índice cai para 45%. No ensino fundamental, esses percentuais são de, respectivamente, 81% e 60%.
Quando levados em consideração os aspectos socieconômicos, a diferença é maior. O quartil mais pobre apresenta taxa de conclusão no ensino médio igual a 32,4%, enquanto os 25% mais ricos têm um percentual de 83,3%. No fundamental, os índices são 59,6% entre os mais pobres e 94% entre os mais ricos. A variação também muda conforme a localidade. Em áreas rurais, o percentual de alunos que concluem o ensino médio até os 19 anos (35,1%) é menor que o das áreas urbanas (57,6%).
A solução para tamanhas diferenças, segundo Daniel Cara, está no desenvolvimento de políticas públicas ligadas a essas disparidades. Como o investimento na educação nas periferias:
— O professor precisa receber adicionais para trabalhar em áreas de vulnerabilidade, e escolas dessas regiões necessitam de incentivos extras.
Entre as cinco regiões brasileiras, o Norte apresenta a taxa mais baixa de jovens que terminaram o ensino médio até os 19 anos (40,4%) e o Sudeste a mais alta (62,8%). No comparativo, o Nordeste teve o maior crescimento, com elevação de 13,5 pontos percentuais desde 2007. O Sudeste e o Sul ficaram com o menor crescimento: 5,2 pontos percentuais em relação ao início do monitoramento. Na região Centro-Oeste, a regressão nas taxas em 2012 ainda não alcançaram os níveis de 2011.
Em relação ao ensino fundamental, o Nordeste também registrou a maior evolução, com 15,7 pontos percentuais, desde 2007. Mas a região apresentou segundo pior resultado de 2013 (60,4%), estando à frente do Norte (57,6%). Já o Sudeste é a região com maior índice de conclusão dessa etapa na idade prevista (81,2%), apesar ter apresentado o menor crescimento desde 2007 (5,2 pontos percentuais). A situação observada na região Centro-Oeste é a mesma do ensino médio.

Apenas 54,3% dos jovens concluíram ensino médio até os 19 anos em 2013

A distorção entre a idade e a série vem diminuindo gradualmente desde 2007
Levantamento divulgado hoje (8) pelo movimento Todos pela Educação mostra que, em 2013, apenas 54,3% dos jovens brasileiros conseguiram concluir o ensino médio até os 19 anos. O indicador foi calculado com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013.
O índice, no entanto, vem apresentando melhora ao longo dos anos. Em 2007, 46,6% dos jovens concluíram o ensino médio até os 19 anos. Em 2009, foram 51,6% e, em 2012, 53%.
Uma das metas propostas pelo Todos pela Educação para que se garanta educação de qualidade é que até 2022 pelo menos 90% dos jovens concluam o ensino médio até os 19 anos.
A coordenadora-geral do movimento, Alejandra Meraz Velasco, diz que os dados mostram que as melhorias feitas no ensino fundamental não se traduziram em melhoria automática no ensino médio. Ela defende a reformulação do ensino médio, de forma a tornar essa etapa mais atrativa aos jovens.
“Temos a necessidade de reformular o ensino médio, ter um ensino médio que converse mais com os jovens. Temos hoje, na maioria dos estados, um número exagerado de disciplinas”, acrescenta.
No ensino fundamental, a conclusão até os 16 anos foi alcançada por 71,7% dos jovens. A meta definida pelo Todos pela Educação é que até 2022 pelo menos 95% dos jovens completem o ensino fundamental até essa idade.
O levantamento mostra ainda que ao se levar em conta a raça, a parcela de jovens negros que concluem os ensinos fundamental e médio mais tarde é maior que a dos jovens brancos. Os declarados brancos que concluíram o ensino fundamental aos 16 anos são 81% e os que concluíram o ensino médio aos 19 anos são 65,2%. Em relação aos negros, esses percentuais são 60% e 45%, respectivamente.
“O indicador tem grande impacto e mostra que ainda há grande disparidade. Vemos um abismo entre raças, entre o meio urbano e o rural e de faixa de renda. Vemos a brecha do acesso se fechando”, diz Alejandra Velasco.
A distorção entre a idade e a série vem diminuindo gradualmente desde 2007. Apesar da redução contínua, no ano passado 33,1% dos alunos do ensino médio estavam com atraso escolar já no 1° ano, segundo o levantamento. A diferença de dois anos entre a idade do aluno e idade prevista para a série em que ele deveria estar matriculado é o parâmetro utilizado no cálculo da distorção idade-série.
“Essa distorção é provocada, em boa medida, pela reprovação. E esse histórico de fracasso escolar vai, no longo prazo, contribuir para o abandono escolar” diz a coordenadora-geral do Todos pela Educação, Alejandra Velasco. Uma alternativa para o problema, segundo ela, é o reforço escolar ao longo do ano letivo para que o estudante chegue ao final da série com o conhecimento adequado e não seja reprovado.

(Yara Aquino / Agência Brasil)

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