30 de março de 2012

Violencias nas escolas: Estudante diz sofrer agressões por intolerância religiosa


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SÃO PAULO. O estudante M.M.S., de 15 anos, diz que vem sofrendo agressões em sua escola por causa de sua religião, o candomblé. A denúncia é do pai do adolescente, o aposentado Sebastão da Silveira, de 64 anos, que na semana passada registou Boletim de Ocorrência e na tarde desta quinta-feira procurou o Ministério Público do Estado de São Paulo, pedindo segurança a seu filho.
O pai alega que a causa do bullying sofrido por seu filho é a pregração religiosa feita por uma professora de história da escola estadual Antônio Caputo, em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. Segundo ele, ela dedica os 20 minutos iniciais de suas aulas lendo a Bíblia e rezando, enquanto os alunos são obrigados a ficar de cabeça baixa.
— É essa pregação em sala de aula que está causando a intolência e o bullying contra meu filho. Vivemos num estado laico e não pode haver ensino religioso numa escola estadual — diz Sebastião, que é sacerdote da mesma religião professada por seu filho.
Desde o ano passado, M.M.S. tem sido rejeitado pelos colegas, que o chamam de 'macumbeiro', conta o pai. As agressões se agravaram neste ano, depois que o estudante disse para a professora que estava na aula para aprender história, não religião. A mais grave delas aconteceu mês passado, quando um aluno jogou nas costas de M. uma bola de papel cheia de secreção pulmonar.
— Meu filho me telefonou muito nervoso, pedindo para que eu fosse buscá-lo. Ele não é mais o mesmo, um jovem cheio de interesse, um bom aluno. Não quer mais ir a escola, está retraído e tem tomado remédios para dormir — diz o pai.
Antes de ir à polícia e à promotoria, Sebastião procurou a diretoria da escola e chegou a participar de uma reunião com a professora e a diretora. Segundo ele, a educadora foi instransigente e disse que as orações faziam parte de sua metodologia de ensino.
Para a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, o que aconteceu na escola caracteriza discriminação étnico religiosa, o que é o passível de processo administrativo. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou por meio de nota que foi criada uma comissão para investigar o caso e não se pronunciará enquanto a enquanto a apuração não for concluída.
A promotora Vera Lúcia Acayaba de Toledo informou que ouvirá nesta sexta-feira a professora, o pai e a diretora da escola, além de uma comissão multidisciplinar para apurar a denúncia e avaliar procedimentos para proteger o adolescente.
— É claro que um educador não pode usar a religião para a educação. Mas ainda não sabemos ao certo o que houve, portanto, os fatos serão apurados pela promotoria — explicou Vera.
Nesta semana a professora de história procurou M.M.S e pediu desculpas. Em sua última aula, não leu a Bíblia nem fez orações.
A presidente da Associação Federativa da Cultura e Cultos Afro-Brasileiros (Afecab) Maria Emília Campi acredita que o que aconteceu em São Bernardo também acontece em outras escolas brasileiras.
— Temos o direito de exercer qualquer religião sem sermos retaliados. Queremos agora preservar a imagem de M. e impedir que isto se repita — completou Maria Emília.

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