18 de dezembro de 2010

Brasilia e os proximos 50 anos

Os próximos 50
 



» JORGE WERTHEIN Doutor em educação pela Stanford University, foi representante da Unesco no Brasil, vice-presidente executivo da Sangari Brasil (jorge.werthein@sangari.com)

Falta pouco para 2011. Brasília conta os dias para o novo ano. Vêm aí nova etapa, novo governo. Os desafios são muitos: na saúde, no emprego, nos transportes, na educação, na segurança pública, na política, no meio ambiente. A capital do país, Patrimônio Cultural da Humanidade, prepara-se, então, para enfrentá-los. Aos 50 anos, pode começar a pensar nos próximos 50. Pode e deve ter visão de longo prazo.
Apesar das numerosas dificuldades dos setores de saúde e transporte público, por exemplo, o Distrito Federal tem alto índice de desenvolvimento humano (IDH), elevado PIB per capita e taxa relativamente baixa de analfabetismo (4,35%, enquanto o Brasil, 9,7%). Segundo recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a média de anos de estudo (para a população de 15 anos ou mais) é de 9,2 anos no DF, uma das mais altas do país.
Portanto, essa unidade da Federação tem satisfeitas muitas das condições para alcançar patamares superiores em termos de crescimento e desenvolvimento sustentados. Deve, assim, gerar cada vez maior espaço para a busca de soluções de longo prazo para seus principais problemas.
Consta que há falta de profissionais de saúde e de leitos nos hospitais do Distrito Federal, inclusive em UTI. A imprensa noticia, amiúde, o que chama de crise na saúde do DF . Embora tenha apresentado queda de quase 6% nas taxas de homicídio entre 1997 e 2007, o DF apresentava, em 2007, taxa de 33,5 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, o que o lançou à quinta posição no ranking das unidades federativas brasileiras por taxas de homicídio na população total, segundo o Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari.
Recentemente, a imprensa local e nacional vem destacando o crescimento do uso e do tráfico de crack em Brasília, com as chamadas cracolândias espalhando-se avidamente, inclusive na região central da cidade.
No último dia 24 de novembro, divulgou-se o resultado da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) no Distrito Federal. Conforme o levantamento, a taxa de desemprego total anual caiu de 15,1% para 13,1%. Isso significa que, em 12 meses, o número de trabalhadores ocupados cresceu 3,3%. A tendência parece positiva, mas é prudente admitir que a taxa de desemprego ainda se mantém elevada no DF.
No que diz respeito ao transporte público, cumpre reconhecer que houve, de fato, renovação de quase a metade da frota de ônibus. No entanto, ainda há ônibus velhos em circulação, em condições inadequadas de segurança e higiene.
Além disso, a espera nos pontos de ônibus pode ser longa. O metrô, que veio suprir parte da carência de transporte público, ainda não atende a todo o DF. E a falta de vagas em estacionamentos públicos incomoda, por sua vez, quem possui veículo próprio. A exitosa campanha Paz no Trânsito, que transformou a capital federal em exemplo para o país, ao ensinar em tempo recorde seus motoristas a respeitar as faixas de pedestre e os novos radares eletrônicos, tem perdido força e exige reedição.
Os desafios são muitos e diversificados, como se pode observar. E seria possível mencionar outros. Mas é preciso considerar, porém, que a pouca idade de Brasília confere-lhe uma inegável vantagem comparativa: poder observar a história das demais capitais brasileiras e dela extrair lições para o próprio futuro.
Há tempo de corrigir erros e consolidar acertos. Há tempo de impulsionar ainda mais setores que vêm apresentando resultados positivos e não podem retroceder, como a educação pública. Há, enfim, tempo de reorientar caminhos. Massa crítica não falta à capital federal. Tampouco diagnósticos confiáveis. A proximidade com o poder de nível federal também pode ser uma aliada, inclusive do ponto de vista turístico. Brasília, Patrimônio Cultural da Humanidade, é campo fértil para o turismo cívico e arquitetônico, além de favorável à preservação ambiental.
Também é fato que a qualidade de vida em Brasília supera a da maioria das capitais brasileiras. E essa característica, por si só, justifica o título de Brasília, Capital da Esperança, tal como o cunhou o escritor francês André Malraux, título consagrado no hino extraoficial da cidade, na letra do compositor Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado, confiante ainda em que a fibra dos heróicos bandeirantes persiste nos humildes e gigantes. Brasília tem tudo para ser o que sonhou Juscelino Kubistchek há mais de 50 anos.
Para isso, deve agir agora já com olhos aos próximos 50.


FAC-SÍMILES
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