15 de setembro de 2014

Violencia: Faltam propostas consistentes de combate à violência, diz pesquisador

ELEIÇÕES 15/09/2014, O Povo Online

Organizador do Mapa da Violência esteve em Fortaleza e criticou propostas de redução da maioridade penal apresentadas por candidatos. Julio Jacobo lembrou que a educação é o melhor meio de inclusão social

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FOTOS MAURI MELO
O pesquisador e coordenador do Mapa da Violência, Julio Jacobo Waiselfisz, participou de seminário no Cuca do Mondubim
O pesquisador da violência Julio Jacobo Waiselfisz criticou a forma como os investimentos em segurança são feitos no País, em detrimento de gastos com a educação. Em ano de eleições, quando diversos candidatos relacionam propostas como a redução da maioridade penal à possibilidade de menos violência, o pesquisador, que organiza o Mapa da Violência, alerta: “a humanidade não inventou, até hoje, melhor mecanismo de inclusão social que a educação”. 

Julio participou do Seminário Pela Vida da Juventude: Discutindo o Mapa da Violência 2014, em Fortaleza, no último sábado, 13. O encontro aconteceu no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) do Mondubim.

Julio Jacobo, que é também coordenador da área de estudos sobre a violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), defendeu que faltam propostas de candidatos que abordem uma “política nacional de enfrentamento à violência” consistente. “Apesar de estarmos em época de eleição, e todo mundo falar de violência, não vemos propostas em condições de enfrentamento real da violência. Como fazer? Com que recursos?”, questionou, criticando o investimento em repressão.

“Até quando eles acham que a idade penal pode influenciar na violência? Se diminuirmos para 16 anos (a maioridade), eles vão entrar com 14 e 15 anos na criminalidade. Diminuindo os 14 e 15, vão entrar com 10 anos. Daqui a pouco vamos exigir certidão de salvo-conduto a recém-nascidos. Não há saída nessa lógica. O aumento da rigidez penal não está correlacionado à diminuição da violência”, indicou.

Ele destacou que, conforme as pesquisas, quatro entre cinco vítimas de homicídios no Brasil são jovens negros. “Nossas medidas de hoje são insuficientes. É como se tivéssemos um paciente internado na UTI, com uma a febre que continua a aumentar. O culpado não é o paciente. É o remédio que estamos dando. Se a violência de jovem para jovem continua a aumentar, o remédio ainda é insuficiente. Não sei se o problema é a dose. Não sei se o remédio é o certo. Só sei que a coisa tende a piorar”, alertou o pesquisador.

Ceará
No seminário, Julio Jacobo citou que o Ceará é o terceiro estado mais violento do País, mas nem sempre foi assim. Segundo ele, em 1998, o Ceará registrou 13 homicídios a cada grupo 100 mil habitantes, ocupando o 17º lugar do ranking nacional. Em 2012, porém, a taxa chegou a 44,6 homicídios por 100 mil. 

Jacobo contou que acompanha os números da violência no Ceará e o Estado é “reconhecido nacionalmente por, nos últimos anos, ter feito um aumento expressivo dos investimentos em segurança pública. Não obstante a isso, houve um aumento expressivo nos níveis de violência pública”.

Para o pesquisador, o Estado precisa de investimentos na qualificação e educação dos jovens, e não apenas “investimentos para redução dos índices de violência”. (Thiago Paiva)

Saiba mais

O seminário foi promovido por meio de articulação entre o Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (Fórum DCA), a Rede de Articulação do Jangurussu e Ancuri (Reajan), a Rede DLIS e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Mulher, da Juventude, da Criança e do Idoso da Câmara dos Vereadores de Fortaleza.

O encontro foi aberto ao público e lotou o auditório do Cuca do Mondubim, no último sábado. Cerca de 300 jovens compareceram ao evento.

