26 de novembro de 2011

São Paulo: PM e prefeitura vão à caça de estudantes que matam aulas


Operação é acompanhada pelo Conselho Tutelar e tem o objetivo de combater a evasão escolar na zona leste

Defensoria Pública diz que ação fere os direitos da criança e do adolescente por ser uma medida coercitivaTALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
VANDER RAMOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apu Gomes/Folhapress
Jovens pegas matando aula em parque da zona leste são levadas de Kombi para a escola
Jovens pegas matando aula em parque da zona leste são levadas de Kombi para a escola
Uma força-tarefa, formada por cerca de 30 funcionários da Prefeitura de São Paulo, policiais militares, guardas-civis e conselheiros tutelares, fechou ontem as saídas de dois parques do Itaim Paulista, extremo leste da capital, atrás de alunos que matavam aulas ou consumiam drogas.
Os locais foram bloqueados por cerca de uma hora, até que todas as crianças e adolescentes fossem abordadas, revistadas e tivessem seus dados anotados.
Alguns jovens pularam as grades para fugir quando notaram a presença da polícia.
Entre os abordados havia uma criança de nove anos, que tremia, com medo de ser levada. Jovens ficaram em fila, com mãos para trás.
A ação faz parte de um projeto coordenado pela Subprefeitura do Itaim Paulista, que tem o objetivo de diminuir a evasão escolar.
Folha acompanhou duas ações do grupo, orientado pelo tenente-coronel reformado da PM Sergio Payão, chefe de gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista.
ABORDAGEM
No primeiro local, o parque Chico Mendes, a ação aconteceu por volta de 9h30. Lá cerca de cem crianças e jovens, entre 11 e 28 anos, foram abordados.
O local é conhecido como "point" dos adolescentes e há relatos de uso de maconha e prática de sexo em público.
Aqueles que estavam matando aulas foram colocados em carros, levados para as escolas onde estudam e entregues à direção para que os pais fossem chamados. Eles também serão convocados pelo Conselho Tutelar.
Dois jovens, um menor de idade e outro maior, foram à delegacia por estarem com maconha, segundo Payão.
Do grupo, 23 meninas que assumiram estar cabulando aula foram levadas de volta para as escolas, mas 25 meninos foram liberados por não haver espaço no carro. "Sem as meninas, eles não vão ficar no parque", disse Payão.
O segundo parque foi o Santa Amélia. No local, mais vazio, cerca de 20 meninos e meninas foram abordados.
Quatro meninos, entre 11 e 13 anos, que estavam cabulando aulas, foram colocados na Kombi e levados para a Escola Estadual República da Guatemala, onde estudam.
No carro, um deles perguntou se os pais seriam chamados. Ao ouvir "sim", chorou o resto do caminho, dizendo que temia apanhar da mãe.
"A ação é positiva porque esses jovens vão pensar bem antes de cabular outra vez. Também pretendemos reprimir o uso de drogas, pois muitos jovens faltam às aulas para fazer o uso delas", diz o conselheiro tutelar Francisco Carlos Barros.
Para Diego Vale de Medeiros, coordenador do núcleo da infância e juventude da Defensoria de São Paulo, a ação é ilegal.
"Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, medidas coercitivas só podem ser empregadas quando o adolescente comete ato infracional". Segundo ele, a ação fere ainda o direito constitucional de ir e vir.
O Conselho Tutelar disse que consultou a Vara da Infância e da Juventude sobre a fiscalização. A Folha não conseguiu falar com o órgão.

peração na zona leste foi isolada, afirma subprefeito
Medida foi apoio à ação realizada pelo Conselho Comunitário de Segurança
De acordo com chefe de gabinete do Itaim Paulista, moradores se queixaram de evasão escolar e uso de drogas
DE SÃO PAULO
O chefe de gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista, Sérgio Payão, disse à Folha que a proposta da ação é servir como projeto-piloto, que poderá ser levado para o restante da cidade.
Segundo ele, foi feita até uma reunião com representante da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, que manifestou interesse no projeto e pediu um relatório com o resultado das ações.
No meio da noite, no entanto, o subprefeito do Itaim Paulista, João dos Santos de Souza, por meio de nota, disse que seu chefe de gabinete estava equivocado e que a ação não será ampliada para outras regiões da cidade.
Segundo a nota, o trabalho da subprefeitura é dar apoio as ações realizadas pelo Conselho de Segurança e pelo Conselho Tutelar.
Ontem, antes da ação, Payão deu as diretrizes para os policiais e conselheiros envolvidos nas blitze.
À Folha ele explicou que a ideia surgiu no Conselho Comunitário de Segurança da região, após reclamações da comunidade de que havia um grande número de jovens em parques que matavam aulas e bebiam e usavam drogas. Ele defendeu que a medida não fere o direito de ir e vir dos jovens.
"Eles não têm discernimento e acabam se envolvendo com pessoal que usa drogas e bebidas", disse. "Se estão cabulando aulas, os pais têm que saber."
EVASÃO
A Secretaria Estadual de Educação de SP disse que a média de evasão do Estado caiu de 12,1% no ensino fundamental e de 26,5% no ensino médio para 1,5% e 5,4% entre 1986 e o ano passado.



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ENTREVISTA
Em caso extremo pode ser válido, diz psicopedagoga
DE SÃO PAULO
Para a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, ações como a de ontem são válidas em casos extremos de evasão escolar. (ANDRESSA TAFFAREL)
Folha - O que pensa da ação?
Quézia Bombonatto - Falar que não deve ter polícia não é tão simples. Nem sempre é fácil colocar esses alunos para dentro da sala. É lógico que, do ponto de vista da educação, não é o ideal usar a polícia, isso é uma questão que os educadores têm de dar conta.
Levar de volta para a escola assim resolve?
Não adianta colocar esse aluno para dentro da escola por colocar. É preciso fazer um trabalho de educação ou ele vai acabar levando outros para a rua.


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ENTREVISTA
Uso da polícia é um absurdo, diz professora da PUC
DE SÃO PAULO
Docente da Educação da PUC-SP, Regina Denigres considera absurdo o uso da polícia nesses casos.
Folha - O que acha da ação?
Regina Denigres - A polícia é para casos de assassinatos na escola. É um absurdo chamá-la para recolher aluno que está fora da sala. Ações como essa são a falência da escola.
O que fazer então?
Não dá para colocar todos os alunos no mesmo "saco". A escola tem que diagnosticar o problema individualmente e depois pensar em soluções.
Como mantê-los na escola?
Além de ter espaços para ouvir o aluno, ela precisa ser atraente. Se o modelo tradicional de ensino não dá mais conta, é preciso pensar em outros.



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