23 de junho de 2012

Rio+20, Acabou em carnaval, Zuenir Ventura


O Globo, Junio 23, 2012

Escrevo antes do encerramento da Rio+20, mas, pelo que tenho lido, dificilmente o documento final atenderá ao que dele se esperava ou se desejava. Com exceção da presidente Dilma, aparentemente satisfeita ("é um grande avanço e uma vitória para o Brasil"), quase todo mundo - dos cientistas aos ambientalistas, passando por empresários e economistas - repudia o texto considerado "tímido" e "frouxo". Na quarta-feira, o libanês Hamidan, da Rede de Ação Climática, já anunciava que mais de mil instituições da sociedade civil, entre ONGs e órgãos de pesquisa, estavam retirando suas assinaturas. O caso mais curioso foi o do secretário da ONU, Ban Ki-moon, que primeiro acusou o relatório de não ter ambição - "não podemos mais nos dar o luxo de adiar decisões" - e no dia seguinte, com a mesma cara, classificou o documento de "grande sucesso" e "excelente".
De consenso mesmo só o fato de que os países mais ricos e poderosos estão dispostos a salvar o planeta, desde que não tenham que enfiar a mão no bolso. Por isso, o momento mais significativo foi o do discurso da jovem neozelandesa de 17 anos Brittany Trilford, puxando a orelha dos chefes de estado, ao cobrar ação e mudanças urgentes: "Vocês têm 72 horas para decidir o destino de nossas crianças, dos meus filhos, dos filhos dos meus filhos." Parece que não lhe deram ouvidos.
Mas, enquanto lá dentro do Riocentro era aquele chove não molha, em outras partes da cidade, principalmente no Centro, o que se via era uma grande e divertida efervescência, lembrando os desfiles de blocos carnavalescos. Nunca houve tantas e tão variadas manifestações de protesto em tão pouco tempo. Passeatas, marcha global, marcha da maconha. Rapazes com nariz de palhaço e bocas tapadas com fita adesiva protestavam contra os rumos da conferência. Índios com tacape, arcos e flechas deixavam a polícia sem saber o que fazer, já que podiam representar ameaça. Na Cinelândia, o senador Eduardo Suplicy, com chapéu de Robin Hood, cantava Bob Dylan para propor a criação de um imposto financeiro. Uma bonita moça com os seios à mostra, como se representasse as femens da Ucrânia, a Riquezinha, tocava tambor em defesa das lésbicas, das negras e da liberdade feminina. Um frequentador do aterro que num dia viu os lindos seios nus da jovem e no outro esbarrou com as bundas nuas dos participantes do movimento Ocupa Rio, disse que aquilo parecia ser não a Cúpula, mas a "Cópula dos povos".
A Rio+20 pode ter sido um fracasso, mas os movimentos sociais fizeram o seu carnaval.

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