27 de julho de 2012

70% dos gays da cidade de São Paulo já sofreram agressão ou ofensa


É o que mostra pesquisa com 1.217 homossexuais feita em 92 pontos da capital



Dados ainda apontam alta taxa de infecção pelo HIV, situação que preocupa ação estadual de combate à doença

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO


Sete em cada dez homossexuais na cidade de São Paulo já sofreram algum tipo de agressão (verbal, física ou sexual), revela pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e do Centro de Referência e Treinamento em DST, do governo paulista.
O estudo, realizado na área central, entrevistou 1.217 gays, em 92 locais (casas noturnas, saunas, cinemas e ruas). Pela metodologia utilizada, é possível dizer que a amostragem representa essa população.
Os dados também apontam uma alta taxa de prevalência do vírus HIV, de 16%, entre os entrevistados que aceitaram fazer o teste da Aids (776). Em 2010, um levantamento nacional, feito nas principais capitais, mostrou uma prevalência média de infecção de 10,5% entre os gays.
Na faixa etária de 18 a 19 anos, a taxa foi de 5%. Entre 20 e 24 anos, de 6,7%, e entre 25 a 39 anos, de 16,6%.
"Nos inquietou muito a alta taxa de prevalência entre os jovens. Essas pessoas estão sujeitas a situações de extrema violência e isso as deixa mais vulneráveis [à infecção do HIV]", disse Paulo Teixeira, coordenador do programa estadual DST/Aids.
Dos entrevistados, 62% relataram ter sofrido agressões verbais, 15%, agressão física e 6%, sexual. Há ainda relatos de ameaças de chantagem, extorsão e constrangimento no local de trabalho.
Segundo Teixeira, com medo de serem flagrados em relações "pouco toleradas", os jovens gays descuidam da prevenção. "Quem está sob vigília da família, dos amigos, da escola, não tem como ter encontro sexual programado, com camisinha."
Para ele, a pesquisa reforça a necessidade de o governo e a sociedade intensificarem a luta contra o preconceito e reforçarem a prevenção em relação ao HIV.
POLÍTICA CLARA
Mario Scheffer, professor do departamento de saúde preventiva da USP, defende uma política clara de prevenção aos homossexuais, como ocorre nos EUA e na Europa.
"No Brasil, o assunto é tabu. Os homossexuais foram afastados da prevenção sob o argumento de defendê-los contra o preconceito, mas a epidemia é concentrada principalmente neste público."
Segundo Teixeira, as campanhas preventivas destinadas aos gays nunca fugiram da agenda dos governos. Ele pondera que há uma preocupação em não reforçar preconceitos.
"O homossexual que se protege, que usa preservativo, não é grupo de risco. Ele é grupo de risco pelo cenário onde vive, não pela orientação sexual."

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