4 de janeiro de 2011

Pesquisa cientifica no Brasil

Falta de dinheiro, mão de obra e plano de carreira dificultam avanço no país
 

A produção científica no Brasil evoluiu de maneira contraditória no ano passado. O país ganhou uma posição no ranking SCImago de publicações científicas, elaborado pela SCImago Journal & Country Rank, subindo para a 14a posição, com 34.145 publicações.
O volume foi 12,4% maior que o registrado no ano anterior. O resultado, no entanto, ficou aquém da posição econômica do país - atualmente a oitava maior economia do mundo, com possibilidade de subir uma posição em 2011.
Ao mesmo tempo, o Brasil caiu 14 posições no ranking global de inovação tecnológica em 2010, passando a ocupar a 68a colocação, de acordo com o Índice de Inovação Global, elaborado pela escola de administração Insead, em parceria com a Confederação da Indústria Indiana (CII).
Recursos financeiros escassos, déficit de mão de obra qualificada para algumas áreas da ciência e ausência de planos de carreira para pesquisadores nas universidades são alguns dos fatores que dificultam uma evolução mais célere da pesquisa científica brasileira, de acordo com os cientistas entrevistados pelo Valor .
Segundo dados preliminares do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2010 os investimentos públicos e privados em pesquisa e desenvolvimento chegaram a R$ 44 bilhões, representando 1,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2009, os investimentos foram de R$ 51, 2 bilhões, o equivalente a 1,63% do PIB. Conforme o mais recente estudo comparativo de países divulgado pelo ministério, em 2008, o dispêndio em pequisa e desenvolvimento per capita no Brasil era de US$ 121,4 por habitante ao ano, ante U$ 1.307,60 nos Estados Unidos, US$ 1.168,50 no Japão, US$ 931,80 na Coreia, US$ 164,80 na Rússia e US$ 90,80 na China.
"A ciência ainda é um esporte de elite no Brasil", afirma o neurocientista codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University e diretor do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, Miguel Nicolelis. Na avaliação do cientista, nos últimos anos houve uma recuperação dos investimentos nas universidades, mas ainda faltam estímulos à pesquisa. Ele observa que a maioria dos pesquisadores brasileiros trabalha nas universidades públicas, mas não consegue se dedicar em tempo integral à pesquisa. "São todos professores e têm de dedicar 360 horas por semestre à licenciatura. Esse modelo atual tem de ser repens a d o", diz Nicolelis.
De acordo com dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, 2,6% da população ocupada (240,5 mil pessoas) no Brasil atua na área de pesquisa e desenvolvimento. Mas, desse total, só 133,3 mil são pesquisadores de fato. Dentre os pesquisadores, 56,8% estão nas universidades lecionando; outros 37,3% trabalham com pesquisa aplicada no setor privado e 5,1% estão concentrados nos institutos de pesquisa do governo.
O professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e do Instituto de Física de São Carlos da USP, Daniel Vanzella, afirma que a falta de um plano de carreira para dedicação exclusiva à pesquisa não é o único problema nas instituições públicas. "A compra de equipamentos e material para a realização de pesquisas é feita por licitação. E como boa parte do material é importado, as pesquisas normalmente sofrem atrasos", observa Vanzella.
O astronauta Marcos Pontes afirma que a escassez de recursos financeiros, somada à falta de planos de carreira para pesquisadores e à pouca interação entre os setores público e privado fazem com que a pesquisa no país se desenvolva de maneira lenta.
"Existe defasagem em áreas como nanotecnologia, materiais, dispositivos eletrônicos e microg r av i d a d e", diz. Ele observa que o crescimento econômico tem atraído investimento estrangeiro para a pesquisa, mas diz que é necessário estruturar melhor o sistema educacional. ( CB)
Valor

Um comentário:

  1. A pesquisa cientifica no Brasil ainda sofre um certo desprezo pelos nosso políticos. Não é somente falta de recursos financeiros o nosso problema mas também falta de qualidade. Precisamos de instituições ao nível de um MIT, Oxford, Harvard, etc. Precisamos diversificar a pesquisa cientifica para muitas outras áreas. Precisamos de laboratórios nacionais como os que existem aqui nos EUA: Brookhaven, Lawrence Berkeley, Los Alamos, etc. A mídia brasileira foca muito mais em venerar os esportistas e muito pouco mesmo os nossos cientistas. Quando Dilma no seu discurso inaugural mencionou a pesquisa cientifica e tecnológica não houve aplausos dos políticos e pessoas presentes. O Brasil não é um pais de tradição cientifica e isto não vai mudar tão cedo.

    Sergio Tunes - Físico Teórico

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