31 de outubro de 2012

A santidade do aprendizado , Moza Bint Nasser


31 de outubro de 2012
 O Estado de S. Paulo | Espaço Aberto | BR
Em Tal Rifat, nas cercanias da cidade síria de Alepo, as crianças não têm escola para frequentar. O edifício, atingido duas vezes por ataques aéreos nas últimas semanas, está completamente arruinado. Os alunos de Azaz, outra cidade próxima, não estão em melhor situação: há uma base militar onde costumava ficar a escola. Fora dos limites do país de mais de 23 milhões de pessoas, nos acampamentos superlotados da Jordânia (outro país do Oriente Médio) as crianças refugiadas turcas ou libanesas têm sorte se conseguirem encontrar um professor para continuarem a ter aulas.
A educação está sendo atacada, e não só na Síria, mas em várias regiões do mundo. Do Afeganistão à Costa do Marfim, de Gaza ao Sudãodo Sul, a história é a mesma. Há 28 milhões de crianças vivendo em zonas de conflito sem receber nenhuma educação e o número de ataques contra os estabelecimentos de ensino está aumentando. Apesar da proibição explícita por parte das leis internacionais, a santidade do aprendizado é violada diariamente das maneiras mais absurdas possíveis. A guerra civil deixa inúmeras crianças fora da escola. Há alguns motivos para isso. Um é que unidades estão ocupadas por refugiados. Outro é que muitos pais têm medo da violência.
Felizmente, a comunidade global está começando a notar esse problema pernicioso e, nas próximas semanas e nos próximos meses, uma série de iniciativas importantes vai falar sobre isso.
Primeiramente, precisamos amplificar as vozes das vítimas e de ter a corrupção moral com a perspectiva real de punição. O Education Above All, um grupo do qual tenho a honra de ser presidente, publicou um item importante esta semana: Protecting Education in Insecurity and Armed Conflict (Como proteger a educação em tempos de insegurança e conflitos armados), um manual que reúne as leis internacionais existentes sobre a proteção da educação em zonas de conflito. Pela primeira vez os investigadores, advogados e juízes têm um livro em que basear o comportamento dos violadores da educação. É um novo e poderoso instrumento de justiça.
E enquanto os líderes mundiais se reúnem para a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, eu me juntarei ao secretário-geral Ban Ki-moon e outras pessoas para lançar uma grande campanha que lidará com o fato vergonhoso de que 61 milhões de crianças no mundo inteiro não podem ir à escola.
Por maiores que sejam os desafios, é possível, até mesmo nas piores circunstâncias de pobreza e conflito, oferecer às crianças uma educação significativa. Durante o meu trabalho como enviada especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e por meio dos meus projetos no Iraque, em Gaza, na Indonésia e em outros lugares, tive o privilégio de testemunhar a eficácia de intervenções relativamente simples, mas inovadoras.
Meus mandatos na Unesco e na ONU são globais e existem crianças que precisam desesperadamente da nossa proteção em todas as regiões, mas há lições importantes a serem aprendidas com a minha região natal no Oriente Médio, onde pudemos presenciar avanços importantes. As matrículas no ensino fundamental aumentaram em mais de 10% na última década, as diferenças entre os sexos diminuiu e mais crianças estão passando do ensino fundamental para o médio. Apesar disso, mais de 6 milhões de crianças ainda não vão à escola e mais de um quarto dos adultos são analfabetos. Com dois terços da população árabe com menos de 25 anos de idade (o chamado youthbulge, ou "explosão juvenil"), a maneira como os jovens enfrentarão os anos que estão por vir determinará, em grande parte, o futuro da nossa região e das nossas perspectivas comuns de paz e segurança globais.
O Iraque é um exemplo. Ele já foi um país líder em educação no mundo árabe, mas sofreu muito como resultado das três décadas de conflito. Enquanto na década de 1980 as taxas de alfabetização eram altas, hoje quase um quarto dos iraquianos é analfabeto e a taxa é ainda maior em algumas áreas rurais e entre as mulheres. Ao ver o trabalho que lá está sendo feito para incentivar a educação formal e informal, treinar professores e promover a alfabetização, fiquei convencida de que a educação é a chave para ajudar o berço da civilização a curar suas feridas e se reerguer.
Temos muito a ganhar. Sabemos que uma criança que nasce de uma mãe que sabe ler tem 50% mais chances de viver além dos 5 anos de idade. Nos países em desenvolvimento, cada ano extra de ensino fundamental pode acrescentar, no mínimo, 10% aos ganhos futuros da criança. Essa pode ser a saída do círculo vicioso e a entrada para o virtuoso. Os adultos com um grau de segurança financeira têm muito mais chances de investir na educação dos filhos.
É por isso que, apesar da quantidade e da escala dos desafios que enfrentamentos, nunca me senti tão empolgada e cheia de esperança pelas crianças esquecidas quanto me sinto hoje. O Qatar vai fazer a sua parte. Em novembro a comunidade global de educação se reunirá em Doha para o World Innovation Summit for Education (Wise) anual, que terá como tema Transformando a Educação. Um dos prêmios Wise 2012 será destinado a reconhecer o projeto que forneceu melhor financiamento inovador para a educação primária. Isso reflete o meu apoio aos Objetivos do Milênio traçados pela ONU, que inclui, entre outras metas, ter um ensino básico universal.
Este ano convidarei outras pessoas para se juntarem a mim numa nova iniciativa que oferecer á educação de qualidade e resultados verdadeiramente mensuráveis em benefício das crianças ao redor do mundo.
A educação é uma bênção. Ela nos dá oportunidades, influência e uma obrigação moral clara de usar esses dons para proteger esse direito para outras pessoas.
SHEIKA DO QATAR, É A ENVIADA ESPECIAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA E SUPERIOR DA UNESCO

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