29 de dezembro de 2011

No Brasil, 151 municípios reprovam 20% ou mais das crianças no primeiro ano



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O Brasil tem 151 municípios que reprovam 20% ou mais dos alunos da rede pública ao fim do 1º ano do ensino fundamental. O número representa 2,7% do total de cidades brasileiras. Mesmo assim, especialistas consideram a situação alarmante. Há municípios onde metade das crianças, que nessa época da escolaridade têm cerca de 6 anos, repetem.
Os dados são do Censo Escolar 2010, do Ministério da Educação (MEC), e foram mapeados pelo pesquisador e economista Ernesto Martins Faria. Ele considerou as redes estaduais, municipais e federal.
Nenhum dos 151 municípios é capital de Estado. A maior parte 81 deles localiza-se na Região Nordeste, que tem o Estado com maior número de municípios com as altas taxas de reprovação: Piauí, com 39. Nele, encontram-se os índices mais altos do País: Lagoa do Piauí, com 48,4%, e Aroeiras do Itaim, com 47,4%.
No Sudeste, a segunda região com maior número de cidades, 40 municípios reprovam mais de 20% dos estudantes do primeiro ano. O Estado campeão é o Rio de Janeiro, com 31 cidades, incluindo Petrópolis (20,7%) e Paraty (24%). São Paulo tem apenas um município entre os 151: Aramina, a 450 quilômetros da capital, com 26% de reprovação.
A reportagem entrou em contato com algumas prefeituras e encontrou diversas justificativas, como a evasão dos estudantes e a falta de infraestrutura das escolas rurais.
Faria, autor do estudo, considera inadmissível reprovar alunos aos 6 anos, com raras exceções. A reprovação ainda é uma questão cultural que existe em algumas regiões do País.
O MEC é contra a reprovação de crianças nessa faixa etária, mas Estados e municípios têm autonomia. Além disso, as diretrizes curriculares para essa etapa de ensino sugerem que não haja reprovação nos três primeiros anos do ensino fundamental, já que é nessa época que ocorre o ciclo de alfabetização da criança.
Reprovar é desistir da aprendizagem. É quando a escola coloca a culpa no aluno e não discute seu processo de aprendizado , afirma a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda. Muitas dessas crianças não frequentaram educação infantil e seus pais não tiveram direito à escola.
De acordo com ela, programas do MEC contribuem para combater o quadro. Alguns exemplos são o Pró-Letramento, que trata da formação continuada de professores com foco nos anos iniciais do fundamental, e o Escola Ativa, que foca na qualidade da educação nas classes multisseriadas (com alunos de diversas idades) das escolas rurais.
Prejuízos
Segundo especialistas em educação, é durante a alfabetização que a criança deveria ter seu desenvolvimento acompanhado de perto. Além disso, estudos mostram que a repetência não tem impacto positivo sobre o desempenho educacional e sobre a autoestima do aluno.
Na média, as crianças ganham mais passando de ano do que repetindo , afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP. O aluno que reprova não recebe tratamento pedagógico adequado, é tratado como um estudante qualquer e acaba excluído.
Segundo ele, não há justificativa pedagógica e social para reprovar crianças nessa idade. Até pouco tempo atrás, com 6 anos elas estavam na pré-escola. Não há nenhum conhecimento em jogo para ser dominado que determine a aprovação ou não , diz.
Cesar Callegari, membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional (CNE), afirma que os altos índices de reprovação estão relacionados à taxa de frequência. Mas as diretrizes nacionais afirmam que, mesmo em se tratando de baixa presença por conta de secas e enchentes de rios, em lugares distantes, por exemplo , o sistema de ensino tem a obrigação de criar maneiras especiais para que a criança tenha acesso à escola.
Mas ele também critica os sistemas que encaram a aprovação como promoção automática. Essa tradução fácil que ainda ocorre no Brasil provocou um dos piores estragos que se tem notícia na história da nossa educação , afirma.

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