Organizador de atlas estatístico aponta melhorias e desafios

15.09.2014

O sociólogo Júlio Jacobo lamenta atrasos e lentidão, mas aponta os Cucas como iniciativas válidas em Fortaleza


Mapa da violência
O organizador do Mapa da Violência, Júlio Jacobo, conheceu, no último fim de semana, o Cuca Mondubim, onde participou do seminário "Pela Vida da Juventude". Para ele, só no futuro será possível avaliar o resultado dos projetos sociais
A violência de que os jovens são vítimas é tão endêmica que as escolas não estão de fora, quando não são elas próprias o lugar para acerto de contas. "Na minha escola, não se assuste, mas já tivemos oito salas sem professor. Mas falta respeito tanto da parte de professores como de alunos". Quem diz é Conceição dos Santos, de 16 anos, estudante de uma escola municipal no bairro Mucuripe. Ela é uma das mediadoras de conflitos na escola, canal entre estudantes e professores. Dividiu o espaço, no último fim de semana, com Júlio Jacobo, organizador nacional do Mapa da Violência. Ambos participaram do "Seminário pela vida da juventude", no Centros Urbano de Cultura, Ciência, Arte e Esporte (Cuca) Mondubim.
"Já devíamos ter saído da fase da conscientização para a da mobilização verdadeira". Mesmo lamentando atraso e lentidão, o sociólogo Júlio Jacobo, organizador do Mapa Nacional da Violência, acredita que muita coisa já avançou.
Ainda que os índices de violência tenham aumentado, ele consegue ser otimista enquanto houver espaço para dizer que o jovem deve ser protagonista de sua própria história. Foi o que conferiu, e aprovou, no último fim de semana em encontro no Cuca Mondubim, na periferia de Fortaleza. Jacobo era a participação mais aguardada do seminário, afinal, o Mapa da Violência é um verdadeiro atlas estatístico sobre as mortes violentas.
O mapa desnuda uma realidade até pouco tempo camuflada. Entre 2002 e 2012, houve um crescimento de 13,4% de homicídios no País. O jovem negro da periferia tem aumentadas em 19 vezes as chances de morrer dos 13 aos 21 anos de idade.
No Ceará, a população entre 15 e 29 anos é a maior vítima de homicídios (63%). Curiosamente, o livro nacional feito de estatísticas reflete para uma realidade além dos números. Expõe, sem dizer nenhum, os nomes-alvo do quadro de exclusão violenta, em que predomina o jovem negro e pobre. Sua exposição repercute e constrange, força os governantes e a sociedade a tomarem medidas.
Capital social
"O problema é que ações são feitas e qual a extensão delas. Veja a quantidade de instituições em torno da violência contra crianças. Bancos, empresas, governos. Qual o retorno de capital social? Ninguém sabe. O que se sabe é: capacitamos 30 mil, discutimos o problema, mas qual o resultado do trabalho? Isso não sabemos ainda", afirma Júlio Jacobo, em entrevista ao Diário do Nordeste. Defende que só em um futuro próximo será possível medir os reais resultados de projetos sociais e instalações para esse fim, como os projetos sociais desenvolvidos no Cuca Modumbim, que ele vê como uma iniciativa pontual, mas válida. "É pelas possibilidades válidas que eu sou otimista até hoje", ressalta.
Para o sociólogo, o Brasil tem leis avançadas, o problema é a aplicação. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um modelo quase internacional de legislação de proteção. "Mas há uma questão prévia: você precisa de leis específicas porque as leis gerais não estão funcionando. Ninguém criaria uma lei para infância e juventude se essas crianças estivessem protegidas legalmente, as leis mais amplas sendo cumpridas", acredita.
Jacobo se diz preocupado com o avanço de discursos que defendem a redução da maioridade penal. "Se você tem uma criança com febre de 40 graus e dá um remédio e não resolve, você não culpa a criança, culpa o remédio. O remédio não é suficiente ou não é adequado".
Para o especialista, existe resposta para o segundo passo não ter sido dado. "Não existe uma política nacional de enfrentamento da violência. Tudo o que vemos por aí são iniciativas, mesmo se inclui esfera federal, pontualmente com alguns estados".
O seminário "Pela Vida da Juventude" resultou de uma articulação entre o Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos da Criança.
Melquíades Júnior
Repórter

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