25 de maio de 2013

Mulher, seu corpo é um campo de batalha

Por  | Mexidão – 17 horas atrás, 25/5/2013, Yahoo

Acontece neste sábado, 25 de maio, na Praça do Ciclista, encontro da Avenida Paulista com a Rua da Consolação a terceira edição da Marcha das Vadias de São Paulo. O evento, que acontece com maior ou menor organização em outras 17 cidades do país, reuniu 2 mil pessoas ano passado na capital paulista e promete reunir muito mais este ano. A concentração começa meio dia com a preparação de cartazes e a marcha começa às 14h. Mulheres e homens percorrerão um trecho da Avenida Paulista e descerão pela Rua Augusta até chegar a Praça Roosevelt.
Em entrevista exclusiva, o coletivo Marcha das Vadias Sampa respondeu a algumas perguntas que ajudam a esclarecer a luta delas e o propósito do evento cujo tema é “Quebre o silêncio”. Mas antes, um vídeo feito pela jornalista Manuela Barem sobre a Marcha das Vadias no ano passado.
Qual a importância da Marcha das Vadias nos dias de hoje?
Talvez um dos principais pontos seja a desnaturalização da violência contra a mulher (que parece institucionalizada) e o incentivo a denunciar os agressores. Com isso as mulheres e a sociedade como um todo passam a mudar a lógica da agressão. Até então nós nos calávamos, acreditando que de alguma forma seriamos culpadas. A Marcha das Vadias vem nos mostrar que culpado é o agressor. Não temos dados precisos em São Paulo, o que já demonstra a negligência do Estado em relação ao tema, por isso utilizamos os dados do Rio. O documento nomeado de Dossiê Mulher aponta que, dos casos de tentativa de estupro denunciados, em 39% deles o agressor tinha relação de proximidade com a vítima, e desse percentual, 12% tinham algum grau de parentesco com a mulher alvo da tentativa de estupro. Nos casos de estupro, em 51,1% o agressor tinha relações próximas com a vítima, ou seja, era seu parente, pai ou padrasto, companheiros ou ex-companheiro. Em 11% o agressor e colocado na categoria "Outros", mas apenas em 27% ele é apontado como um desconhecido da vítima. Os levantamentos feitos pelo Estado do Rio de Janeiro estão de acordo com os dados publicados no Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos.
Tem gente que apoia a causa, mas não gosta do nome (implica com o termo “vadias”). O que vocês costumam dizer pra essas pessoas?
Procuramos explicar os motivos para o uso do termo, a origem nas Slutwalks, e dizer que a palavra não pode ser mais ofensiva e indignante do que a violência contra as mulheres. A apropriação do termo é feita de modo irônico e provocativo, de modo que chame a atenção e leve as pessoas a refletirem sobre os perigos de culpar a vítima pela violência sofrida. Explicamos que não estamos assimilando o termo “vadia” pelo olhar machista, obviamente. Estamos nos apropriando de um termo que nos foi imputado para ressignificá-lo numa lógica de libertação feminina. Desmantelar os típicos xingamentos machistas direcionados às mulheres é desfazer, pouco a pouco, a lógica que encarcera o corpo e a mente das mulheres.
Recentemente dois textos causaram bastante discussão na internet (Danuza Leão e André Forastieri) voltando ao velho assunto da (pouca) roupa das mulheres como um incentivo a agressão sexual. Porque vocês acham que essa questão ainda é um problema em pleno ano de 2013?
Porque a ideia de que a mulher é culpada pela violência que sofre ainda é naturalizada. Dá trabalho mudar isso. Combater esse ideia significar dar autonomia às mulheres sobre seus corpos, escolhas e desejos. Significa que os agressores serão responsabilizados e punidos por seus crimes. Significa mexer em estruturas que privilegiam uns em detrimento de outros. Mas é exatamente para isto que estamos trabalhando.
Como vocês tem avaliado internamente as edições da marcha, ano após ano?
A primeira Marcha aconteceu aqui em 2011, dois meses após a primeira Slutwalk em Toronto. O coletivo Marcha das Vadias de SP se formou há um ano, na marcha de 2012. Desde então, temos reuniões quinzenais para pensar nossas ações, que não se resumem à marcha. Realizamos três debates nesse tempo (“Seis anos de Lei Maria da Penha”, “A Imagem da Mulher na Mídia” e “Violência Doméstica e Transexualidade”). Promovemos o Projeto Indestrutíveis (lambes com frases que os agressores disseram para as sobreviventes), inspirado no projeto americano Unbreakable, e tocamos o Facebook e o Blog.

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