25 de abril de 2011

Jovens têm acesso fácil a armas em AL: Alagoas

25 de abril de 2011
  O Globo


Número de crianças e adolescentes armados no estado alarma autoridades
  Odilon Rios*
MACEIÓ. Armas de fogo de verdade circulam, sem controle, nas mãos de crianças e jovens nas ruas de Alagoas. Pelos dados do Comando do Policiamento da Capital (CPC) - que abrange 13 cidades, incluindo Maceió -, 15% das apreensões foram feitas com meninos com idade entre 11 e 15 anos, em 2010. Foram 148 armas.
- Chamou a atenção um menino que estudava em uma escola pública, tinha 11 anos e disse que tinha uma arma de fogo para se proteger. Agora, de quê? Não sabemos - disse o comandante do CPC, coronel Gilmar Batinga.
Em 2009, 655 armas de fogo apreendidas em Alagoas
Os números assustam porque Alagoas é o estado brasileiro onde mais se matam jovens. A cada dez mortos, sete foram por armas de fogo, segundo dados do Ministério da Justiça.
Apesar de ocupar o primeiro lugar nacional em número de assassinatos, Alagoas é o nono estado brasileiro na lista dos que menos apreenderam armas, segundo levantamento do Sistema Nacional de Estatística de Segurança Pública e Justiça Criminal.
Em 2009, foram 655 armas. O Acre apreendeu menos, 62. Sergipe - vizinho de Alagoas - apreendeu três vezes mais: 2.209.
A Polícia Militar não sabe como essas armas vão parar nas mãos de crianças. No mercado negro, elas custam, segundo o comandante Batinga, entre R$300 e R$400. Mas, segundo um policial militar ouvido pelo GLOBO, elas podem ser compradas por R$30 na Feira do Rato, no Centro de Maceió, conhecida por vender produtos roubados.
- Para a vagabundagem, é fácil adquirir uma arma. Agora, não sabemos como. Eles dizem que é na Feira do Rato, mas isso é conversa fiada. Essas armas são roubadas de residências. Fazemos apreensões constantemente. Nestes últimos dois dias, pegamos quatro armas. No ano passado, foram mil apreensões. Todos os dias, pegamos uma ou duas armas, em média - afirmou o comandante Batinga.
- Também não sei como essas armas aparecem. Mas, desde pequeno, escuto que é fácil se vender uma arma em Alagoas - afirmou o corregedor do Tribunal de Justiça, desembargador James Magalhães.
Mês passado, depois da prisão de dois seguranças do fórum da cidade de Arapiraca, no agreste alagoano, ele descobriu que 140 armas sumiram de processos por homicídio. Elas estavam guardadas em dois cartórios.
Reunião hoje para tratar de sumiço de armas em fóruns
O caso foi considerado tão grave que o desembargador nomeou uma comissão de juízes para investigar todos os fóruns de Alagoas. Há desconfianças de que armas de fogo usadas em crimes e anexadas a processos sumiram e circulam com facilidade pelo estado, nas mãos de outros criminosos.
- Esse assunto me preocupa porque o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) fez um levantamento no país sobre o desvio de armas de fogo nos fóruns, e esses números são alarmantes.
Hoje, o corregedor se reúne, a portas fechadas, com o delegado-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco. O processo corre em segredo de Justiça:
- Estamos investigando pelo menos mais três pessoas nessa situação. Uma arma não sai apenas com a ajuda de uma pessoa de um fórum. É estranho - disse Magalhães.
Somente nestes quatro primeiros meses do ano, três ex-deputados tiveram prisão decretada pelo Tribunal de Justiça de Alagoas por crimes de pistolagem. Francisco Tenório está na carceragem da Polícia Federal, acusado de matar o ex-cabo da Polícia Militar José Gonçalves, em 1996. Cícero Ferro, considerado foragido, é acusado de matar um primo e um vereador a tiros; João Beltrão também está foragido por crime de pistolagem.
O vice-presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, deputado Antônio Albuquerque (PTdoB) também foi preso, em 2008, por crimes de pistolagem. Em 2009 foi a vez de o filho dele, Nivaldo Ferreira de Albuquerque Neto, ser preso durante uma blitz por porte ilegal de arma.
* Especial para O GLOBO

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