30 de setembro de 2011

Especialista diz que violência está migrando dos grandes centros urbanos para o interior

30/09/2011 


José Rabelo


Nessa terça-feira (27), em São Paulo – durante o 14° Fórum de Debates Brasilianas.Org, especialistas debateram o tema segurança pública no Brasil. O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, afirmou que a violência está migrando dos grandes conglomerados urbanos para o interior. A tendência apontada por Jacobo pode ser confirmada no Espírito Santo. Dos dez municípios mais violentos do Estado no primeiro semestre deste ano, oito são do interior.

Nos últimos anos, a curva da violência tem se acentuado no interior do Estado. Municípios que há uma década eram considerados “pacatos”, hoje convivem com taxas de homicídios de guerra civil. Pinheiros e Pedro Canário são exemplos dessa tendência. No primeiro semestre de 2011, os dois municípios encabeçavam a lista dos mais violentos do Estado, respectivamente com 122 e 113 homicídios por 100 mil habitantes.

Jacobo afirma que a violência, geralmente, é mais acentuada em três tipos de municípios. Primeiro, nos municípios de zona de fronteira, nos quais o crime organizado chega a dominar parte do território; segundo, nos municípios de turismo predatório; e, terceiro, no chamado arco de desmatamento amazônico.

Os municípios capixabas, com alguns ajustes, apresentam características comuns às citadas pelo sociólogo. Dos 14 municípios do interior que registraram no primeiro semestre deste ano taxas de homicídios acima de 50 por 100 mil habitantes, nove estão localizados na divisa ou muito próximos dela. É o caso de Pedro Canário, Ecoporanga, Baixo Guandu, Ibitirama e Ibatiba, que ficam exatamente na divisa com os estados de Minas Gerais e Bahia; e dos municípios de Pinheiros, Conceição da Barra, Ponto Belo e Boa Esperança, que ficam a poucos quilômetros da divisa.
É certo que o especialista se refere a regiões fronteiriças, mas, guardadas as proporções, as cidades situadas na divisas do Estado apresentam problemas semelhantes aos encontrados nas fronteiras brasileiras. Esses municípios ficam, muitas vezes, “esquecidos” pelos governantes e vulneráveis às organizações criminosas. A ausência do Estado se torna evidente na partilha de recursos destinados a programas de prevenção e combate à criminalidade para estes municípios.

A proximidade da divisa também amplia as opções de rotas de fuga para as organizações criminosas. Em questão de minutos, um bandido pode transitar de um estado para o outro, diminuindo as chances de atuação da polícia que, quase sempre, trabalha com efetivos bem aquém da necessidade das demandas desses municípios. No município mais violento do Estado, Pinheiros, há um policial para cada 1.277 habitantes. A ONU recomenda um policial para 250 habitantes.

Se o especialista se refere ao arco de desmatamento amazônico e seus coadjuvantes – grilagem de terra, madeireiras ilegais, extermínio de comunidades indígenas e as áreas de pistolagem – como fatores determinantes para o aumento da violência no Norte do País, o Espírito Santo também tem o seu “arco de desmatamento” no eixo norte do Estado, com a presença do deserto verde proporcionado pelas plantações de eucaliptos da Aracruz Celulose (atual Fibria), que margeiam boa parte dos municípios que convivem com elevadas taxas de homicídios. Como exemplos, podemos citar a própria cidade de Aracruz, Linhares, Jaguaré, Conceição da Barra, Pinheiros e Pedro Canário, todas com mais de 50 homicídios por 100 mil habitantes.

No rastro do deserto verde, os problemas encontrados no Norte do País se repetem no Estado capixaba: grilagem de terra, extração ilegal de madeiras, extermínio de comunidades indígenas e quilombolas e conflitos pessoais resolvidos no bico do revólver ajudam a robustecer os números da violência.

No debate, Jacobo alertou sobre o grande risco de a violência se transformar de epidemia em pandemia. O sociólogo explicou que até cinco homicídios por 100 mil habitantes é uma margem bastante confortável. De cinco a 10, já é um índice que inspira cuidados e passa a gerar intranqüilidade na população. Acima de 10, Jacobo classifica como fase epidêmica da violência, quando o cidadão já não tem mais confiança na polícia. Nessa fase, normalmente, o crime organizado passa a ocupar o espaço que deveria ser do Estado.

A partir de 20 homicídios por 100 mil, segundo o especialista, a situação se torna crítica e se transforma em pandemia estrutural, estágio muito mais difícil de ser revertido.

Vale lembrar que os dez municípios mais violentos do Estado, de acordo com dados do primeiro semestre deste ano, registraram mais de 60 homicídios por 100 mil habitantes. A média projetada para 2011 para o Espírito Santo é de 50 homicídios por 100 mil.

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