11 de abril de 2011

Realengo: Professores andam armados em escola nos Estados Unidos


Desde 2008, uma escola na pequena cidade de Harrold, no norte do Texas, tem professores armados, dentro das classes.
A tragédia de Realengo levanta uma questão inevitável: nossas escolas são inseguras? O que fazer para proteger nossas crianças? Detectores de metais, seguranças e até professores armados, como já acontece nos Estados Unidos.

Logo depois do crime, mensagens e mais mensagens, na internet, pediam segurança nos colégios. No dia seguinte, nas escolas da maior cidade do país, era esse o principal assunto.

“Eu estou com um pouquinho de medo de vir para a escola”, revelou a estudante Luma Graziele Ferreira Silva. “A gente pensa que estão guardadas, que estão seguras, mas na realidade não estão”, declarou a dona de casa Maria Marlene de Sousa. “Eu estou com medo, mas tem que vir para a escola para estudar”, disse a estudante Vitória Bianca de Oliveira.

O cenário dos assassinatos, desta semana, a Escola Municipal Tasso da Silveira, tinha proteção: oito câmeras de vigilância nos corredores, muros de quatro metros de altura e um portão.

Será que medidas mais rígidas, como detectores de metal e seguranças armados, teriam evitado tantas mortes? Educadores e especialistas em violência do ambiente escolar dizem que não.

“Esse tipo de massacre fugiu ao cotidiano das escolas. Mesmo com polícia e mesmo com câmera, seria muito difícil evitar. Poderia ter acontecido em outro lugar e não na escola. Mas ele escolheu a escola”, afirmou Miriam Abramovay, especialista em violência nas escolas.

O primeiro ataque com arma de fogo em uma escola brasileira aconteceu em janeiro de 2003. Foi na tranquila Taiúva, a 364 quilômetros de São Paulo. Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu o colégio com um revólver 38. No pátio, ele começou a atirar. Feriu a vice-diretora e mais cinco alunos. Depois dos disparos, Edmar se matou.

Mesmo depois da tragédia, nenhuma medida especial de segurança foi tomada. Hoje, oito anos depois que um aluno entrou na escola e atirou contra professores e colegas, as portas continuam abertas.

“Sempre foi uma escola tranquila e continua sendo uma escola muito tranquila. Isso foi um fato isolado que jamais a gente acharia que poderia acontecer”, afirmou a vice-diretora da escola, Maria de Lourdes Fernandes.

Nenhuma das vítimas do atirador morreu, mas um adolescente ficou paraplégico. O agricultor Pedro Russo, pai da vítima, diz que, nesta semana, reviveu a tragédia. “É difícil. Não gostaria que nenhum pai passasse mais por isso”, comentou.

O comerciante Eliel Câmara era colega de classe do atirador e foi outra vítima. Ele diz onde pegou o tiro: “pegou no peito, perfurou o pulmão e saiu nas costas. Ele não falava nada. Ele só atirava só, mais nada”.

Em 2004, outro caso no Brasil. Um aluno entrou atirando em uma escola de informática em Remanso, na Bahia. Matou uma funcionária e deixou três pessoas feridas. Como era menor de idade, cumpriu quatro meses de medida sócio-educativa e foi libertado.

Nos Estados Unidos, existe um projeto radical. Desde 2008, uma escola na pequena cidade de Harrold, no norte do Texas, tem professores armados, dentro das classes.

“Nós queríamos fazer alguma coisa pra proteger nossas crianças”, explicou o superintendente da escola, David Thweatt. “Primeiro, colocamos câmeras de segurança e catracas acionadas com cartões magnéticos, mas isso não era suficiente”.

Nem todos os professores estão no programa. Os que estão receberam treinamento especial. E ninguém sabe quem são eles. Os especialistas ouvidos pelo Fantástico são contra essa iniciativa.

“Eu acho que não adianta. Quer dizer, eu acho que esse tipo de medida que é repressiva só traz situações piores, pelo que eu li até agora. O professor vai armado, o aluno vai querer ir armado”, comentou Miriam Abramovay, especialista em violência nas escolas.

Nos dias seguintes à tragédia no Rio, várias autoridades se apressaram em dizer que vão rever as medidas de segurança nos colégios. A Câmara dos Deputados acelerou o andamento de um projeto que obriga a instalação de detectores de metal em todas as escolas do Brasil.

“O detector de metal pressupõe uma passagem em um portalzinho. Você imagina uma escola que tem dois mil alunos e que mil entram de manhã e mil entram à tarde. Você põe um detector de metal, você vai ter um problema de fluxo do lado de fora da escola, o risco de criança ser atropelada que talvez não vale a pena”, criticou Ilona Becskeházy, educadora da Fundação Lemann.

Em Porto Alegre, uma escola estadual instalou o equipamento em 2005. Mas ele foi desativado em menos de dois meses. O detector apitava com quase todos os alunos, dificultava a entrada e constrangia os estudantes. Nenhuma arma foi descoberta.

Para a educadora Ilona Becskeházy, sistema de segurança nenhum teria parado o assassino de Realengo. “Ninguém teria impedido aquele menino com aquela quantidade de munição e arma a não ser que tivesse o batalhão de choque na porta da escola. Se tivesse um segurança armado e falasse: ‘você não vai entrar’, ele teria atirado na testa do segurança, como ele atirou nas vítimas”, declarou.

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