20 de janeiro de 2014

Shoppings pedem ajuda federal contra 'rolezinhos'


Associação de lojistas relata prejuízo e medo de consumidores com eventos
Alshop quer que o governo se reúna com líderes e negocie o fim dos eventos, que já ocorrem em todo o país
YURI GONZAGALEANDRO MACHADODE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 20/1/2014

A Alshop, associação que representa lojistas de shoppings de todo o país, vai pedir ajuda federal para que os "rolezinhos" sejam suspensos nos centros de compras.
Como os eventos deixaram as fronteiras de São Paulo, a associação teme o aumento dos prejuízos. Os centros de compras têm optado por fechar as portas para impedir a realização dos "rolezinhos".
Na avaliação da associação, os eventos também levam insegurança e perturbam os consumidores.
Os jovens que promovem os eventos pelas redes sociais dizem que só querem se divertir, dançar, namorar e passear dentro das instalações.
"Vamos entrar em contato com a Presidência [da República] para tentar uma reunião. A Dilma [Rousseff], que chamou as lideranças das manifestações do ano passado, tem de chamar as lideranças desses eventos também", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.
Para ele, é preciso "proibir que façam esse tipo de convocação. Caso sejam menores, responsabilizar os pais".
O presidente da Alshop cobrou também mais policiamento e punição aos organizadores dos "rolezinhos".
"Se você tem uma casa e alguém a invade, vai fazer algo para não acontecer novamente. Vamos levar até as ultimas consequências a questão da inoperância. A lei está a nosso favor."
PREJUÍZOS
No final de semana, o shopping JK Iguatemi, na zona oeste de São Paulo, fechou as portas quase dez horas antes do horário normal porque um grupo de cerca de cem pessoas queria entrar no local para fazer uma manifestação contra o racismo.
Lojistas do estabelecimento relataram prejuízos de até R$ 40 mil com o dia perdido.
Um funcionário da Ofner, que não quis se identificar, afirmou que a doçaria deixou de ganhar ao menos 90% do que costuma faturar em um sábado normal.
Já o restaurante Forneira San Paolo informou que deixou de ganhar cerca de R$ 10 mil com o fechamento.
No Rio, o Shopping Leblon não funcionou ontem com receio de um "rolezinho" combinado pelas redes sociais para o local às 16h30.
"No shopping tem mulheres grávidas, crianças, pessoas idosas que entram em pânico quando o local é invadido por 400 ou 500 jovens que saem correndo pelos corredores. Estamos revoltados. Os consumidores estão revoltados", diz Sahyoun.
Segundo a Alshop, os centros de compras geram 1,5 milhão de empregos no país.
Donos dos centros comercial têm procurado a Justiça para conseguir liminares que impeçam a realização dos atos. A medida deve continuar sendo tomada.
"Entramos na Justiça para conseguir proteção, para evitar que bandos entrem no shopping, mas isso não foi suficiente. As autoridades não tomaram uma atitude no sentido de proteger esses empreendimentos."
POLÍCIA
Após ação policial em um "rolezinho" no shopping Metrô Itaquera, no começo do mês, com bombas de gás e balas de borracha, movimentos sociais como o dos sem-teto passaram a apoiar e a promoverem também eventos dentro de centros de compra.
Nesta semana, ao menos dez encontros estão marcados pelas redes sociais para acontecer em shoppings e parques de todo o país.

Shoppings de luxo do RS e do Rio são alvo de 'rolezinhos'
Eventos ganham conotação política e se distanciam de 'rolezinhos' originais
Centro de compras no Leblon não abriu ontem; em Porto Alegre, evento não registrou incidentes
LUCAS VETTORAZZODO RIOFELIPE BÄCHTOLDDE PORTO ALEGRE

A onda de atos em apoio aos "rolezinhos" atingiu ontem shoppings de luxo no Rio e em Porto Alegre.
O tom político e o clima das manifestações de junho tomou conta do que seria um "rolezinho", marcado para às 16h20 de ontem no Shopping Leblon, na zona sul carioca.
A maior parte dos que se reuniram em frente ao shopping já havia participado dos protestos do ano passado.
Apenas um grupo apareceu com o intuito de fazer o "rolezinho" na sua forma clássica. Formado por dois maiores e três menores, a turma composta por moradores da Rocinha, chegou ao local em bicicletas e skates.
"Eu vim para dar um rolé com a minha gata no shopping, conhecer gente nova, mas pelo visto é manifestação. Vou dar rolé na praia de skate mesmo", disse Ricardo Israel, 22, vendedor e cantor.
O Shopping Leblon não abriu ontem depois que uma liminar que proibia o evento foi cassada pelo Tribunal de Justiça. Do outro lado da rua, um outro shopping, o Rio Design Leblon, também fechou.
Além do tradicional grito "não vai ter Copa", os manifestantes arriscaram gritar palavras de ordem contra o shopping: "Ih, ih, ih, deixa eu entrar pra consumir"' ou "Alerta, alerta, alerta à burguesia. Ou deixa o rolezinho ou vai ter ato todo dia".
O público que entrava no teatro ao lado para ver um musical sobre Elis Regina chegou a ser hostilizado por manifestantes. "Ei, burguês, a culpa é de vocês", gritavam.
Pelo menos cinco carros da Polícia Militar, quatro da Guarda municipal e três grupos de vinte policiais acompanharam a manifestação.
LIMINAR
Em Porto Alegre, o Moinhos Shopping, um dos mais luxuosos do Estado, foi à Justiça para tentar barrar o primeiro "rolezinho" organizado na cidade. O evento foi mantido, mas reuniu poucos participantes.
O shopping conseguiu uma liminar proibindo atividades que pudessem "interferir no funcionamento" do local. Um oficial de Justiça entregou uma notificação judicial a um dos organizadores.
O analista de sistemas Fábio Fleck, 27, que recebeu a ordem judicial, disse que a intenção do evento era prestar solidariedade aos participantes dos "rolezinhos" de São Paulo. "É uma crítica à desigualdade social. O movimento está sendo criminalizado, o que não pode acontecer", afirmou.
Um dos grupos presentes ao "rolê", composto por 12 jovens militantes da União da Juventude Socialista, organização estudantil ligada ao PC do B, entrou no shopping, cantou músicas de funk e entrou em alguns estabelecimentos.
Em uma loja de vestidos, tiraram peças do mostruário e deixaram os responsáveis apreensivos. "Não vou levar porque é muito caro", disse, em tom de brincadeira, um participante do movimento.

