22 de setembro de 2013

PRISCILA CRUZ Fazendo contas (ensino de matemática)


É compreensível que tão poucos alunos aprendam de fato matemática. Essa é a disciplina com o maior deficit de educadores em São Paulo
Todos sabem da importância da matemática. E quanto mais a conhecemos, mais nos maravilhamos com a sua capacidade de descrever o mundo. O físico quântico Paul Dirac dizia que "se Deus existe, ele é um grande matemático".
Entretanto, a matemática ainda é um bicho-papão para muitos alunos da Educação Básica. Segundo a Prova ABC, somente 33% das crianças aprenderam os fundamentos desse campo das ciências ao final do 3o ano do Ensino Fundamental (EF). Portanto, logo na partida, apenas uma minoria aprendeu o que deveria "" e que é direito seu.
Ao final do Ensino Médio, quando os jovens estão prestes a entrar no mundo do trabalho ou na universidade, apenas 10% deles estão plenamente preparados em matemática. E, nessa etapa, estamos desde 1999 estacionados no mesmo patamar de baixa aprendizagem apesar de o investimento per capita ter mais que dobrado nesse mesmo período.
Não obstante a desigualdade educacional em nosso país estar em declínio, a fotografia atual mostra que ela é ainda muito intensa. Por exemplo, enquanto o Rio de Janeiro, estado que apresenta os melhores resultados em matemática no Ensino Médio, tem 16% dos alunos com aprendizagem adequada, no Acre são apenas 3%.
É amplamente conhecido que as diferenças em relação às condições socioeconômicas das famílias explicam parte das desigualdades educacionais. Assim sendo, caberia ao poder público estabelecer políticas, em parceria com a sociedade, que pudessem reduzir tais desigualdades, promovendo uma maior e melhor distribuição de recursos "" técnicos e financeiros "" a quem atende a parcela da população mais vulnerável. Por outro lado, é preciso mais autonomia para quem conquistou patamares de resultados mais elevados.
O mais estratégico dos recursos é o professor. O Brasil vive uma escassez de professores no campo das ciências exatas e da natureza, especialmente no de matemática, sem falar que a atual formação inicial se encontra distante da realidade da escola desejada e necessária para os alunos do século 21.
Dados recentemente divulgados pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo mostram que só na rede estadual paulista faltam mais de 10 mil professores de matemática, sendo essa a disciplina com o maior déficit de educadores. Quando olhamos para a formação dos professores de matemática no Brasil, em termos quantitativos, vemos que 64% dos que dão aula da disciplina no Ensino Médio têm licenciatura em Matemática; já nos anos finais do Ensino Fundamental, são apenas 35%.
Os demais professores dessa disciplina são formados em outras áreas. Assim, infelizmente, faz sentido que tão poucos alunos aprendam matemática e, consequentemente, tão poucos jovens escolham essa carreira no acesso ao Ensino Superior.
Caso o país queira dar um salto na aprendizagem dessa disciplina, é preciso, portanto, romper com o círculo atual e estabelecer um novo. Um círculo virtuoso, capaz de incluir os milhões de alunos que estão ingressando na vida adulta sem um importantíssimo e determinante conjunto de conhecimentos básicos. É hora de somar esforços para diminuir as diferenças.

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