20 de janeiro de 2011

ENEM e SISU



 Jorge Werthein | Correio Braziliense | Brasil | BR

Ações contra inscrição no Sisu

Wilson Dias/ABr - 16/10/10

O ministro Fernando Haddad e o ex-presidente do Inep Joaquim Neto: Câmara pode pedir novas explicações
Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press

A estudante Natália Cipriano foi uma das que apanhou do sistema: "Fiquei três dias lutando até conseguir me inscrever em uma única opção"

ENEM Prazo da seleção vai até hoje, mas tanto o Ministério Público quanto a Defensoria da União foram à Justiça a fim de paralisar processo
LARISSA LEITE
As inscrições para as 83.125 vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação (MEC) estão abertas até as 23h59 de hoje. Podem se inscrever nas vagas oferecidas por 83 instituições públicas de ensino superior todos os cerca de 3,3 milhões de estudantes que fizeram o último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Até a noite de ontem, menos da metade deles havia acessado a página do MEC. Apesar da data estipulada pela pasta, o prazo para o fim das inscrições pode não ser definitivo. Isso porque há pelo menos três ações civis públicas, do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU), que pedem a suspensão das inscrições no sistema. O próprio MEC já adiou o prazo uma vez, que estava marcado para a última terça-feira.
A motivação do MEC para a extensão do prazo foi a dificuldade de inscrição por estudantes da região serrana do Rio, que teve a infraestrutura de cinco municípios devastada pelas chuvas. Já os argumentos dos procuradores e dos defensores que ingressaram com ações na Justiça estão relacionados a falhas ocorridas no Enem, cujo resultado foi divulgado no dia 13. Estudantes que procuraram os órgãos alegam que tiveram a prova anulada sem se encaixarem em restrições previstas pelo edital; pontuações divergentes das esperadas; ou ainda a prova de redação anulada. De acordo com o MEC, quase 15 mil candidatos foram anulados no segundo dia de prova.
Porém, MPF e DPU contestam, especialmente, o fato de que o edital do exame não prevê a apresentação de recursos em relação à nota obtida. As ações pedem, assim, que a conclusão das inscrições no Sisu ocorra apenas após o resultado de possíveis recursos. Ingressaram com ações na Justiça o Ministério Público Federal no Ceará, em Pernambuco, e em Mato Grosso; e as Defensorias do Ceará e de São Paulo.
Para o procurador da República Oscar Costa Filho, do MPF no Ceará, o MEC deve solucionar um problema de falta de transparência: Não precisaria que uma ação na Justiça sugerisse ao MEC a divulgação do espelho dessas provas. Também não entendo a impossibilidade de entrar com recurso.
Desse jeito, a falta de confiança nos procedimentos do ministério se torna incontestável . Ainda segundo o procurador, a dificuldade de acesso e de seleção de opções na página do Sisu também justifica a suspensão do prazo pela pasta.
Natália Cipriano, 17 anos, foi uma das estudantes que sofreu com os entraves da página do Sisu, que acontecem desde o último domingo. Acessando o site desde então, a estudante conseguiu selecionar apenas uma opção de curso, e, ainda assim, apenas na tarde de ontem. Estou acessando o site ao longo dos dias e durante as madrugadas, quando o acesso melhora. Mas fiquei três dias lutando com esse sistema até conseguir me inscrever em uma única opção.
De acordo com a assessoria do MEC, o sistema apresentou problemas, ocorridos especialmente na noite de segunda-feira e na manhã de terça-feira, em função de uma quantidade de acessos não esperada. Segundo a assessoria, o sistema travou porque o dimensionamento estava equivocado e o número de acessos foi quatro vezes superior ao esperado .
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"A iniciativa é mais importante que os erros cometidos na manutenção do sistema
JorgeWerthein, doutor em educação pela Universidade de Stanford (EUA)
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Comissão pode sugerir mudanças
Ana Elisa Santana
A gestão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC), deve receber atenção especial da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados este ano. Segundo o deputado titular da comissão, Gastão Vieira (PMDB-MA), modelos internacionais de seleção para o ingresso no ensino superior devem ser usados como exemplo no momento em que os parlamentares forem analisar o Plano Nacional de Educação (PNE).
É interessante colocar dentro do PNE questões referentes ao Enem, mexer alguma coisa que nos permita ter regras mais flexíveis. Vamos trazer responsáveis para dizer como esses modelos funcionam no exterior , planeja.
