26 de outubro de 2011

Investimento em educação pré-escolar dá retorno à sociedade, afirma Nobel


26 de outubro de 2011
Educação e Ciências | O Globo | Economia | BR

Cada real se transforma em ganho de até R$300 para a sociedade

Paulo Justus paulo.justus@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO. Cada R$1 investido em educação na idade pré-escolar pode trazer um retorno entre R$60 e R$300 para a sociedade quando a criança for adulta. Isso porque uma criança que tem o acompanhamento adequado nessa idade desenvolve mais facilmente habilidades sociais e psicológicas, chamadas de conhecimento não cognitivo. A afirmação é de James Heckman, ganhador do Nobel de Economia em 2000, justamente por seus estudos sobre métodos de avaliação de programas sociais e de educação.
Segundo ele, embora não apareçam nos testes de QI, esses aspectos são mais importantes que o próprio quociente de inteligência para o sucesso pessoal e profissional. E trazem um maior retorno para a sociedade porque seu desenvolvimento forma cidadãos com um cuidado maior com a saúde e menos propensão a se envolver em crimes.
Em visita ao país, Heckman foi o principal palestrante do seminário "Educação para o Século 21", promovido pela Instituto Ayrton Senna ontem em São Paulo. Sobre o Brasil, o economista defendeu que o governo fortaleça as políticas para a educação, com ênfase na primeira infância:
- Temos de mudar o que as escolas enfatizam hoje, para que não formem apenas alunos que vão bem nos testes, mas que sejam pessoas bem-sucedidas, menos violentas e mais capazes de controlar suas emoções.
Entre as principais habilidades não cognitivas, Heckman citou a abertura a novos conhecimentos, extroversão, e consciência da importância do aprendizado. Esta última, ressaltou, é a variável que tem o maior peso sobre o sucesso do indivíduo no mercado de trabalho, bem como para mantê-lo afastado da marginalidade.
Heckman: escola não pode se concentrar só nas notas
Caso essas habilidades não sejam trabalhadas desde a primeira infância, o economista diz ser possível desenvolver esses traços de personalidade até o fim da adolescência:
- É claro que o investimento feito nessa idade não vai ter tanto retorno quanto aquele feito na infância, mas não quer dizer que não seja compensatório.
Heckman diz ainda que é preciso mudar a percepção de que traços de personalidade e QI são características puramente genéticas e imutáveis. Ele atribui às características herdadas dos pais apenas 50% das habilidades cognitivas e de personalidade das pessoas. A outra metade, diz, pode e deve ser trabalhada pelo sistema educacional:
- É preciso expandir o papel do professor e o entendimento de educação com uma visão muito mais compreensiva, em vez de apenas se concentrar no resultado das notas dos alunos num teste em particular. Elas são importantes meios de medir o aprendizado, mas se olharmos apenas para elas, podemos estar ignorando outros traços importantes para o sucesso do indivíduo.

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