6 de maio de 2014

Professores criam plataforma para escrever e publicar livros gratuitamente

Projeto Latin America Open Text Books Initiative (LATIn) teve financiamento de 2 milhões de euros da União Europeia; estimativa é que 144 livros didáticos sejam publicados - por enquanto, há 12 prontos

06 de maio de 2014 | 3h 00

Marina Azaredo - Estadão.edu
Maria Amélia tem obra gratuita - JF Diorio/Estadão Conteúdo
JF Diorio/Estadão Conteúdo


Muitos professores adotam livros digitais em suas aulas, mas Silveira, Omar e Macedo deram um passo à frente: eles perceberam que poderiam publicar seus próprios livros sem o intermédio das editoras, sejam elas tradicionais ou digitais.Preocupados com uma questão que afeta principalmente alunos dos países em desenvolvimento - o alto custo dos livros didáticos para o ensino superior -, os professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie Ismar Frango Silveira e Nizam Omar se juntaram a um grupo de docentes latino-americanos e desenvolveram uma plataforma para escrever e publicar livros gratuitamente. Já o professor de fotografia Neto Macedo, de Montes Claros, em Minas, incomodado com a linguagem técnica das publicações, escreveu sua própria apostila no Widbook, comunidade de escrita e leitura em formato de e-book.
“Em muitas áreas do conhecimento, os livros são traduções e não se encaixam na realidade nacional. Alguns livros de Física, por exemplo, falam de trenós na neve. Isso é muito fora da realidade de um aluno brasileiro”, diz Silveira.
Foi tentando resolver o problema que, com professores de mais oito universidades, Silveira e Omar conseguiram um financiamento de R$  2 milhões por meio de edital da União Europeia para projetos na América Latina e começaram o Latin America Open Text Books Initiative (LATIn).
A estimativa é de que a solução resultará em 144 livros didáticos abertos - por enquanto, há 12 prontos. As obras podem ser livremente e legalmente copiadas, baixadas, impressas e distribuídas, por qualquer pessoa.
Os livros são escritos de forma colaborativa, por mais de um professor ao mesmo tempo. “Achei uma oportunidade de interagir com professores de fora do Brasil. Dividimos as tarefas e, com a Universidad Nacional de Rosario, na Argentina, desenvolvi a parte multimídia”, diz Maria Amélia Eliseo, coautora da obra A Origem das Cidades Modernas Capitalistas, escrita por docentes de dez países.
Outra característica das obras é a possibilidade de customização. “A ideia era justamente criar recursos educacionais abertos, que pudessem ser editados pelos professores”, diz Omar.
O próximo passo é a expandir o projeto para outras universidades e para o ensino básico. “Um grupo de docentes do Paraná fez contato, mas ainda precisamos adaptar a plataforma, pois os ensinos fundamental e médio têm demandas diferentes”, afirma Silveira. 
Criação. Já o Widbook foi criado após o pedido do educador Marcos Eberlin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para que Flávio Aguiar, então dono de uma agência digital na época, construísse um site onde ele pudesse escrever e publicar seu livro Fomos Planejados. Além da simples publicação, a intenção dele era que as pessoas pudessem ler e participar do processo de escrita. “Queria um livro bastante dinâmico, que eu pudesse acessar de qualquer lugar e colocar os capítulos no ar na medida em que escrevo, para que todo mundo pudesse ler”, diz.
Criada em 2012, hoje a rede tem 200 mil membros, que publicam todo tipo de obra. “Predominam os livros de ficção, mas há muitos didáticos também, grande parte feita em colaboração entre professores e alunos”, afirma Joseph Bregeiro, um dos criadores da plataforma.
“Eu encontrava muitos materiais bons, mas com linguagem complicada, mais pareciam artigos. Queria algo com uma linguagem mais acessível, em que o leitor sentisse estar participando de uma conversa”, conta Macedo, professor da Universidade Pitágoras e de workshops de fotografia.
Apesar de admitir que o livro digital ainda encontra certa resistência no meio acadêmico, os professores dizem acreditar que as ferramentas de publicação colaborativa tendem a crescer. “Estamos em um novo século, com uma conexão melhor que torna isso possível. É hora de repensarmos a nossa maneira de fazer livros”, afirma Silveira.
Participam do LATIn: 
Univ. Presbiteriana Mackenzie, Escuela Superior Politécnica del Litoral (Equador), Univ. de la República (Uruguai), Univ. Nacional de Rosario (Argentina), Univ. Autónoma de Aguascalientes (México), Univ. Austral de Chile, Univ. Central de Venezuela, Univ. Católica San Pablo (Peru), Univ. del Cauca (Colômbia), Universiteit Leuven (Bélgica), Univ. de Alcalá (Espanha) e Univ. Paul Sabatier (França)

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