30 de agosto de 2011

País precisa atrair jovens talentos para a educação


30/08/2011 
'É preciso investir no mérito', afirma subsecretário de Assuntos Estratégicos.

Fórum Globo News debateu as políticas educacionais do país.


Paulo Guilherme
Do G1, em São Paulo


Investir na formação do professor e criar mecanismos de incentivo e premiação para atrair o jovem a abraçar a carreira docente foram alguns dos temas de destaque no 7ª edição do Fórum Globo News, realizado nesta terça-feira (30), em São Paulo. O encontro teve como tema a educação, políticas educativas e a formação para as futuras gerações.
Especialistas traçaram uma lista de problemas no sistema educacional brasileiro e destacaram alguns aspectos que podem nortear a mudança das políticas públicas para uma educação de maior qualidade. Ricardo Paes de Barros, economista e subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidência da República, destacou a importância de se criar mecanismos para atrair os jovens talentosos para a carreira de professor. Para isso, segundo ele, é necessário melhorar a formação dos professores e estabelecer medidas nas quais o mérito do profissional seja recompensado.
Especialistas debateram os rumos da educação no Fórum Globo News (Foto: Paulo Guilherme/G1)Especialistas debateram os rumos da educação no Fórum Globo News (Foto: Paulo Guilherme/G1)
“O sistema público perde seus melhores professores para as escolas particulares pela falta de uma política de méritos”, destacou. “O professor precisa ser melhor premiado, não apenas com um aumento da média salarial no país, mas que se tenha um sistema de incentivo que premie e mantenha na profissão os mais talentosos.
A pedagoga Paula Lozanol, consultora da Fundação Lehmann, ressaltou que as políticas públicas devem buscar dar um bom professor para todos os alunos, e não apenas para alguns. Isto inclui, segundo ela, uma valorização maior do profissional do educação e investimentos em sua formação. Paula disse que a formação do professor tem que seguir um modelo como a da formação de um médico, que passa por experiências práticas em hospitais como residentes antes de começar a exercer a profissão. “Em geral os alunos de pedagogia são aqueles com piores notas no ensino médio. Faz da profissão docente um ‘bico’. Uma profissão onde não é necessário um saber específico jamais terá um status na sociedade.
Paula destacou ainda que o professor tem dificuldades em sala de aula porque nunca lhe foi ensinado como ensinar. “É preciso mudar o perfil das faculdades de educação. Hoje o primeiro contato do professor formado com sua prática já é no primeiro dia de aula. Se queremos ser a quarta economia do mundo não podemos mais conviver com um sistema educacional tão aquém dessa missão.”
Psicólogo e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araújo e Oliveira falou sobre os problemas do país no processo de alfabetização. “Aqui se confunde alfabetizar com compreender. São duas coisas completamente distintas”, ressaltou.”No mundo todo a criança é alfabetizada ao final da primeira série. No Brasil, especialmente no ensino público, se fala em ‘processo permanente’ e não se tem uma verdadeira política de alfabetização.”
Sociólogo e cientista político do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro, Simon Schwartzman criticou o sistema educacional brasileiro, especialmente no ensino médio. “É uma aberração”, destacou. “Só no Brasil se exige que o jovem estude tudo de todas as disciplinas. Ele não tem a opção de escolher as áreas em que tem mais afinidade para seu futuro profissional (exatas, humanas e biológicas) e poder ser avaliado apenas nestas áreas.”
Schwartzman destacou que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é mais um complicador ao ser usado como vestibular e exigir do adolescente uma maratona de estudos e dois dias com cinco horas de prova. “Em vez de o Brasil evoluir para criar uma certificação dentro de determinadas áreas cria uma camisa de força com este sistema único de ensino que reforça problemas da Lei de Diretrizes de Base. Se o aluno já sai do ensino fundamental com uma série de deficiências, como vai resolver estes problemas no ensino médio?”
O debate contou com a presença de dois profissionais que vivem na prática a rotina de uma escola: o professor de geografia da Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, no Rio, Luciano Pessanha, que relatou as mudanças na rotina da escola após a tragédia do dia 7 de abril, quando um ex-aluno invadiu a escola armado e atirou contra as crianças, matando 12 estudantes e se matando em seguida; e José Nunes Francisco, diretor da Escola Estadual Tomé Francisco, em Lagoa da Cruz, no sertão de Pernambuco, que com poucos recursos e um alinhado trabalho de coordenação pedagógica alcançou nota 6,5 no Índice de Educação Básica (Ideb), acima da média de países desenvolvidos. “Não temos ajuda de empresas, nossos principais parceiros são os pais dos alunos e um fortalecimento das relações interpessoais do corpo docente, que participa da gestão do ensino e aumenta sua eficácia”, disse.

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