O peemedebista defende que a aplicação do exame seja descentralizada, não ficando a cargo apenas do MEC. Segundo ele, se a função fosse delegada a instituições parceiras do ministério, independentemente de serem federais ou privadas, haveria menos problemas como os erros em cadernos de provas, no ano passado.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou em audiência na Câmara, em novembro, que é normal haver algum tipo de erro no Enem, devido ao grande número de candidatos no último exame, foram cerca de 3,5 milhões de inscrições.
Está na hora de pensar em uma descentralização e fazer mais de um exame por ano , diz Vieira. Para o deputado, uma solução seria realizar provas diferenciadas em cada região, baseadas em um conjunto de informações, ou ainda que cada instituição aplicasse quantas avaliações fossem necessárias para selecionar seus estudantes.
Vieira descarta que irregularidades possam aumentar com a descentralização do exame. A fiscalização e a lisura são princípios básicos. E os mecanismos serão estabelecidos nos próprios estados. Há várias maneiras de fazer , afirma, defendendo a importância do exame para o acesso ao ensino superior por todos os estudantes. Hoje, um garoto do Maranhão consegue estudar em São Paulo fazendo a prova do Enem, o que era muito difícil antes.
A maior vantagem é a inclusão social. Daqui há algum tempo, ninguém mais vai falar em vestibular.
Em defesa do modelo
Débora Álvares
Se boa parte dos especialistas em educação e em segurança da informação acreditam que os erros cometidos pelo Ministério da Educação (MEC) em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são primários, como mostrou ontem o Correio, há também quem avalie os recentes problemas como normais. Caso, por exemplo, do ex-representante da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil, Jorge Werthein. Doutor em educação pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Werthein destaca que é preciso ter paciência e aceitar que um sistema complexo, aplicado de forma abrangente, está suscetível a problemas.
A iniciativa é mais importante que os erros cometidos na manutenção do sistema , avalia. Também compartilha da opinião de Werthein o doutor em ciência da educação pela Universidade Paris Nord, na França, Cristiano Muniz. Para ele, a metodologia não está pronta, mas é construída em processo, e enfrenta desafios que a complexidade impõe. O problema é a centralização do processo em um país com imensa diversidade cultural, social e educacional. Outro transtorno Muniz ressalta é a demanda do processos de avaliação, o que requer um sistema de controle, fiscalização e produção complexo. Se não fossem esses problemas, teríamos outros. O sistema é muito recente.
1,5 milhão de inscritos
O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) recebeu, até as 19h de ontem, 1,5 milhão de inscrições para as 83.125 vagas em instituições públicas de ensino superior, segundo informou o Ministério da Educação.
Como cada candidato pode marcar até duas opções de cursos e instituições, o número se refere a 807 mil candidatos, o que supera os 793 mil inscritos na edição do primeiro semestre de 2010.
O bacharelado em ciência e tecnologia da Universidade Federal do ABC, instituição com sede em Santo André (SP), foi o mais procurado pelos candidatos. O curso teve, até as 19h, 13.754 inscrições. O segundo curso mais procurado é o de medicina na Universidade Federal do Ceará (UFCE): são 11.616 inscritos concorrendo a 300 vagas, das quais 160 são oferecidas em Fortaleza, 70 no câmpus de Cariri, e mais 70 em Sobral. O curso de ciências biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) aparece como o terceiro mais procurado, com 6.348 candidatos inscritos.
Quem for aprovado no curso de primeira opção, é automaticamente retirado do sistema. E caso não faça a matrícula na instituição para a qual foi selecionado, perde a vaga. O estudante que for selecionado para a segunda opção pode permanecer no sistema e ser convocado nas chamadas seguintes.

FAC-SÍMILES


Um comentário:

  1. No ano passado o vexame do MEC foi continental
    Provas roubadas: um prejuízo enorme, sem igual
    Não só de dinheiro público, pela ampla reaplicação
    Mas de tempo, desgaste, deslocamento, tensão

    No ano seguinte, mais erros pela frente
    O MEC, não fez a lição, é aluno repetente
    Em nova oportunidade, grande confusão
    Questões faltando, erros de impressão

    Com o resultado do ENEM, avaliação questionada
    Qual motivo das provas anuladas? Ninguém sabe nada
    Exceto os alunos do Ceará, terão o direito de observar
    Justiça liberou e as provas o MEC vai disponibilizar

    Pois só assim, poderão aceitar a nota ou recorrer
    Já que não há como julgar, sem a prova poder ver
    No Rio, o juiz determinou prorrogação da inscrição
    O MEC contesta, por questões técnicas, a imposição

    Mas vale lembrar que o exame do SISU é nacional
    E que, portanto, direitos devem ser dados por igual
    Se cearenses e cariocas tiveram benefício conquistado
    Que a decisão seja expandida aos demais estados

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