16 de abril de 2011

Mapa da violencia 2011: Brasilia e Goias

16 de abril de 2011
Julio Jacobo Waiselfisz | Correio Braziliense | Opinião | BR

Mais do que paliativos para o Entorno

VISÃO DO CORREIO

Está prevista para segunda-feira a volta da Força Nacional de Segurança (FNS) ao Entorno do Distrito Federal. A solução é paliativa. A tropa de elite montada pela União com efetivos estaduais das polícias Militar e Civil, além do Corpo de Bombeiros, já atuou na região, de outubro de 2007 a outubro de 2009. Não resolveu o problema da violência, hoje epidêmica, conforme parâmetro definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 10 ou mais assassinatos por grupo de 100 mil habitantes.

A tropa começará a agir por Águas Lindas de Goiás, 55ª entre as cidades brasileiras com mais de 10 mil moradores em registros de homicídios, segundo ranking do Mapa da Violência 2011, elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz a partir do banco de dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, no período 1998-2008. Apenas nos três primeiros meses deste ano, foram mortas 29 pessoas no município, contra 17 em igual trimestre de 2010.

O quadro se reproduz na vizinhança. Com a mesma base de comparação, os homicídios em Luziânia passaram de 36 para 52; em Valparaíso de Goiás, de 24 para 30. Lembre-se que, em Luziânia, um serial killer matou sete adolescentes entre dezembro de 2009 e março de 2010, numa sequência de crimes que chocou o país. Pois a cidade está novamente envolta em mistério macabro, com a investigação de cinco assassinatos brutais, cujas vítimas terminaram degoladas.

A cada 10 dias ocorrem 19 homicídios no Entorno, quase dois num espaço de 24 horas. Em 15 dos 19 municípios que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), o número de assassinatos cresceu 26% nos três primeiros meses deste ano, em relação a 2010. Perderam a vida 36 pessoas mais, num total de 173. Na média, as ocorrências policiais em geral aumentaram 20% nessa área, habitada por 1 milhão de pessoas, em sua maior parte carentes de toda sorte de serviço público.

Passa da hora de o Estado se fazer presente de modo permanente e efetivo. Em 23 de fevereiro, os governos de Goiás e do DF implantaram um Gabinete de Gestão Integrada de Segurança do Entorno do Distrito Federal. A integração é, de fato, a única forma de conter a criminalidade e assegurar atendimento social à população. Mas várias vezes foi ensaiada, sem jamais migrar do plano das intenções para o da realidade. Enquanto isso, a situação se agrava, inclusive na capital da República, impotente diante do cerco patrocinado pela bandidagem.

Brasília, aliás, exige mais atenção. Aqui, o número de roubos e furtos no comércio cresceu mais de 35% na última década, com uma ocorrência a cada 96 minutos. Isso, apesar de os comerciantes se precaverem cada vez mais, com gastos crescentes em segurança privada. Mas nem atrás das grades consegue-se controlar os criminosos. Na madrugada de 27 de março, seis presos de alta periculosidade fugiram de uma ala de segurança máxima da Papuda. Não bastassem as falhas estruturais e a falta de efetivo e de monitoramento, o sistema penitenciário tem deficit de 3,2 mil vagas, com 18 detentos, em média, ocupando celas com capacidade para oito. Pior: nem os menores infratores recebem o devido trato, pois o Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) tem mais do que o dobro da lotação: 380 internos em 160 vagas.

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