DEPOIMENTO
Peguem as minas, mas deixem os clientes dos shoppings em paz
LUIZ FELIPE PONDÉCOLUNISTA DA FOLHA

Final de tarde no Center Norte, sábado, 18 de janeiro. Um calor de matar. Lotado. Minissaias, shortinhos, camisetas, bermudas, sorvetes. Carrinhos de bebês. Ar-condicionado cansado. Parece praia de paulista.
Gente comum, aquele tipo de gente que os movimentos sociais dizem defender, mas que na realidade detestam, justamente pelo seu amor aos shoppings e ao consumo.
Se as autoridades cometeram erros na primeira abordagem da baladinha de periferia conhecida como "rolezinho", os movimentos sociais mais uma vez revelaram seu lado B: são antissociais, míopes, e geradores de ressentimento e ódio. Esses revolucionários do Face são tão alienados quanto "as zelite brasileira".
Nada de novo no front: as ciências sociais não entendem nada de gente de verdade. Consideram essa gente sua inimiga porque ela não cabe em caixinhas ideológicas.
O resumo da ópera do pânico com os "rolezinhos" é "polícia demais no começo, sociologia demais no fim".
Até uma alta autoridade do governo cometeu o pecado comum de governos racistas: "esse pânico é coisa de branco". Não há política nos "rolezinhos" (nos verdadeiros), pelo menos não a política que os revolucionários do Face apreciam.
Converso com algumas pessoas no shopping. Em meio à população autóctone, muitos adolescentes com roupa "kit rolezinho". Uma paisagem normal.
Dizer que o medo que as pessoas nos shoppings tiveram do "rolezinho" é preconceito é típico da ignorância dos movimentos (anti) sociais, do tipo que quis invadir o JK Iguatemi anteontem.
O que assustou as pessoas (e não falo de "rico", falo da gente comum que anda e trabalha nos shoppings) foi o número de jovens de uma vez só, a correria, o barulho e alguns furtos.
Ninguém gosta de bagunça no shopping. Ora, sempre que há multidão, há risco, isso nada tem a ver com racismo ou luta de classes. Quem pensa que tem é a "playboyzada esquerdopata" dos colégios de rico da zona oeste, mitomaníacos sociais.
Olhando para o cenário e para os "atores sociais" ali, eu diria: deixem as pessoas andarem em paz nos shoppings. Que consumam em paz. E se der pra pegar uma mina, melhor.

    DEPOIMENTO
    Fechar as portas é obsceno e mostra histeria do urbanoide acuado
    BARBARA GANCIACOLUNISTA DA FOLHA
    O deprimente espetáculo que testemunhei na tarde de sá­bado na entrada do shop­ping JK Iguatemi, na Vila Olímpia, em São Paulo, despertou minha imaginação.
    E se a "invasão" fosse in­versa? Enquanto os tambores da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negros) imploravam atenção em frente ao shopping, eu montava um cenário mental.
    Nele, vans chegariam de surpresa a Paraisópolis com playboys e patricinhas dos Jardins, de camisetas com o dizer "#partiurolezi­nho" e pulseirinhas VIP do evento. Seria tão despropositado quanto a existência da camiseta "100% branco", não?
    Cheguei ao shopping JK às 12h e notei a vitrine da Bulgari careca. Logo depois, três gatos (pardos) pingados do protesto contra shoppings "antirrolezistas" deram as caras e o shopping fechou as portas.
    O shopping JK não se mostrou preocupado em perder as vendas ou com a propaganda negativa pelo gesto. Não permaneceu um só interlocutor para conversar com os manifestantes. Sobraram só seguranças e porta cerradas.
    "O shopping não terá a imagem prejudicada", diz um dos manifestantes. "Ao contrário, a clientela aprova a demonstração de força". Será?
    Maria das Dores, moradora da ex-favela Funchal, vizinha ao shopping, que estava passando por ali, puxa conversa: "Se a garotada fosse bem-educada poderia entrar no shopping, mas não é".
    Como? Será apenas questão de educação? Não são cor e classe social que destoam? Ela garante que não. "Veja o Obama, educou-se e chegou lá". Entendeu, Martin Luther King? Sacou, Malcolm X?
    A obscenidade das portas fechadas em pleno sábado é expressão da histeria que domina a psique do urbanoide acuado. A engenheira Lucia Santos dá sua receita para o tema: "Deveriam começar a controlar a partir da internet".
    Lembro a ela que existem casos de estudantes brancos, de "bixos" (pessoal da FEA no Eldorado, está no YouTube) que fazem fuzarca, mas que ninguém chama polícia ou entra em pânico com isso.
    "Mas estes de agora são orquestrados", ela adverte. Pergunto por quem. "Pessoal no meu trabalho diz que é pela Dilma, o Lula". E se não for? Ela reconsidera: "Bem, nesse caso... Quando é branco ninguém faz nada... Então eu acho que todos devem ter o direito de se manifestar".

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