25 de julho de 2012

Idioma inglês, educação e orçamento são os desafios da ciência, diz Prêmio Nobel de Química 2011, Daniel Shechtman


 
 
Daniel Shechtman encantou centenas de estudantes, cientistas, pesquisadores em apresentação na 64ª Reunião Anual da SBPC sobre sua trajetória na descoberta dos quasicristais.

A limitação do idioma inglês, a qualidade da educação e a manutenção do orçamento para pesquisa são os três gargalos da área científica, principalmente de países em desenvolvimento - disse o cientista israelense Daniel Shechtman, ganhador do prêmio Nobel de Química em 2011.

Ele concedeu entrevista coletiva à imprensa ontem (24) após ministrar conferência na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís.

Segundo Shechtman, a língua do mundo científico é o inglês e nem todos os cientistas falam esse idioma. "A ciência é universal, mas o idioma pode ser um obstáculo", disse o cientista, que ganhou o Prêmio Nobel de Química no ano passado pela descoberta dos quasicristais em 1982, teoria que alterou a forma como os químicos entendem a matéria sólida e abriu espaço para pesquisas do diesel até materiais para panelas.

No caso da educação, ele disse ser necessário começar a investir nessa área muito cedo e com alta qualidade nos países latino-americanos. Além disso, as crianças devem ter acesso à ciência na pré-escola. Em países desenvolvidos, ele exemplificou, as crianças com seis anos de idade já sabem ler.

O Nobel de Química de 2011 acrescentou que o orçamento para pesquisa "deve ter um fluxo contínuo". Pois sem ele "não há ciência". Segundo Shechtman, os cientistas também devem contribuir e pautar o governo sobre as prioridades da área. 

Futuro da química verde - Respondendo à imprensa sobre o futuro da química no Brasil, ele declarou que "não há como prever". Acrescentou, porém, que em um país rico em biodiversidade, como é o Brasil que possui a Amazônia, a ciência biológica precisa ter forte investimento em pesquisa e trabalhar em parceria com o setor da química.  Para tanto, o cientista israelense disse, essa medida requer tempo e educação com alta qualidade.

"Se não for assim o Brasil vai continuar fazendo, mas não conquistará a liderança", disse. Ele considera fundamental para a ciência a comunicação e a troca de experiência com outros países.

Nascido em 1941 em Tel Aviv, o Nobel de Química de 2011 é professor dos departamentos de Engenharia de Materiais do Instituto Tecnológico de Haifa, em Israel, e de Ciências dos Materiais da Universidade Estatal de Iowa, nos Estados Unidos.

Gravata - Antes de conceder coletiva à imprensa, o Prêmio Nobel de Química de 2011 ministrou conferência no auditório principal da UFMA. Bem humorado, ele chamou a atenção pela sua gravata azul marinho com desenhos de elementos químicos.

Trajetória - Na Reunião Anual da SBPC em São Luís, Shechtman encantou a plateia composta de centenas de estudantes, cientistas, pesquisadores, dentre outros, ao falar sobre sua trajetória na descoberta dos quasicristais. Ele lembrou ter sido rejeitado pelos próprios colegas e por eminentes cientistas e chegou a ser retirado do grupo de pesquisa quando apresentou seu "paper" sobre a teoria.

Shechtman, que considera a perseverança e tenacidade elementos importantes para qualquer jovem cientista, publicou seu trabalho na revista Physical Review Letters em 1984.

Na conferência, o cientista israelense explicou como foi a descoberta dos quasicristais. Antes da conclusão de sua teoria, lembrou ele, os cientistas acreditavam que a matéria sólida era sempre de átomos organizados em uma ordem definida que podia ser repetida diversas vezes para formar uma estrutura de cristal. Sua teoria revelou, porém, que os átomos não possuíam apenas um arranjo que podia ser repetido. Ao analisar as imagens de um material ele descobriu um formato inexistente até então.

(Viviane Monteiro - Jornal da Ciên

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