28 de agosto de 2012

VINICIUS TORRES FREIRE O Brasil perdeu a graça?


Folha de S.Paulo, 28/8/2012
Após o zum-zum sobre o Brasil ultrapassar o Reino Unido, vem a conversa sobre o México em alta
ALGUÉM AÍ ainda se lembra do zum-zum a respeito de o Brasil ser a sexta economia do mundo, à frente do Reino Unido? A história causou alguma sensação no fim do ano passado.
Não passou um ano, agora se ouve a conversa de que "o México é o novo queridinho da América Latina", que o Brasil perdeu a graça.
Coitados dos mexicanos. Essa história de queridinho (de quem?) quase sempre acaba em besteira.
Depois da crise da dívida e das recessões dos anos 1980, Argentina, Brasil e México se passam
periodicamente o bastão de "queridos" para logo adiante tropeçar na corrida de obstáculos e se esborrachar.
De onde surgem esses boatos duradouros sobre "queridinhos"? Em geral, do mercado financeiro. Ou, pelo menos, a fofoca repercute lá.
Os mercados financeiros são bem articulados com a mídia econômica. Produzem pilhas de estudos, relatórios etc. Têm gente disponível para falar com jornalistas e assemelhados. São o setor da economia com a maior capacidade/necessidade de alterar a direção de seus investimentos rapidamente.
As decisões dos donos do dinheiro grosso alteram os humores econômicos do planeta em segundos. Opiniões mais bem fundadas da grande banca, porém, podem alterar o destino de uma região econômica inteira por uma década. Não se trata, pois, apenas de modas e firulas.
Mas o zum-zum, muita vez irrelevante, começa lá. O que há de substancialmente novo nas economias de México e Brasil em relação a, digamos, 2010? Nada. E quanto a 2008? Quase nada.
México e Brasil vêm tropeçando desde os anos 1990. Crescem menos que a Argentina (tida como a pátria da maluquice econômica) e que o Chile (o melhor aluno da classe liberal).
Dizem agora que o México pode se dar bem com o encarecimento
da mão de obra chinesa, o que reabriria as portas das importações americanas. Pode ser. Um pouquinho. Com efeito marginal no médio prazo.
Mas Brasil e México não estão disputando torneio algum (e, se estivessem, perderiam os dois).
O México pode ser um bom lugar para transferir parte do papelório financeiro. É o que quer dizer o zum-zum.
A finança está é meio agastada com o Brasil devido a intervenções do governo no mercado, à desvalorização do real, à baixa da taxa de juros e ao fato bem real de que as empresas brasileiras estão lucrando pouco no momento.
Estranhamente, porém, o Brasil ainda está com crédito. O investimento estrangeiro dito "produtivo" está no mesmo nível de 2011, que já foi inesperadamente alto.
Mesmo com todas as intervenções do governo no mercado financeiro, a turma não debandou de lá também.
Ainda mais incrível, muito empresário represa empregados, na esperança de que a economia volte a crescer em breve (claro que os empresários são incentivados pelo enorme custo que representa demitir e treinar trabalhadores).
Pensando bem, com dois anos de crescimento a 2% e nenhuma mudança fundamental, é um espanto que a confiança no Brasil ainda esteja tão alta.

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