26 de março de 2012

Simões Filho é síntese da violência que migra para cidades menores

Além de estar no topo do ranking do Mapa da Violência 2012, a cidade baiana de Simões Filho é a síntese da principal tendência revelada pelo levantamento: a interiorização dos homicídios no Brasil.
As altas taxas desse tipo de crime estão se transferindo das grandes metrópoles para aglomerações de pequeno e médio porte.
Assista à videorreportagem sobre Simões Filho, a capital da morte brasileira
A pesquisa indica que, em sete anos, as taxas das cidades menores vão se equiparar aos índices das capitais.
"Simões Filho é um desses municípios em que a implantação de indústrias atraiu muita população, mas o aparelho do Estado não se adaptou à nova realidade", diz Júlio Jacobo Waiselfisz, diretor de Pesquisa do Instituto Sangari, responsável pelo Mapa da Violência.
A capital da morte baiana está cercada por polos industriais. Abriga parte do CIA (Complexo Industrial de Aratu), composto por mais de 140 empresas, como Gerdau, Xerox e Avon, e está próxima do PIC (Polo Industrial de Camaçari), com companhias como Ford, Ambev, Petrobrás e Alstom.
PROGRESSO
"Nossa cidade não teve a estrutura para absorver um número tão grande de pessoas em tão pouco tempo", afirma o comandante da Polícia Militar de Simões Filho, major Jorge Albuquerque. Nos últimos 20 anos, a cidade teve acréscimo de mais de 40 mil habitantes, segundo o IBGE.
O fato de grandes empresas investirem na região não significa necessariamente novos postos de trabalho para quem mora nas cercanias, explica o professor Carlos Alberto da Costa Gomes, coordenador do Observatório de Segurança Pública da Universidade Salvador (Unifacs).
"Sobretudo se há falta de mão de obra qualificada", afirma.
OL ,26 de março,2912

Simões Filho, a Capital da Morte



DIÓGENES MUNIZ
Com taxa de homicídios cinco vezes maior que a (já altíssima) média nacional, cidade baiana ganha título de mais violenta do país e culpa o tráfico


"Aqui é a cidade do corte! Aqui a gente trata na bala!" A fala é de um morador de Simões Filho (BA), município da região metropolitana de Salvador com 112 mil habitantes e que tem o título de mais violento do país.
"Isso daqui é tudo major morto", continua o sujeito, sem se identificar, apontando para as gavetas do superlotado cemitério São Miguel.
A cidade é apontada como a mais perigosa do Brasil no Mapa da Violência 2012, publicado em dezembro passado pelo Instituto Sangari.
Na média entre 2008 e 2010, Simões Filho teve 146 homicídios por 100 mil habitantes. O estudo considera epidêmicas taxas a partir de dez mortes por 100 mil pessoas. A divulgação do ranking não chegou a surpreender quem vive lá. No Mapa da Violência 2011, a cidade já ocupava a vice-liderança.
TRÁFICO E MILÍCIA
A "TV Folha" visitou o local, a 23 km da capital baiana, no mês passado. A reportagem flagrou dois corpos jogados na BA-528 (estrada do Derba). Ambos com sinais de espancamento, marcas de tiro e punhos algemados.
"Mais de 60% dos homicídios aqui são causados pela ação do tráfico", diz o delegado Antonio Fernando Soares do Carmo, da 22ª delegacia. Ele admite, no entanto, que os corpos encontrados com algemas em fevereiro tinham indícios de que foram vítimas da ação de milicianos.
As vítimas de Simões Filhos são encaminhadas para o Instituto Médico Legal de Salvador, já que a cidade não possui IML próprio.
"Todo dia tem óbito aqui que vem de Simões Filho", relata Ana Paula Teixeira, funcionária responsável pelo atendimento às famílias que chegam no IML da capital.
Para a florista Josineide Gomes, 39, "o que mais tem na cidade é enterro". Seu sobrinho foi assassinado aos 16 anos. "Acho que ele se envolveu [com o tráfico]. Mataram e ainda cortaram os testículos", desabafa.
Há também quem veja oportunidades de negócios pela cidade liderar os índices de violência. "Simões Filho, para mim, foi um atrativo porque percebemos que existe uma fragilidade na área da segurança lá. Nossa companhia cresce em torno 40% ao ano", diz, Marcos Carvalho Santana, sócio da empresa de segurança privada Escolta VIP.
Logo atrás da violência, a falta de opções de lazer na cidade é uma das principais reclamações de quem vive em Simões Filho.
"As opções aqui são bar ou igreja", resume o professor de matemática Rodrigo Magalhães, 24.
"Fora isso, temos muita corrupção", diz Magalhães. Desde 1992, a prefeitura é palco da alternância de poder entre dois políticos.
Este já é o terceiro mandato de José Eduardo Mendonça de Alencar (PSD). Alencar é alvo de quatro ações do Ministério Público Federal por improbidade administrativa.
Seu antecessor, Edson Almeida de Jesus (PT), foi condenado por improbidade administrativa em 2008 e recorre da decisão.
OUTRO LADO
Em 2011, a prefeitura rebateu o ranking do Mapa da Violência alegando que muitos dos assassinatos ocorridos nas cidades vizinhas acabam "desovados" nas estradas de Simões Filho.
A PM admite que há bairros com forte influência do tráfico e de difícil acesso para as autoridades. Procurado durante três semanas, o prefeito não quis dar entrevista.
Divulgado desde 1998, o Mapa da Violência é o mais confiável indicador da criminalidade brasileira. Seus dados são obtidos a partir do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que centraliza dados de óbitos em todo o país.

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