25 de fevereiro de 2013

Escolas lutam contra violência em sala de aula


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SÃO PAULO —Atingido com um pequeno vaso de plantas na cabeça, o professor de História Antonio Mario Cardoso da Silva foi para o pronto-socorro e fez boletim de ocorrência na polícia. O autor da lesão corporal: um aluno. A agressão aconteceu numa escola pública de Diadema, na Grande São Paulo, há cerca de um ano, e foi presenciada pela mãe do estudante. Horas antes, o jovem, da 6ª série do ensino fundamental, havia sido repreendido por Silva por mau comportamento.
— Se fosse um objeto maior, ele poderia ter me matado — diz o professor.
Como esse, casos de agressão física entre professores e alunos têm se repetido nas escolas públicas e privadas de todo o país. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) tabulados pela Fundação Lemman e pela Meritt Informação Educacional, 4.195 professores de Língua Portuguesa e Matemática que dão aulas para alunos de 5º e 9º ano do ensino fundamental disseram que foram agredidos fisicamente por estudantes dentro de colégios em 2011. O número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a questionário aplicado durante a Prova Brasil, exame realizado pelo MEC.
Para tentar reduzir os episódios de violência no ambiente escolar, colégios de todo o país estão oferecendo cursos de resolução de conflitos para professores e alunos, e apostando nas técnicas de mediação para promover o diálogo e evitar o confronto.
O levantamento das respostas da Prova Brasil mostra que o número de professores agredidos em 2011 é similar ao de 2007, quando 2,3% dos docentes (6.677) afirmaram que foram agredidos por alunos.
Professora por 23 anos, Nádia de Souza Barbosa, de 56 anos, foi agredida por um aluno de 5ª série, que bateu a porta da sala três vezes em suas costas. Dias depois, foi ameaçada pelo irmão do aluno, e a parede da sala de aula foi pichada com o desenho de um fuzil. Segundo Nádia, na escola pública onde ela dava aulas, na Zona Sul do Rio, por diversas vezes alunos jogavam urina nos professores do alto de uma escada. Nádia acabou sendo aposentada.
— O médico me diagnosticou com depressão, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático. Fiquei mais de dois anos em tratamento. Não tenho mais condições de voltar às salas de aula — disse a professora aposentada de História.
Para tentar reagir aos casos de violência, sindicatos de professores no país têm criado canais para receber denúncias dos docentes. O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, que representa professores de escolas particulares, recebeu uma denúncia de violência nas escolas a cada três dias entre 2011 e 2012, incluindo agressão física, verbal e dano ao patrimônio.
O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) estima que os casos de agressão a professores estejam crescendo cerca de 20% a cada semestre. Entre 2008 e 2011, o sindicato recebeu 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças em escolas paulistas.
Mas também há casos de agressões contra alunos. No questionário, 3.327 professores (1,5%) relataram que em 2011 houve agressão física contra aluno cometida por professor na escola em que atuavam. Em 2007, 4.197 professores (1,62%) relataram que alunos foram agredidos fisicamente por docentes.
Foi o que aconteceu com uma aluna de 11 anos de uma escola municipal do Rio em 2010, quando um professor jogou um apagador no rosto dela durante a aula. O caso foi noticiado pela imprensa, e o professor foi transferido para outra escola. A família desistiu de entrar com ação por danos morais por temer represálias e a transferência da garota para um colégio longe de casa.
— Mas até hoje chamam ela de “garota do apagador” na escola — conta a advogada da família da adolescente, Consuelo de Freitas.
Na tentativa de diminuir os casos de violência no ambiente escolar, colégios de vários estados do país estão investindo na formação de educadores para que eles saibam lidar melhor com a questão. No Rio, muitas escolas têm optado por oferecer cursos de mediação para professores e alunos, para que eles priorizem o diálogo para resolver os conflitos.
Educadores de cerca de 150 escolas estaduais e privadas já fizeram curso de mediação escolar promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), incluindo colégios como Teresiano e São Bento. Segundo a desembargadora Leila Mariano, responsável pelo projeto do TJ-RJ, o número de casos de violência na escola que chegam ao Judiciário impressiona. Para ela, muitas vezes uma sentença judicial não é o suficiente.
— Nas escola, as relações são continuadas. A professora e o aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não tentar resolver o problema emocional deles, a questão não vai parar ali — diz a desembargadora.
Desde 2011, alunos, diretores, professores de escolas municipais têm recebido treinamento sobre resolução de conflitos, abordando temas como mediação e justiça restaurativa. Os cursos já foram oferecidos a docentes e estudantes de cerca de 60 colégios e em 2013 devem chegar a outras 20 escolas localizadas em áreas conflagradas ou recém-pacificadas. Além disso, inspetores de disciplina também receberão treinamento.
— Os alunos (que passaram pelo treinamento) já começaram a disseminar na escola um comportamento diferente. Eles ensinam os colegas a aprender a ouvir — disse André Ramos, responsável pelo programa Escolas do Amanhã, da prefeitura do Rio.
No Pará, 300 professores e assistentes sociais de escolas estaduais farão curso de especialização de um ano e meio para saber lidar com as diversas formas de violência na escola.
— Queremos construir planos de convivência na escola — contou Izabela Jatene, coordenadora do programa Pro Paz, do governo do Pará.

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