18 de abril de 2011

Mais de 40% dos alunos do Rio sofrem bullying



18 de abril de 2011
  O Globo | Rio |




Pesquisa do Instituto Informa revela que agressões ocorrem mais no ensino fundamental e na rede municipal
  Ludmilla de Lima
Uma pesquisa sobre bullying nas escolas do Rio revela que a grande maioria dos alunos - 84,5% dos entrevistados - já foi vítima (40,4%) ou conhece alguém que sofreu agressões físicas ou psicológicas no colégio (44,1%). O levantamento, feito pelo Instituto Informa, mostra que o problema é mais grave nas unidades municipais. O percentual chega a 90,2% na rede municipal, contra 82,8% nos colégios particulares, e 72,7% nos estaduais. Atos de intimidação e violência ocorrem, principalmente, no ensino fundamental. Por isso a menor incidência na rede estadual, que tem foco no ensino médio.
Conforme O GLOBO revelou, ontem, as escolas ignoram uma lei estadual que obriga instituições de ensino a comunicar os casos de agressão entre alunos à polícia ou aos conselhos tutelares.
O bullying foi usado como justificativa pelo autor do massacre de Realengo. Welington Menezes de Oliveira, que tinha problemas mentais, matou 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, no último dia 7 de abril.
Durante a pesquisa, o instituto entrevistou 830 estudantes de 10 e 16 anos. Do total, 40,4% confirmaram já ter sido vítimas de bullying, e 44,1% disseram conhecer pessoas que foram alvo de perseguição. Uma das constatações mais preocupantes da pesquisa revela que 93,1% dessas pessoas disseram que não houve qualquer tipo assistência psicológica às vítimas.
De acordo com a consulta, o problema mais comum são os apelidos pejorativos, que representam 42,7% dos casos. Deboches coletivos (18,8%) e ofensas pessoais (13,7%) vêm em seguida. Das vítimas, 57,9% não reagiram às agressões, e 19,4,2% pensaram em vingança. E 71% das pessoas que foram alvo conseguiram superar o trauma.
As chances de agressão física são maiores nas escolas municipais: 46%. Nas estaduais, o índice é de 40%, e nas particulares, de 33,9%.
Meninas agridem mais verbalmente, diz sociólogo
Diretor do instituto, o sociólogo Fábio Gomes explica que a pesquisa revelou diferenças entre as vítimas de bullying não somente em relação às escolas onde estudam, mas também por idade e sexo.
- No caso das meninas, constatamos que a agressão mais presente é a verbal. Entre os meninos, é a física - compara o sociólogo.
Dos 492 alunos de 10 a 14 anos que participaram da pesquisa, 88,4% confessaram sofrer agressões ou ter colegas que passaram pela situação. Na faixa etária de 15 e 16 anos, o percentual é de 78,1%.
Os números mais alarmantes da rede municipal podem ser resultado de outra constatação: nessas escolas, os alunos denunciam mais. Apenas 29,8% dos estudantes da rede municipal entrevistados pela pesquisa afirmaram não ter comunicado o bullying à direção da escola. Esse percentual é de 58,7% nas escolas estaduais, e de 46,7% nas particulares.
Já as punições são mais frequentes nas instituições particulares: em 41,3% dos casos, o agressor sofreu penalidade. Nas unidades do município, só houve castigo para os agressores em 28,9% das situações. Na rede estadual, em 21,9%.
O índice alto de alunos que se dizem vítimas pode estar associado ao nível de conhecimento sobre o problema. Do total de crianças e adolescentes abordados pelo Instituto Informa, 61,6% responderam ter recebido informações nas escolas sobre o bullying.
Sem atitude da escola, mãe reagiu a agressões
Diante da falta de medidas concretas sobre o bullying praticado contra seu filho, uma moradora do Catete, na Zona Sul, que não quis se identificar, decidiu reagir por conta própria. Por diversas vezes, o menino de 13 anos chegou em casa machucado e chorando. A administradora de empresas comunicou o problema ao colégio, uma instituição particular, mas não viu uma resposta efetiva. A mãe da vítima, então, foi até a porta da escola e deu uma bronca no agressor do filho.
- Meu filho sofreu agressão física. Primeiro, os apelidos e, depois, começaram a persegui-lo. Na saída da escola, ele era empurrado contra a parede, e chamado de apelidos como fedorento, gordinho e chato - conta a mãe, dizendo que a violência acabou depois da repreensão na saída da escola. - Meu filho teve notas baixas, ficava triste e calado.
Um menino da mesma idade, que mora em Jacarepaguá, precisou da ajuda de um grupo de teatro. Depois da atividade, ele passou a sofrer menos com a implicância de colegas. O pai, um bombeiro, conta que trabalhava preocupado com o estado emocional do filho na escola.
- Sou muito tímido e acho que meu filho herdou um pouco dessa característica. Mas ele já está bem melhor depois das aulas de teatro - descreve o pai, que chegou a procurar os parentes de um garoto que foi até a casa dele só para importunar seu filho.
O advogado Danilo Sahione, que defende mais de cem escolas particulares do Rio, percorre as unidades para dar palestras sobre o tema. O trabalho é dirigido, principalmente, a profissionais de educação e alunos.
- O bullying feminino é o pior de todos, porque provoca isolamento. Colocamos essas questões para ajudar a identificar o problema e a trabalhá-lo na escola e com a família. Se o problema continuar, aí sim, orientamos o colégio que encaminhe o caso ao conselho tutelar - diz o advogado.

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