11 de agosto de 2010

A educação que necessitamos

O mundo contemporâneo, denominado Sociedade do Conhecimento, é caracterizado pelo uso intensivo dos conhecimentos científicos e da aplicação da tecnologia. Neste cenário, precisamos nos preparar para enfrentar desafios. O mundo não vai parar e esperar o Brasil. É melhor estar no pelotão de frente das mudanças, mas só alcançaremos esta liderança após melhorarmos sensivelmente a nossa educação.

Nesta área, o Brasil se posiciona pessimamente no ranking internacional, o que torna a tarefa ainda mais urgente. Nas provas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006, aplicadas em 57 países entre alunos de 15 anos, os brasileiros obtiveram médias que os colocaram em 53º lugar em matemática, 48º em leitura e 52ª posição em ciências. O próximo resultado do Pisa será divulgado em dezembro de 2010. Qual será o resultado? O que temos feito para melhorar a aprendizagem de nossos alunos?

Em seu planejamento estratégico, realizado em 2005, Joinville adotou a seguinte visão para o seu próprio futuro: Ser uma cidade sustentável, solidária, hospitaleira, empreendedora, voltada à inovação, com crescente qualidade de vida, motivo de orgulho da sua gente, onde se realizam sonhos . Isto se traduz em querer ser mais do que a maior economia regional.

Joinville precisa planejar e executar a educação como um sistema integrado, pensando no desenvolvimento de seus cidadãos, num itinerário em que a qualidade seja condição primeira em todos os níveis de ensino. Utilizando como base levantamento de dados realizado pelo Comitê Estratégico de Educação do Instituto Joinville e a Associação das Mantenedoras Particulares de Ensino Superior de Santa Catarina (Ampesc) e também outros indicadores oficiais, é possível diagnosticar as principais necessidades da nossa cidade.

Temos uma população entre zero e cinco anos estimada em 54 mil crianças, mas apenas 17 mil são atendidas hoje em Joinville, o que significa pouco mais de 33%. É necessário dobrar o número de crianças matriculadas na educação infantil, o que na prática depende de maior número de vagas e capacitação contínua dos profissionais da área. No ensino fundamental, já são atendidas praticamente a totalidade das 84 mil crianças de seis a 14 anos, com resultados acima da média nacional na avaliação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

No ensino médio, que é avaliado pelo Enem (Exame Nacional de Ensino Médio), os resultados também estão acima das médias nacional e estadual. O problema é que são atendidos apenas 66% da população entre 15 e 17 anos, o que corresponde a cerca de 50 mil adolescentes. Está claro que temos vários desafios para a educação básica, como criar novas estruturas e melhorar o que já existe, capacitar as equipes para estimular nos estudantes o gosto pela leitura, matemática e ciências.

Esse incentivo passa pelo investimento em laboratórios de ciências, informática e implantação de boas bibliotecas, tornando estes ambientes áreas de estímulo ao aprendizado. Uma alternativa seria criar a rede joinvilense de bibliotecas, com todas as unidades escolares interligadas virtualmente, coordenadas pela biblioteca central. Há ainda a necessidade de se ampliar o tempo de permanência dos estudantes na escola para, no mínimo, seis horas diárias. É importante investir num efetivo sistema de ensino de línguas estrangeiras, possibilitando o real uso de outros idiomas, inserindo os cidadãos na sociedade globalizada. Para tanto, tem que se capacitar professores e equipes pedagógicas para operar este sistema estruturado e integrado, possibilitando a criação de redes de aprendizado, grupos de pesquisa e eventos como feiras de ciências, da leitura, de artes e do empreendedor.

Crescimento econômico e competitividade mundial em alta exigem profissionais cada vez mais correlacionados com o conhecimento e o domínio tecnológico. A formação técnica é a mais adequada para sanar esta necessidade. Em Joinville, temos 8,5 mil alunos em cursos técnicos. É pouco. É necessário triplicar o número de matrículas no ensino técnico, priorizando as áreas onde já estamos em pleno apagão de profissionais. Uma boa alternativa seria ampliar os programas de escola em tempo integral. A ideia seria ter parcerias entre as escolas de ensino médio e técnico para que os estudantes pudessem estudar e se profissionalizar ao mesmo tempo. Vale também incentivar o reequipamento das escolas, a ampliação e a oferta de novos cursos. O reembolso do investimento, neste caso, seria feito por meio da oferta de bolsas a alunos carentes. A exemplo do que ocorre hoje com o Fies, uma alternativa seria financiar a educação técnica para famílias carentes. Incentivos fiscais para empresas aplicarem em bolsas de estudo no ensino técnico, a exemplo do que ocorre hoje com a Lei Rouanet para a área da cultura, poderia garantir a injeção de recursos na área.

A realidade atual exige que a sociedade garanta o acesso ao ensino superior para grandes contingentes. O Plano Nacional da Educação (PNE) expõe a necessidade de termos 30% do contingente populacional de jovens entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior, mas dados do MEC apontam o atendimento de apenas 13% desta população no Brasil. No caso das engenharias, por exemplo, estima-se a necessidade do País formar quatro vezes mais graduados do que forma hoje.

A insuficiente formação científica na educação básica se traduz em baixa motivação para ingresso e alta taxa de evasão no ensino superior nas áreas de tecnologia. Isto é um agravante para regiões com as características econômicas de Joinville. Hoje, entre as principais necessidades regionais, estão implantar o campus da UFSC em Joinville, com cursos voltados à área de engenharias, reforçando a competitividade de toda a economia regional e atendendo ao papel de fomentar as vocações regionais. Desburocratizar e criar isenção de impostos para importação de equipamentos de laboratórios para o ensino e pesquisa. Ocupar as vagas já disponíveis, que representam mais de 20% do total, criando o Voucher Educação , por meio da aquisição de vagas pelos governos federal, estadual e municipal em instituições privadas.

Mais profissionais nas áreas de ciência e tecnologia, consideradas áreas prioritárias para o desenvolvimento do País, também são necessários em Joinville. O desenvolvimento científico e tecnológico da cidade passa ainda pela criação de programas que estimulem a formação de especialistas, mestres e doutores, que fomente a pesquisa aplicada, que adeque os laboratórios das instituições de ensino e pesquisa.

Atualmente, temos em Joinville somente sete programas de mestrado e um programa de doutorado, todos somando aproximadamente 300 vagas, patamar aquém das nossas necessidades. Está claro que o desafio é buscar a independência cientifica e tecnológica nas áreas estratégicas, criar incentivos fiscais para bolsas de pesquisa destinadas a colaboradores de organizações de todos os setores da economia, viabilizando a criação de mais programas de mestrado e doutorado em Joinville. É assim que vamos atender à demanda por profissionais altamente qualificados, estimulando a formação de professores como mestres e doutores, ampliando a qualificação de docentes de todos os níveis da educação.

É importante ainda financiar projetos de pesquisa e instalação de laboratórios em instituições de ensino, cujo reembolso ocorra por meio de oferta de bolsas de estudos a alunos carentes. Vale também estimular o financiamento à pesquisa aplicada, com resultados imediatos para o desenvolvimento social, tecnológico e econômico. A cidade mais populosa de Santa Catarina não pode e nem deve imaginar que o mundo vai nos esperar para atingir bons indicadores educacionais. As oportunidades serão perdidas se não estivermos devidamente preparados para aproveitá-las. Portanto, para vencermos o grande desafio da educação no âmbito mundial, urge planejamento e ação.

AN.com.br

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