17 de setembro de 2014

Combate ao aquecimento global favorece a economia, diz relatório


Documento de comissão global estima volume de investimentos até 2030 para conter emissões
Gasto seria pequeno perto dos prejuízos causados pela poluição, afirma texto que será debatido em cúpula
MARCELO LEITEDE SÃO PAULO, Folha de S.P., 17/9/2014
Uma fração do que o mundo gasta com subsídios ao petróleo permitiria evitar um aquecimento perigoso da atmosfera, segundo um relatório sobre economia do clima lançado nesta terça (16).
Um dos coautores do documento é Nicholas Stern, barão britânico que já foi economista-chefe do Banco Mundial e publicou em 2006 o célebre estudo "Relatório Stern", primeiro a defender uma relação custo-benefício positiva para ações contra a mudança do clima.
"Podemos combinar crescimento com responsabilidade no clima? A resposta é sim", disse Stern em entrevista coletiva por telefone. Basta que governos deem os incentivos corretos ao setor privado. "O risco induzido por políticas de governo é o maior inimigo do investimento no mundo todo", afirmou.
O relatório, "Crescimento Melhor, Clima Melhor" (newclimateeconomy.report), foi lançado pela Comissão Global sobre Economia e Clima. Ela foi criada por sete países (Reino Unido, Suécia, Noruega, Coreia do Sul, Colômbia, Indonésia e Etiópia) e é chefiada por Felipe Calderón, ex-presidente do México.
O objetivo do trabalho é influenciar a Cúpula do Clima convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para a semana que vem em Nova York. Será a primeira grande reunião de chefes de Estado para tratar do tema após o fracasso da Conferência de Copenhague, em 2009.
O encontro decisivo está marcado para 2015 em Paris, quando teria de ser adotado um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que tinha metas de redução de emissões de gases-estufa.
MARCA PERIGOSA
As estimativas sobre o subsídio dado a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, variam entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão por ano.
Segundo o relatório, com investimento adicional de US$ 270 bilhões anuais, seria possível realizar pelo menos 50% do corte nas emissões de carbono necessárias para evitar que o aquecimento global ultrapasse a marca de 2°C.
Acima desses 2°C, os modelos climáticos predizem que o clima sofreria perturbações sérias: secas, ondas de calor e inundações mais graves e frequentes. Os próximos 15 anos, diz o texto, são cruciais para impedir isso.
O investimento adicional seria para inovações em três setores chave para emissões de carbono: energia, uso da terra (agricultura e desmatamento) e cidades. Em lugar de US$ 89 trilhões em 15 anos (2015-2030), a conta subiria para US$ 94 trilhões, um acréscimo de 4,5% -- US$ 1 trilhão seria compensado com ganhos de eficiência.
É pouco, argumenta o relatório, se comparado com os custos não contabilizados da opção preferencial por combustíveis fósseis para gerar eletricidade e movimentar veículos. Só o impacto da poluição do ar sobre a saúde pública custaria em média 4% do PIB de cada país (no caso da China, mais de 10%).
O texto propõe investimentos para tornar mais competitivas as energias renováveis, e as cidades, mais compactas, o que reduziria gastos com transporte em até 50%.
No setor agroflorestal, defende redução no desmate e aumento de 1% ao ano na produtividade agrícola. Se 10% das terras degradadas fossem recuperadas para o cultivo, estima o trabalho, seria possível produzir alimentos para 200 milhões de pessoas.
O projeto Nova Economia do Clima inclui um relatório sobre o Brasil, realizado pelo Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio. O estudo brasileiro será publicado em novembro.

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